O que temos no All Them Witches são alguns riffs clássicos e atemporais com um toque de Blue Cheer, partículas espaçadas de Black Sabbath e Hawkind misturadas a boas doses do aconchego folk. É música tóxica. Daquelas que aos poucos você vai diminuindo os espaços entre as doses e quando percebe já está viciado. Solos densos cheios de fuzz, aquele som de bateria vivo e um timbre de baixo com alto grau de magnitude na escala Richter. É mais ou menos isso que vai ser jogado pra você sob o cumprimento de boas vindas. Mas ainda é pouco para captar a aura criada pela banda.

Contrariando as previsões de fim do mundo, lá em 2012, mais precisamente em Nashville, surgia o All Them Witches. A princípio você pode se pegar fazendo uma conexão direta com a cultura musical daquela região. E quer saber? Isso faz total sentido.

No início, tratava-se de um projeto do Robby Staebler e Ben McLeod (bateria e guitarra) que, em pouco tempo, adicionaram Allan Van Cleave aos teclados e Charles Michael Parks Jr. ao baixo/vocal. Juntos e já com formação definida, seguiram pela trilha do bom uso da psicodelia que compõe parte da personalidade que cada um expressa dentro de suas composições.

Desde o primeiro disco, Our Mother Electricity (2012), o quarteto vem numa evolução constante e confortável dentro do universo folk e das viagens do rock setentista. O belíssimo segundo disco, Lightning At The Door (2013), aumentou a expectativa sobre o próximo passo, já que superar toda estética sombria e carregada deste registro não seria fácil.

Dying Surfer Meets His Maker é o nome de batismo do novo disco e já dá pra adiantar que está bem bonito. Cabe e muito uma menção ao trabalho de produção, que ficou nas mãos de Mikey Allred e McLeod. Grande parte do disco foi gravado ao vivo durante seis dias em uma cabana no Tennessee. O bom gosto na escolha dos timbres também é destaque e cria uma aura rica em texturas que traduzem bem o clima de jam session.

“Call Me Star” abre o disco de forma tranquila, bucólica e tipicamente Americana, mas em um piscar de olhos “El Centro” já entra e te joga contra uma caleidoscópica massa diluída em pouco mais de oito minutos. É a primeira mostra de que a carga emotiva não está, como no álbum anterior, totalmente vinculada à voz de Charles. É daquelas músicas que, quando tocadas ao vivo, a banda deve perder o controle levando o público de carona em uma viagem instrumental preocupada em experimentar cada paisagem do trajeto.

“Dirt Preaches” tem um solo lindo, cheio de feeling choroso. Tá aí a influência do blues e da água de Nashville, e contra um fato desses, não há mesmo o que argumentar. “This Is Where Falls Apart” tem um pegada de storytelling sombrio e faz com que o ouvinte seja parte do processo. A inserção da gaita e um ou outro reverb deixam o passeio pelo blues mais latente. É clima de bar com luz baixa, gosto de bourbon e pouca conversa.

“Mellowing”e “Open Passageaway” funcionaram muito bem dessa forma, na sequência. A primeira serve como introdução para uma carga carregada de alma. É bem bonita. Em “Talisman” Charles consegue aproveitar melhor um timbre mais distante do de costume, o que soa interessante. “Blood and Send/Milk and Endless Water” encerra o disco em clima de narrativa mística com instrumental hipnótico como pano de fundo. Perfeita para ser uma música de encerramento. Fecha o disco com a mesma vitalidade do início.

Ao final, escutamos mais algumas vezes para ter certeza de que Dying Surfer Meets His Maker é realmente um disco muito bom. O All Them Witches é uma banda pra você aí que quer beber um Jack Daniel’s no fim do dia. Ou quer deixar sua mente viajar por uma atmosfera lisérgica com aquele cheiro de mato que acabou de receber a chuva compensatória. Ou ainda pra quem procura a liberdade nos braços do vento. Com esse novo álbum, o All Them Witches consegue ser a banda pra você que está aí sentado frente a uma porta repleta de possibilidades. E pra viagem começar, é só você escolher a sua e abrir.

Tracklist
Call Me Star
El centro
Dirt Preachers
This Is Where It Falls Apart
Mellowing
Open Passageways
Instrumental 2 (Welcome to the Caveman Future)
Talisman
Blood and Sand / Milk and Endless Waters

*Indicado pra quem gosta de: The Sword, Red Fang, The Dodos