Entrevista: Levy Seynaeve Wiegedood

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Quando a gente soube que, lá pelos lados da Bélgica, três das mentes mais ativas daquele país estavam prestes a formar uma nova banda que viria a lançar um dos melhores discos de 2015, foi inevitável que esperássemos algo acima da média. Wim Sreppoc (Rise and Fall / White Jazz), Gilles Demolder (Oathbreaker) e Levy Seynaeve (Amenra / Hessian) são os nomes por trás do Wiegedood, um novo projeto(?) que já criava certa expectativa aqui no Sounds Like Us. Não havia muita informação sobre como viria a ser resultado desse encontro até que, no primeiro semestre de 2015, recebemos 
De Doden Habben Het Goed, nome de batismo do primogênito forjado dentro do caldeirão da música extrema contemporânea.

De certa forma, os três integrantes sempre flertaram com o black metal, e nessa nova viagem, a estrada passa pelos medos e raivas da humanidade. De qualidade inquestionável, o disco teve suas primeiras cópias esgotadas em um tempo consideravelmente rápido. É um disco gélido e que parece fazer questão de não se desprender das raízes do estilo sustentando por ambiências que conversam com o black metal francês e estruturas buscadas lá no início dos anos 90, quando as bandas da Noruega chegaram aos ouvidos do público e reestabeleceu uma nova ordem dentro do lado escuro que perdura até hoje. Na época, nomes como Immortal, Darkthrone e Emperor, para citar algumas que ecoam na música dos belgas, colocavam em prática toda a lição disseminada pelos criadores, e Hellhammer, Bathory e Venom. Hoje cabe a bandas como o Wiegedood implementarem toda a rispidez e ferocidade inerente ao estilo. De Doden Habben Het Goed, mostra uma banda consistente e que dá claros sinais de viver confortável no universo amargo do black metal. A gente trocou uma ideia no fim do ano passado com Levy Seynaeve e o resultado é um papo rápido, mas interessante pra quem procura algo de novo na música extrema.

Sounds Like Us: Quem é, quando e como surgiu o Wiegedood? Qual a origem desse nome?
Levy Seynaeve:
A gente começou o Wiegedood por volta de um ano atrás. O nome é um termo em alemão para Síndrome da Morte Súbita Infantil. É uma metáfora de como nós vivemos sem controle sobre os eventos que acontecem com a gente.

Sounds: Podemos dizer que vocês são uma banda de black metal? Como você enxerga o estilo hoje em dia?
Levy:
Sim. Eu acho que a cena black metal é como qualquer outra. Existem bandas boas e outras que são terríveis. Basta separá-las.


Sounds:
As composições de vocês passeiam por melodias características das bandas de metal extremo da França. Mas acho que vocês vão além e trazem novos elementos mais emocionais que enriquece muito a música de vocês. Essa linha de percepção faz sentido pra você?
Levy:
Sim, eu realmente gosto muito das bandas de black metal da cena francesa, como Peste Noir e Celestia, mas nós não nos limitamos a isso. Existem muitos outros tipos de músicas que nos influenciaram, e se elas se encaixarem com o Wiegedood, ficaremos muito felizes em deixar rolar.

Sounds: Parece que o Wiegedood é uma banda mesmo e não um projeto paralelo que sobrevive do nome já reconhecido do Amenra, Oathbreaker ou Rise and Fall. Você tem algum tipo de receio de que uma parte das pessoas possa creditar o possível sucesso de vocês às bandas de origem?
Levy:
Eu não sei se entendi muito bem o que você quis dizer, mas nós não estamos realmente preocupados com o sucesso ou o quanto o fato de nós tocarmos em outras bandas poderia influenciar na percepção das pessoas em relação ao Wiegedood. Honestamente, nós realmente não estamos preocupados com a maneira como somos percebidos pelos demais. O que fazemos é para nós mesmos.


Sounds: Fazer parte de uma banda com uma linha de som mais agressiva é uma maneira de colocar pra fora alguns demônios que viviam aprisionados nas bandas de origem de cada um de vocês?
Levy:
Sim, eu acho que nós tivemos músicas e ideias que não se alinhavam com nossas outras bandas, mas funcionaram perfeitamente para o Wiegedood. Pra mim, é bem legal poder escrever letras e cantar. É algo que sempre me faltava na hora de compor.

Sounds: Durante os anos 90, o black metal teve um crescimento considerável da ala, digamos, mais true. As bandas eram realmente ameaçadoras, o som era mais sujo, mais primitivo em alguns casos. Nos últimos anos me parece que houve um foco maior na estética em detrimento da música. Até onde vai a sua ligação com o black metal e por que o estilo atraiu tanta gente na última década?
Levy:
Comecei a escutar black metal por volta de uns 6 ou 7 anos atrás, quando um amigo recomendou alguns discos pra mim. Isso enriqueceu muito a minha vida, mas é claro que um monte de bandas tendem a focar muito mais na maquiagem do que na música que fazem.


Sounds Like Us: Quais as temáticas abordadas nas letras?
Levy:
Eu realmente não escrevo em cima de temas, mas tudo tem uma certa negatividade em volta, então acho que isso aparece em tudo que fazemos. Eu escrevo sobre o que me incomoda na vida. Sobre a maneira como eu me enxergo e como me incomodo com essa imagem.

Sounds: Uma curiosidade, de quem é a voz presente no final de Onder Gaan?
Levy:
É de Lina Romakhova. Ela trabalha como ilustradora e tatuadora usando o nome de Monstar Alphabet. Ela é de São Petersburgo, Rússia.

Sounds: Você acha que a Bélgica vive hoje uma safra frutífera de bandas de metal extremo?
Levy:
Sim, embora a qualidade da cena varie bastante.


Sounds: Dentro do black metal, quais discos você citaria como os responsáveis por hoje você estar em uma banda como o Wiegedood?
Levy:
Darkthrone – Panzerfaust / Gorgoroth – Incipit Satan / Dissection – Storm Of The Light’s Bane / Peste Noire – Folkfuck Folie / Blut Aus Nord – The Work Which Transforms God. Apenas para citar alguns nomes…

Sounds: Muito obrigado pelo papo e parabéns pelo disco de qualidade e bom gosto que vocês lançaram. Pra finalizar, quais os próximos passos do Wiegedood?
Levy:
No momento nós estamos escrevendo a segunda parte de De Doden Habben Het Goed  e tentaremos ficar em turnê o quanto pudermos, enquanto pudermos.