Noise Rock Juntamos algumas bandas que estão atualizando esse barulho

In Bandas

Entre algumas audições e conversas com alguns amantes do estilo (valeu, Elson!), chegamos a um número legal de bandas que vêm fazendo aquele barulho de que a gente tanto gosta e que costumam chamar de noise rock. Aí você pode perguntar: Tá, mas o que é isso além de barulho? Muita coisa.

O noise em si pode ir do Glenn Branca até o 7 Minutes of Nausea, mas aqui a gente quis fechar somente nos nomes que achamos interessante dentro do noise rock nesses últimos anos. Foi nesse campo que Jesus Lizard, Shellac, Melvins e Sonic Youth deram início a toda uma escola que mais tarde levaria as microfonias ao mainstream.

Entre o punk e o minimalismo, entre a microfonia calculada e o ruído espontâneo, o noise rock passou a ser uma vertente que de tempos em tempos se renova . Alguns novos nomes comprovam a tese de que, para se fazer barulho, há de se saber fazer barulho.

O noise te coloca em uma experiência alta, impactante, provocativa e, claro, barulhenta e melódica. Sim, acredite, existe melodia no barulho, e muita. A ideia aqui é contar para vocês sobre algumas bandas que a gente vem ouvindo e outras que conhecemos há pouco. Se são boas ou ruins, a gente deixa para você decidir depois de ouvir, pois o que realmente importa é a música. E o barulho.

Kal Marks

Freak noise? Pavement ou Pixies sludge? Soa estranho, mas é a nossa tentativa de trazer algumas referências que contem um pouco sobre a ruído desse trio formado em Boston.

A primeira música do último disco deles, Life is Alright, Everybody Dies (2016), vai soar estranhar e pode fazer você questionar: “isso aí é noise rock?” Insista. Na segunda faixa a história já é outra e vem contada com boas doses de peso, gritos e barulho; afinal, é isso que a gente procura. O Kal Marks (nome sugestivo) abraça uma linha do noise rock que foge um pouco dos contratempos shellaquianos e cai mais pro sludge do Melvins e seus parentes mais próximos, com vocais que, quando não estão aos berros, soam displicentes, como se o J.Macis estivesse no fim de uma gripe. Gostamos!

Head Wound City

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Esse já é um nome mais conhecido, mas que surpreendeu todo mundo com o lançamento de A New Wave of Violence, de 2016. A história dos caras se confunde com a de outro nome ainda mais caótico e barulhento, o Blood Brothers, banda que encerrou suas atividades em 2007 e deixou no mundo discos incríveis como Burn, Piano, Island, Burn (2003).

O Head Wound City começou suas atividades um pouco antes do fim do Blood Brothers. Antes do novo disco que citamos há pouco, a banda só tinha soltado um EP homônimo que já trazia tempos tortos, gritos e muito barulho. O novo disco traz Jordan Blilie e Cody Votolato, ambos do Blood Brothers; Nick Zinner, o criativo guitarrista do Yeah Yeah Yeahs, e Justin Pearson e Gabe Serbian, ambos do não menos torto The Locust. Vale muito ouvir Head Wound City e também ir atrás das bandas que deram origem a esse novo, mas nem tanto, barulho bom.

The Austerity Program

Austerity Program

Em um rápido exercício de “localizasom” do Austerity Program, o que vem imediatamente à cabeça é uma fronteira do noise do Big Black com o peso do metal alternativo de medalhões como o Neurosis, mas flertando com a insistência incisiva do industrial do Godflesh, por exemplo. Remeter aos anos 90 nem é um caso de influência, já que o guitarrista Justin Foley e o baixista Thad Calabrese vinham destilando sua aspereza em linhas graves  e riffs distorcidos desde 1992, mas sob o nome Polonium. E o mais legal é que 1+1 viraram trocentos ruídos graças a um disco do Bolt Thrower (The IVth Crusade), que encantou os integrantes. Beyond Calculation (2014), o último disco, é tão incansável quanto sonoramente combativo, mas nossa dica pra você conhecer a banda é a matadora “Song 27”, de 2010.

Pissed Jeans

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Bruto, reto, e como eles mesmos se definem “Pissed Jeans are noisy as a motherfucker and proud of it on this”.

O penúltimo lançamento deles, Shallow, tem algum cacoete de Pixies perdido entre uma microfonia e outra, mas se tem uma banda que esse quarteto formado na Pensilvânia deve ter ouvido muito é o Mudhoney. Sabe-se lá se o fato de fazerem parte da Sub Pop exerça algum tipo de influência sobre eles, mas o fato é que eles adoram um barulho e enchem o peito, ou as guitarras, pra falar isso.

Cosmo Grão

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É considerado noise quando a banda traz gritos ensurdecedores? Ou dissonâncias e andamentos como só o Jesus Lizard sabe fazer como ninguém? Ou será que é noise rock aquelas bandas que conseguem abordar os riffs rasgados e o peso característico do Melvins e contratempos dos mestres Shellac? E se tiver um pouquinho de cada coisa, vale?

O Cosmo Grão vem lá de Recife e cita entre suas influências nomes de peso como Black Sabbath, Sonic Youth, Melvins, Earth e pelo o que a gente teve a chance de presenciar ao vivo, é bem isso mesmo.

Em 2016 eles lançaram Cosmograma como registro de toda essa mistura barulhenta que falamos aqui. Se é peso que você procura, vai na fé.

