Uma das maiores injustiças é quando se diz que não há boas bandas novas. Entra ano, sai ano e a gente fica praticamente assoberbado com o tanto de talento que aparece por aí. O mais legal é poder acompanhar a evolução dessas bandas nos anos seguintes. Em 2016, por exemplo, conhecemos o Car Seat Headrest e o Meat Wave e, com o passar do tempo, os discos deles se tornaram favoritos nossos. O Turia, da Holanda, esteve nas nossas descobertas de 2015, assim como o Ralo, e acabam de lançar álbuns muito bons.
E pra manter a tradição, aqui estão os nomes de que mais gostamos de conhecer em 2017. Mais uma vez os gêneros são variados, assim como as origens. A ideia é agrupar esses nomes para ouvir em qualquer época do ano. Esperamos que alguns deles toquem bem alto nos seus ouvidos!
DASHER
Para quem gosta de METZ, Greys e Japandroids
Noise rock ora cru, ora com incursões no shoegaze, mas sempre com urgência. Kylee Kimbrough, que se reveza entre os vocais e a bateria, não tem parcimônia nos versos e gritos rasgados. Em sua companhia, Gary Magilla acentua o baixo e Derek McCain granula riffs em músicas de grande tensão, mas também, entusiasmo. O Dasher saiu de Atlanta para o mundo e Sodium, de 2017, é um grande disco, que aponta para uma banda promissora e capaz de levantar efeitos catárticos das plateias, assim como o METZ. Fica nossa torcida para um show por aqui. Deixe-se capturar por “Sodium” e “Slugg”, para começar.
GHOST WORK
Para quem gosta de Seaweed, Monsterland e Jawbox
Uma das ótimas surpresas de 2017 foi saber que o Aaron Stauffer, dos nossos queridíssimos Seaweed e Gardener, está com banda nova. E ele está muito bem acompanhado de Erin Tate na bateria (Minus the Bear), Dustin Perry no baixo (que era do Snapcase e do Threadbare), e do guitarrista Sean Husick (Milemarker). Enquanto trabalha no disco de estreia, o quarteto soltou a demo Starlight & Blue, com três músicas de aperitivo. Guitarras altas, melodias automaticamente cantaroláveis e peso pontual dão o DNA das faixas. Estamos ansiosos!
MOBLISH
Para quem gosta de: GBH, Siege e Discharge
Hardcore crust imprudente, barulhento e maravilhoso vindo direto do nosso querido Canadá. A música do Moblish traz toda urgência necessária do punk/hardcore, mas para tentar aproximar um pouco mais, tente imaginar impetuosidade do Disrupt somada ao caos d-beat do Discharge. É por aí que o Moblish caminha.
ROME IS NOT A TOWN
Para quem gosta de Pixies, Veruca Salt e Sonic Youth
Um belo agrado desse 2017. O Rome is Not a Town vem da Suécia, mais especificamente de Gotemburgo, e o que elas fazem é simplesmente trazer para a superfície a estrutura do espírito presente nas bandas da primeira metade da década de 90. Riffs simples, equilibrados, belas melodias, alguns ruídos pertinentes, refrãos fortes e o carimbo das college bands.
UNWAVE
Para quem gosta de Faraquet, Medications e Shellac
Banda interessante vinda de Leeds, capital da onda gótica da década de 80, mas que em nada lembra o estilo oriundo daquela região. Os caras se definem como more or less post hardcore. E faz sentido. É nítida a influência de Devin Ocampo nas linhas de voz do Unwave, mas musicalmente, é como se o Faraquet fosse um pouco mais progressivo e o Medications não tão melódico.
RASTILHO
Para quem gosta de Disrupt, Catharsis e Discharge
O Rastilho traz toda a raiva e urgência de nomes que edificaram o punk/hardcore com uma dose de dramaticidade caótica nas composições que dão um tempero diferente ao som da banda. O primeiro lançamento deve chegar nesse 2018, mas antes disso você já consegue ouvir duas músicas lançadas no fim do ano passado pra ter uma ideia do que vem por aí. Crust punk até o osso.
