Pedro The Lion – ‘Phoenix’ Sob altas expectativas, novo disco nos emociona ainda mais

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Um pouco antes de começar a compor, David Bazan, a mente por trás do Pedro the Lion, disse que estava começando a dirigir pelo deserto ouvindo um audiobook da biografia de Tom Petty.

Pouco tempo depois, em entrevista à Rolling Stone, contou que entendeu suas próprias emoções por meio das músicas de Tom Petty, que dizia que suas letras não eram autobiográficas. Mas a filha mais velha de Tom Petty disse que, na verdade, elas eram muito autobiográficas, embora o pai simplesmente não percebesse isso.

Tudo isso diz muito sobre David Bazan, o Pedro the Lion, o novo disco, Phoenix, e sobre a nossa identificação com todos esses pontos.

Mas antes de mergulharmos em Phoenix, é preciso entender que o Pedro the Lion estava parado desde 2006. Durante esse tempo, Bazan montou o Headphones, gravou discos solo, teve o Undertow Orchestra, Overseas, tocou acompanhado de seu violão em algumas casas bem pequenas, e recentemente montou o Lo Tom. E em todos eles, uma ou outra pincelada de Pedro The Lion deixava um nó saudoso sem prazo para se desafazer.

Mas, pouco tempo atrás, Bazan começou a dar sinais de que a falta da banda não era um lamento exclusivo dos fãs. Em um tweet ele escreveu que queria estar em uma banda em tempo integral e que se sentia cansado de tocar e fazer shows sozinhos.

E Bazan parece mesmo ter se reconciliado com o valor de colocar novamente sua música sob o nome Pedro the Lion. Nessa volta, ele encontrou conexões com sua própria história, que resultou em um disco carregado de emoções confessionais.

Não espere um novo It´s hard to Find a Friend (1998) ou Control (2002). O contexto tempo, espaço e coração é outro. A banda é outra. Mas o hiato parece ter feito muito bem a eles.

Para essa nova fase, Bazan convocou Erik Walters (guitarra) e Sean Lane (bateria), ambos músicos do Perfume Genius. Segundo Bazan, ele compôs 80% das músicas. Os outros 20% ele passou para Walters e Lane completarem as composições.

Phoenix conta uma única história, a de Bazan. É delineado pelos assuntos sempre abordados por ele: religião, solidão, conflitos internos em seus diferentes níveis.

Ao Phoenix New Times, ele se questionou “Por que eu tenho toda essa relação mal resolvida com essa cidade?”

O novo disco é sobre a saudades de crescer no subúrbio e as lembranças e marcas que se conectam com o Bazan de hoje. Tudo ruminado em 13 faixas maduras e repletas da honestidade que ele sempre consegue imprimir em suas criações.

Depois da introdução com “Sunrise”, Bazan nos leva de volta a 1981 onde o personagem principal é ele e sua bicicleta amarela. “Yellow Bike” foi o primeiro single de Phoenix e teve sua estreia ao vivo na NPR, em novembro do ano passado. Durante a apresentação Bazan chegou a comentar sobre essa coisa de gravar suas músicas usando diferentes nomes: “Foi uma ideia idiota. Não façam isso”, brincou.

Confessional no melhor formato Bazan de se expor, “Yellow Bike” é delicada e forte sem que isso seja necessariamente partilhado em iguais proporções.

On a desert Christmas morning, 1981
One month shy of six years old
In the valley of the sun
My first two-wheel bicycle stood by the tree
My heart thumping in my chest
Though I’d tried, I couldn’t ride one yet

Na simplicidade de “Clean Up”, Bazan entrega sua voz a notas mais altas, saindo um pouco da sua característica tranquila de cantar, e deixa claro que cada um de nós é responsável por nossos erros, assim como também é nossa responsabilidade consertá-los e seguir em frente.

“Quietest Friend” bateu fundo. Emocionou tanto quanto a incrível “Rapture” ou a crescente “A Mind of Her Own”, dos discos Control e Winners Never Quit, respectivamente.

Em primeira pessoa, Bazan parece falar sobre um amigo ou algo do tipo, mas não. Tudo ali é sobre ele mesmo. É uma música linda, e que dói.

Staving off rejection, which always hurt like hell
I took the devil’s bargain, made a stranger of myself…
You don’t have to tell me
How hard it must have been
For you to let me in
Nothing lasts forever
Now I understand
I hurt you again
My quietest friend

Um trovador barroco do nosso tempo. Bazan é um ótimo contador de histórias, e em uma delas ele descreve uma cena em que seu tio, paramédico, atendeu um suicida. É “Black Canyon”, uma sequência sobre alguém que rompeu a esperança e se atirou pra longe dela, sob as rodas de um caminhão.

Tell them your stories
If you carry them by yourself
The gorier the details the more you walk alone in Hell

“My Phoenix” é uma que poderia facilmente estar em Winners Never Quit. Junto a ela, “All Seeing Eye” e “Leaving the Valley” são as encarregadas de fechar o ciclo dessa nova história representativa para Bazan, que reconhece que o que ele precisava mesmo era voltar para um lugar de aconchego. onde ele pudesse se sentir de fato em casa.

How do you stop a rolling stone?
How will you know you’re finally home, finally home
How many canyons will you run
Before your face warms in the sun, in the sun
Before you’re finally home, finally done running

De volta a “Yellow Bike”, Bazan canta que daria seu reino para ter alguém com quem andar. Uma linda luz jogada sobre a importância de termos uma pessoa para dividir nossas vitórias e ajudar na recomposição de alguns cacos.

Num clarão do mais belo insight, podemos dizer que a vida é mesmo esse abandono diário de reinos em favor da nossa escolha de ter alguém para caminhar lado a lado ao longo de todo e qualquer caminho. Bazan parece ter entendido isso.

Foto: Ryan Russell