No alto escalão da safra instrumental, povoado por bandas como Red Sparowes, Russian Circles e Godspeed You! Black Emperor, entre outras, os franceses do Year Of No Light têm lugar cativo e definido.
No site oficial dos caras, o release conta que a banda se formou depois de os integrantes tomarem algumas boas cervejas belgas no fim de um verão.
Mesmo tendo um berço ensolarado, o YONL transpira uma música áspera e fria, e a banda fez das cavernas de sua terra natal, Bordeaux, testemunha de toda essa beleza sonora.
Entre outras propriedades, é latente o equilíbrio que a banda consegue criar entre a velocidade permissiva e a contemplação que serve de alicerce para que eles trafeguem entre o shoegaze, o sludge, o post-rock e todas as suas camadas fique ainda mais interessante. Toda essa comunhão de elementos farão você emergir em uma viagem sensorial quase tátil, regada a novas descobertas a cada ouvida.
A banda veio ao mundo em 2001, formada por Johan Sébenne, Bertrand Sébenne, Jérôme Alban e Christophe Mora. Desde então, conquista gradativamente um lugar de destaque, embora muitas vezes somente pelos olhares e ouvidos mais atentos.
Fato curioso é que o YONL era pra ser apenas um projeto paralelo das bandas Fingerprint e Undone que, somente após um ano de ensaios, virou prioridade. Para nossa sorte, é a velha e clássica história do projeto que virou banda principal.
Em 2003, Julien Perez ocupou o posto de vocalista, dando um ar mais caótico às composições. No ano seguinte, o YONL gravou a primeira e elogiada demo tape. Pois é, havia ainda um resquício cultural de gravar uma demo antes mesmo do primeiro registro em disco.
Nord, o primeiro disco, foi lançado em 2006. Nasceu forte, com tudo de que precisava, e como um primogênito de sorte, teve tempo suficiente para que suas músicas fossem compostas e lapidadas – afinal, a banda foi criada em 2001.
Depois de alguns splits com bandas como Nadja, Rosetta e Karysun, o YONL passou por algumas mudanças e firmou sua formação com duas baterias, três guitarras, baixo e sintetizadores. Adeus, vocal.
Pra nós, o grande marco na carreira dos caras é Ausserwelt. Um disco cheio de nuances e com um poder de prender sua audição pouco visto nos dias e nas bandas de hoje. Lançado em 2010, o álbum traz quatro obras. E não pense ser exagero chamar de obras, porque é assim que cada música se apresenta.
Várias e várias camadas constroem um muro de noise que abre o disco. Não demora e tudo isso é dissolvido nas primeiras melodias da maravilhosa “Perséphone I”. Mas não se engane, porque assim que um conforto começa a se instalar com a melodia, riffs gordos e lamacentos trazem de volta toda aquela paisagem cinza que serve de ponte para mais um clima épico e, na boa, é só a primeira música. Não vamos nos estender, ou isso ganharia muitas e muitas linhas. Nosso conselho é: escutem o disco todo.
Ausserwelt é um registro emocionante. Tem aquele poder de nos fazer ficar em um silêncio reflexivo e assume rapidamente o protagonismo de um contador de histórias.
Mais recentemente, em 2013, o YONL soltou Tocsin, um disco que parte para outras tonalidades na paisagem dos franceses. Traz algumas pinceladas mais urgentes e até cantaroláveis.
Não tão avassalador quanto o anterior, mas igualmente belo, Tocsin traz faixas mais pesadas e passeia por melodias igualmente incríveis, o que faz dele um registro, digamos, mais palatáveis. Mas veja bem, em alguns momentos.
No mesmo ano do lançamento de Tocsin, o YONL sonorizou Vampyr, filme de Carl Theodor Dreyer, e o que era uma trilha sonora se transformou em disco. Com pouco mais de uma hora de duração, o álbum chama atenção pelo conceito, mas no quesito musical, confessamos que não agradou tanto.
De novidade, em 2015 o Year Of No Light lançou mais um split dentre tantos em que já colaboraram. Dessa vez, a gravação é compartilhada com outra banda francesa, o Bagarre Générale. São 3 músicas, uma do Year Of No Light, uma do Bagarre Générale e uma terceira com as bandas tocando juntas.
“Sar ha-Olam”, do YONL, traz o lado mais doom metal da banda. A música tem uma atmosfera rígida, com riffs gordos, deixando um pouco de lado as já características camadas de ambientações que a banda sabe fazer com maestria. YONL e o Bagarre aparecem juntos em “Chapelle Ardente”, e é bem interessante a soma do peso shoegazer do Year Of No Light com os metais do Bagarre Générale. Vale conferir.
O universo do Year of No Light é habitado por diferentes formas de expressões artísticas e isso faz deles uma banda com aquele “algo a mais” tão em desuso nos dias de hoje.