FRAMEWORKS
Para quem gosta de Thursday, Touché Amoré e Planes Mistaken for Stars
A impressão é de que o Frameworks deve ser uma banda que acontece mesmo é no palco. Smother é um disco que você ouve meio que já enxergando ele acontecendo ao vivo, a cores e em comunhão com um público alterado e entregue tanto quanto a banda. Esse é um disco que chegou pra gente ainda no primeiro trimestre de 2017 e foram várias visitas, mas o mais engraçado é que a gente só decidiu colocar eles nessa lista aos 45 minutos do segundo tempo. O motivo? Algo nele chamava nossa atenção para o que ele ainda poderia oferecer. O Frameworks constrói linhas extremamente melódicas somadas a vocais passionais. Uma equação conhecida, mas que nem todos conseguem solucionar com tanta desenvoltura.
DASH
Para quem gosta de Ex, Ludovic e Dead Kennedys
Taí uma grata surpresa de 2017. O Dash é de São Paulo, e no EP homônimo de 2017, gravado e produzido pelo Bernardo Pacheco, coloca em versos – nem tão versos assim, às vezes quase em palavra falada – denúncias, lamentos e dedos na ferida de situações cotidianas, como a exploração no trabalho ou a opressão nos sistemas de poder. E enquanto capturamos as letras e as tomamos como nossas, por identificação, os arranjos criativamente elaborados lembram a riqueza de expressão de grupos como o Ex e o Nation of Ulysses, que rompiam fronteiras no punk e acomodavam o trompete em suas músicas com a mesma ênfase da guitarra e do baixo.
WITCH TRAIL
Para quem gosta de Amenra, Wolves in the Throne Room e Bosse De Nage
Mais uma maravilha vinda de Bélgica, terra que já deu luz a tantas bandas. O Witch Trail tem suas bases no black metal, mas não ficam presos a isso. A banda flutua por outras terras, adiciona melodias de post alguma coisa e temas sombrios que dão um charme especial à música dos caras. Thole, o mais recente lançamento da banda é facilmente um belo exemplo de como fazer suas influências trabalharem para a sua música e não o contrário.
VEXES
Para quem gosta de Cave In, Deftones e Thursday
Das cinzas do metalcore torto do A Life Once Lost surgiu o Vexes. Os caras soltaram dois singles, ambos lançados nos últimos suspiros de 2017. Diferente da geometria empregada no A Life Once Lost, o Vexes procura caminhos mais emocionais calcado em nomes como Deftones, Isis e Cave In, o que, honestamente, nos agrada bem mais.
CHERRY WAVE
Para quem gosta de Echo and the Bunnyman, Slowdive e Ride
Bela dica do Floga-se. O quarteto de Glasgow se assume inspirado pelo shoegaze e pelo punk. De fato, soam bem próximos a isso. A impressão final é de que já ouvimos isso antes e tudo bem. Afinal, é possível produzir boa música sem precisar correr o risco de sair de uma zona de conforto decorada por densas camadas de guitarras em alto e bom som.
BARROWS
Para quem gosta de Red Sparowes, King Crimson e Goblin
Rock instrumental atmosférico? Hum… Pós punk instrumental? As duas chancelas fazem muito sentido pra gente tentar identificar o que esses americanos conseguem transmitir com suas músicas contornadas por uma aura sci-fi. O que o Barrows oferece é uma viagem sem palavras trilhada por uma criatividade sônica que coloca eles em lugar de destaque.
KINDLING
Para quem gosta de Nothing, Neaux, Pity Sex
Dentro do shoegaze as bandas não necessariamente precisam se desdobrar em matemáticas complexas para explorar esse território. O que o Kindling faz é agradável, doce, ruidoso dentro do que se propõe e agradável. É apertar o play e se deparar com camadas e mais camadas de linhas de guitarra que seguem a cartilha original do shoegaze, vocais adocicados e melodias confortáveis.
