NY in 64 Banda equilibra técnica e emoção em instrumental de peso

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É cativante quando surge uma banda com antecedentes até então desconhecidos. Embora nomes como East Of The Wall, the Postman Syndrome ou You and I pareçam familiares, não foram bandas de grande representatividade a não ser em cada um dos universos em que tinham por costume transitar.

O release que recebemos um tempo atrás dizia “New Jersey instrumental hardcore collective”. E é aí que uma banda pode se tornar refém de uma tag mal intencionada. Ou mal utilizada, que seja. O NY in 64 passa longe do que você deve conhecer por hardcore. Eles surfam em uma onda desbravada por bandas como Dub Trio, mas sem o dub. É um lance mais seco e agregador, menos floreado por efeitos e com mais sinuosidade de métrica.

Quando o disco homônimo aterrissou aqui no nosso QG, a julgar pelos primeiros acordes de “Soon You Will Lose Me”, já era nítido que ali tinha aquele “algo a mais”. A banda conquista de cara e de um jeito bem natural, sem forçar a barra ou abusar de artimanhas para se fazer notar.


O quarteto de New Jersey é formado pelos parceiros de longa data Thomas Schlatter e Justin Hock, que nos anos 90 fizeram parte da banda de screamo You and I e estavam há mais ou menos 15 anos sem escreverem nada juntos. A formação traz também Chris Alfano e Seth Rheam, que fizeram parte do East of the Wall. Juntos, os quatro parecem querer ir um pouco além de melodias polivalentes e universais. A viagem aqui é mais concreta e sem forma definida. Aliás, definido aqui é palavra quase em desuso, já que o disco dos caras abusa do equilíbrio entre peso e melodias mais duras e muita forma. Nesse caso, a definição de melodia não esbarra naquelas camadas e mais camadas de efeitos prontamente utilizadas pelas bandas de post rock. Aqui e a melodia parte para outra direção. Mais cadenciada, mas não menos confortante e bela. Uma viagem de quase uma hora que no seu inconsciente dura uns dez ou 15 minutos em um pano de fundo com paisagens concretas.

Eles arriscam passagens entrecortadas que não chegam a ser exaustivas e trazem para o primeiro plano o resultado dessa colisão entre dois universos aparentemente diferentes. A brutalidade ríspida, parte da bagagem de Thomas e Justin, casa com a técnica de veia prog que Chris e Seth trazem em sua expressão musical.


A mistura dá certo e faz sentido. Algumas músicas, como “A Towering Relic”, soam como se tivessem refrão. Na real, fica bem clara a intenção em repetir passagens mais marcadonas para que elas funcionem dessa forma. Essa em questão lembra bem os ímpetos pesados e algumas melodias características do Dub Trio citado anteriormente.

“Maintaining Now, The Contact” tem um andamento memorável, daqueles que, se você estiver numa festa e tocar essa música em alguma playlist, a conversa vai parar e você perguntar ao anfitrião: “o que é isso que está tocando?”.

Talvez seja esse tipo de efeito que a gente tente tanto encontrar e reviver em cada ato de apresentação a uma nova banda ou disco. Não que deva haver alguma cobrança para que as coisas sejam da forma como entendamos que elas devem ser, mas sim que a arte assuma mais o seu papel de surpreender.

E parece que é desse território de horizonte um pouco tortuoso que o NY 64 tira seus nutrientes. É pesado, mas é também emocional. É abertamente complexo, mas solidamente estruturado. E sem querer inventar a roda, esse primeiro disco deixa seu recado de forma quase despretensiosa. É um disco livre. E isso é realmente muito bom.