The Ladies Zach Hill (Hella) e Rob Crow (Pinback) unem música torta e melodia

In Bandas, Discos
Vinicius Castro

Rock doidinho, espasmo core, experimental, jazz indie, fusion core. Os danos causados ao nosso discernimento são proporcionais à complexidade de tentar significar algo que envolva a vida e obra de Zach Hill, um dos músicos mais criativos e imprevisíveis da música.

Além da bateria, Zach Hill também frequenta as artes visuais e talvez seja esse o caminho para entender como funcionam os lapsos, camadas e preenchimentos que ele imprime pelas bandas por onde passa, seja no Hella ou do Death Grips. Zach lançou alguns discos solos e também emprestou sua criatividade ao Team Sleep, um dos projetos de Chino Moreno, do Deftones, e para os discos solo de Omar Rodríguez-López, do At The Drive In, e contribuiu com nomes não menos tortos, como o Xiu Xiu.

Em 2006 o baterista se juntou a Rob Crow, do Pinback e do duo grind Anal Trump (trocadilho com a banda de noise Anal Cunt). Juntos, Zach e Rob montaram o The Ladies e gravam um dos discos mais interessantes do rock torto, They Mean Us.

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Foto: Florent

O The Ladies tem uma matemática própria soando livre de qualquer teorema ou fórmula que você já possa ter topado por aí. A dupla constrói um idioma que mistura sujeito e predicado colocando cada um deles em lugares diferentes, de acordo com o humor inspirado pela criatividade dos dois.

Zach Hill é daquele tipo de músico que quando você escuta já sabe quem está por trás daquelas notas. No The Ladies ele pode soar como se estivesse o tempo inteiro em um solo ofegante, o que pode fazer com que ele se auto-isole e não pareça inserido no contexto banda, mas não é o caso. Fica nas mãos de Rob funcionar como uma espécie a de cola e trazer a respiração de volta ao compasso melódico.

Apesar de uma pequena falta de tato com a normalidade, They Mean Us não é um disco de música “cabeçuda”. Pelo contrário. Por vezes soa até bonito e pop, melodicamente falando, muito por conta dos vocais.

Todas as faixas tem certa linearidade, com Zach e Rob conversando de perto e dentro de uma bagunça altamente emocional – mérito de Rob, que é traz riffs melodiosos para acompanhar suas linhas vocais.

Rob Crow The Ladies

Enquanto a maioria das bandas mais experimentais se entrega às indulgências para desenhar caminhos complexos, Rob e Zach fazem o mesmo, porém sem aparentar ter tal pretensão. A coisa aqui soa natural.

Se te falta paciência para músicas mais quebradas, esse é um disco que pode te ajudar a deixar essa ideia de lado: a dupla consegue romper esse campo de força que existe entre o experimentalismo e a música mais palatável. É o caso de “Black Caeser/Red Sonja”, que abre o disco, e “So Much For The Fourth Wall”. Por outro lado, “And Them”, “Recycler 1a” e “Empathy On A Stick” colocam o ouvinte em um lugar onde a exatidão é um conceito incerto e promovem um debate de tempos obtusos sem que isso soe repelente. Mesmo no noise vanguarda de nome incrível “Black Metal In The Hour Of Starbucks”, ou no mantra prog-folk-cool “Mandatory Psycho-Freakout”, o The Ladies continua sustentando uma aura casual sem que isso os afaste de toda técnica e bom gosto.

No fim das contas, They Mean Us é um disco que surpreende quem já conhece os trabalhos de Zach Hill e Rob Crow. Nada no disco parece um trabalho solo de um dos dois, mesmo os vocais de Rob sendo tão marcantes.

They Mean Us é um disco implacável que parece soar inadequado, mas é exatamente isso que faz com que ele soe tão harmonioso.