NECROT
Para quem gosta de Massacre, Bolt Thrower e Autopsy
É difícil aparecer uma banda de death metal que realmente surpreenda e o Necrot parece nem querer muito isso. A impressão é que os caras entenderam as lições básicas dos princípios do metal morte estabelecido por bandas que ajudaram a construir o estilo e imprimiram isso sabiamente no DNA que compõe o som da banda. Dentro do metal extremo, sem dúvidas esse foi um dos grandes lançamentos do ano.
WAKE UP, KILLER
Para quem gosta de This Will Destroy You, Explosions in the Sky e Red Sparowes
Do clima árido vem também um frescor criativo carregado de peso, tensão e a introspecção do post rock que a gente ouve no disco de estreia do Wake Up, Killer. A banda vem de Teresina e constrói suas músicas sobre os mesmos pilares que nomes como Explosions in the Sky, por exemplo. Vale dar uma atenção especial a Wuk!, o disco.
STOVE
Para quem gosta de Headphones, Pity Sex e Tigers Jaw
O Stove é um quarteto bem interessante de Newtown, nos EUA. Sua expressão é lo-fi, mas não como o lo-fi do Beat Happening. É como se usassem mais tintas na aquarela, revezando vocais, distorcendo acordes, pesando os refrãos e trazendo sintetizadores para dentro dos arranjos, em vez de colocá-los nas adjacências. Chegamos à banda pelo EP Is the Meat that Fell Out, de 2016. As primeiras ouvidas insistentemente remetiam ao Fond Han, de que gostamos bastante em 2016, e foi curioso descobrir que ambas as bandas estão sob o guarda-chuva do selo Exploding in Sound, que tem também o Eugene Quell, o Soft Fangs, o Two Inch Astronaut e o Pile no catálogo. A doçura niilista de “Blank” é uma de nossas favoritas e nossa indicação para começar a ouvir a banda.
VENOM PRISON
Para quem gosta de Suicide Silence, Cannibal Corpse e Suffocation
Prepare seu coração e ouvidos para fortes emoções. Animus, último trabalho lançado pela banda, é implacavelmente feroz e em 2017 tocou bastante por aqui. Se você é o tipo de pessoa que vive feliz no universo do metal extremo, essa é uma ótima pedida.
SIAMESE QUEENS
Para quem gosta de Retox, Daughters e Blood Brothers
O Siamese Queens não é uma banda nova, mas a gente só descobriu eles em 2017. Noise rock embebido nos contratempos de nomes como Jesus Lizard e Daughters, o Siamese Queens não existe mais e de suas cinzas nasceu o Animal Youth, banda de pós punk que passou pela última edição do nosso especial sobre o estilo.
EXTREMITY
Para quem gosta de Grave, Autopsy, Bolt Thrower
Mais um grande nome do novo death metal. O som não foge muito dos seus princípios, o que é bom, já que se trata de algo nascido para ser sujo, grosseiro e sem educação. Nesse espectro, o Extremity, gerado nas entranhas da Bay Area, se encaixa muito bem: direto, sem meias palavras e com aqueles timbres lamacentos que os adeptos ao metal morte tanto amam.
FOTOCRIME
Para quem gosta de Sisters of Mercy, Killing Joke, Human League
O Fotocrime é a forma que Ryan Patterson, vocal do Coliseum, encontrou para explorar as paisagens apocalípticas do pós punk feito por nomes como Killing Joke na metade da década de 80. Nada aqui vai soar super novo, mas se você convive bem com o pós punk mais, digamos, mecânico, o Fotocrime vai agradar bastante.
MALLEUS
Para quem gosta de Celtic Frost, Venom, Darkthrone
Se tem algo que nunca é demais ouvir são os ensinamentos do Hellhammer e Celtic Frost disseminados pelo mundo afora. É isso que você vai encontrar no Malleus. Riffs pegajosos, de melodia fúnebre e construídos sob a mais pura simplicidade. Storm of Witchcraft é o nome do único EP lançado pela banda em 2016.