Soupcans

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A gente conheceu o Soupcans em 2012, ao saber que eles sairiam em turnê com o Metz. “Shocked” mostrou sua impressionante postura pé na porta e, depois de ouvirmos todo o primeiro disco dos caras, Good Feelings, veio uma grata sensação de detritos e corrosões garantidos em toda a experiência. Não era ruído de um minuto só.

A formação sucinta – baixo, bateria e guitarra – , como costuma ser a premissa do noise rock, faz com que o feijão-com-arroz desses canadenses se transforme em milanesa enfarinhada no pedregulho. Tem motor de arranque, tem distorção ilimitada e tem desaceleração paranóica, enfatizada pelos vocais aflitivos de Dave.

Em 2015 saiu o segundo disco, Soft Party. Rolou um tiquinho de polimento no resultado, mas nada que comprometesse a “crocância”.

Wayward

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Taí, esses caras estudaram direitinho e não faltaram em nenhuma aula dos professores Jesus Lizard e Shellac. É a mesma pegada só que não chega a ser tão torto. Apesar de ser focado nesses dois mestres do noise rock, o Wayward também aponta para riffs gordos, vocais gritados e construções mais retas e com tendências nirvanescas.

A banda vem de Baltimore e se a gente pudesse brincar um pouco de filosofar sobre o som dos caras, daria pra dizer que é como se 50 pessoas enchessem 50 bexigas com um som diferente dentro de cada uma delas e depois soltassem todas ao mesmo tempo. É, ficou meio bizarra essa comparação, né? Melhor ouvir então. Vai na fé que o barulho é bem bom.

Blacklisters

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Os caras vêm de Leeds Inglaterra, o berço do gótico dos anos 80, e lembram uma mistura de McLusky com Jesus Lizard e uma boa dose de tensão na música em que usam de veículo para gritar, gritar e gritar. Noise rock daqueles que seguem as regras do estilo sem medo de ser feliz. Algumas ambiências cheias de reverb e por vezes travestidas de microfonias, baixo com uma leve distorção, bateria pungente, forte e linearmente preocupada mais com o peso do que com contratempos. A origem é inglesa, mas tem todo um jeitão americano.

O disco, Adult, lançado em 2015, é cheio de tudo que a gente já falou por aqui e gostamos muito, mas o álbum anterior, homônimo, soa mas orgânico e feroz. Ouça “The Sadness of Axl Rose”: grande nome de música e uma boa amostra do som do Blacklisters. Ouça alto.

Pigs

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Se você adora Helmet e tem saudades do Unsane, o Pigs é um jeito de estancar uma parte desse sentimento. Digamos que eles sejam vizinhos de parede do Helmet. Lembram um pouco, mas sem os riffs marcados, com breque, marca registradas dos meninos que surpreenderam o mundo dizendo “olha, é possível tocar de bermuda e fazer um som pesado, criativo e cativante”.

O Pigs foi formado pelo baixista Dave Curran, também responsável pelas quatro cordas no Unsane, e pelo baterista Jim Paradise (Player’s Club, Freshkills, Hellno). O som dos caras é bem direto, como já mencionamos, e sem muita firula, com aquele baixo bem alto e na cara – característica das bandas de noise nascidas já nos 2000.

Rabbits

Rabbits

Com três discos na bagagem e alguns EPs, o Rabbits, trio de Portland, vem sonorizando colapsos em forma de música. Sabe aquela história de “bandas com punch”? Este é o tipo de garantia que você tem do som deles, com a grande virtude de cada música “grudar” na cabeça com facilidade. Bites Rites, disco de 2012, deixa evidente os dois polos de maior trânsito da banda: o noise e o sludge. Entre um e outro, o hardcore comparece como influência indireta, chancelando a tônica explosiva e ríspida das músicas. Não há contenção ou represamento. Recomendado para catarses barulhentas e incansáveis.

So Pitted

So Pitted

É tipo um encontro do noise clássico com o Kraftwerk. É tipo um TAD mais torto e paranóico. É tipo uma banda marcial num chão de pedregulho. As faixas do disco Neo, do So Pitted, são distintas entre si e mostram as possibilidades de versatilidade do noise rock. Tudo possível se pensarmos que a música nasceu para agregar gêneros e mesclar improbabilidades. Viva o hibridismo, parece exclamar, por versos tortos, esse trio de Seattle. Apesar de nossa descrição se apoiar no “tipo isso, tipo aquilo”, o So Pitted se garante ao fundar memórias autorais nos nossos ouvidos.

Whores

whores

Num mar de noise, fica difícil destrinchar cada banda e enxergar identidades individuais. Nos paradigmas de barulho, ruído e distorção, todas exibem este alicerce com tranquilidade. Mas o que vai chamar atenção mesmo são as roupagens acrescentadas à massa disforme. Um solo de guitarra? Uma melodia mais aparente? Uma percussão que parece fora do lugar? A primeira ouvida do Whores acaba enfarinhando a banda no mesmo saco, mas a familiaridade começa a trazer algumas diferenciações. As distorções não são monotemáticas, as chamadas da guitarra dão um respiro necessário e levada da bateria é carregada, duelando com riffs mais stoner que remetem ao Corrosion of Conformity. Não há reinvenção no Whores, mas certamente há muita qualidade.