Quem frequentava os shows do nosso submundo tem grandes chances de ter sido impactado por esses caras que fizeram um grande barulho com o seu disco de estreia. O incrível Desespero na Bossa Nova (2002) foi lançado no início uma década que vinha provocando a criatividade e audição de um público que também procurava por bandas que pudessem riscar suas próprias linhas na história do underground brasileiro. Não à toa, surgiram grandes discos como Centelha, do Point Of No Return, a primeira demo do Are You God?, Youkillusweovercome, do Paura e o já citado disco de estreia do Itsari que, pra nós, ainda é um dos melhores discos que pintou pelo nosso submundo.
Naqueles dias, se por um lado grande parte das conversas em comunidades na internet ou em fóruns de música girava em torno dos últimos lançamentos do new metal, por outro havia um grande interesse por uma música com mais frescor e mais, por que não dizer, emocional e catártica. Nessa praia, o Will Haven, Earthtone9 e até o Poison the Well vinham trilhando um caminho que já conquistava alguns corações. Um desses conquistados era Bruno, vocal do Itsari, e em uma de nossas conversas láaaa no inicio dos anos 2000, falávamos sobre essas bandas e do gosto em comum por outros nomes como Sunny Day Real Estate, Asian Dub Foundation, Bad Brains e Portishead. O que essas bandas têm em comum? A entrega, e disso o Itsari entende. Foi o que pudemos comprovar no show que eles fizeram no Kool Metal Fest, no mítico Tribe House, no início da dos anos 2000.
O Itsari no palco era explosivo, emocional e deixou boa parte do público estarrecido com a combustão sonora que eles provocavam. Ao fim da última microfonia do show, corremos para a banca de merch e compramos o CD. Não conhecíamos a banda, nada, nem uma referência. Nosso primeiro contato foi ao vivo e isso fez toda a diferença.
Em 2016 eles voltaram com um novo disco que traz toda identidade edificada por esses anos de existência. Batizado de Stefan Zweig, o novo registro é pesado, áspero e carregado de sentimentos. A gente foi conversar com eles pra saber mais sobre o processo de criação, a gravação e tudo o que envolve esse novo álbum. Mas antes, o que a gente tem a dizer é que o novo disco veio pra esse mundão recheado daquilo que a gente espera: música feita com paixão.
Sounds Like Us: Notícia boa hein, Itsari de disco novo. Vocês sempre tiveram uma preocupação bem legal com as capas dos discos, letras e vídeos. Acreditam que a música precisa ir além dos aspectos sonoros?
Bruno: Sim, estamos muito felizes em poder dar essa notícia. Gostamos muito do resultado final do disco. Tem a nossa cara. Que são muitas, né? (risos). Mas, no que diz respeito ao nosso som, não é mais do mesmo. Sobre a música precisar ir além dos aspectos sonoros, precisar não precisa. Culturalmente, pelo menos para a nossa geração, que cresceu consumindo música via discos de vinil e CD, um álbum vai além da combinação de ritmos e melodias. Como você disse, há também as letras, capa e, eventualmente, vídeos. São várias formas de arte envolvidas. Então, já que todos esses elementos virão juntos à música, que sejam tratados com esmero.
Rafael: Existe uma preocupação por pensar em um produto de qualidade em termos gerais, mas a música tem que falar por si só. Ela é a questão central de nosso trabalho. Não perdemos muito tempo elaborando grandes simulacros visuais para entorpecer os que nos escutam e nem gostamos de vender nossa imagem na internet. Aliás, existem muitas bandas que só existem pela imagem, pelo Facebook, pelo Instagram, mas na hora de subir no palco de blusa preta e se jogar em cima dos PAs ninguém mais faz. Apenas ficam ajeitando suas franjas emo para as selfies de Facebook, essa praga de merda! Mas, nosso trabalho é feito com seriedade e, portanto, quando temos de desenvolver essa parte de comunicação, fazemos o nosso melhor.
Sounds: O nome da banda significa suicídio em finlandês, é isso mesmo? Quando conhecemos a banda a gente poderia jurar que o nome vinha da música do Sepultura… haha. Por que escolheram Itsari?
Rafael: Escolhemos esse nome porque gostamos da sonoridade e pelo fato de ele não ter um significado direto na língua portuguesa. Tiramos ele do disco do Sepultura mesmo e mais adiante descobrimos que em finlandês se traduzia como suicídio, o que encaixava perfeitamente em nossa arte niilista.
Bruno: É, a verdade sobre a origem do nome não tem glamour intelectual algum (risos). O nome só ficou legal para mim depois que um finlandês, que conheceu a banda pela internet na época da demo, entrou em contato conosco para saber se o nome significava suicídio. Aí nós dissemos que sim e seguimos com esse significado.
Sounds: É uma volta da banda mesmo? O que mudou desde o último lançamento, o Imperial? Como tá a banda hoje?
Bruno: Bem, desde que a banda acabou em 2009, estivemos fazendo filhos ou flanando pelo mundo e tocando outras bandas. Eu e o Buzum (ex-baixista da formação original do Itsari) temos o Magnolia’s Devil. Rafael, Duda e Renan (baixista que substituiu o Buzum) têm a Avec Silenzi. Então, entre uma cerveja e outra, em um encontro e outro, fizemos dois shows e meio e, no ano passado, nos reunimos para compor e gravar o álbum novo. Agora, dizer se é uma volta mesmo da banda é complicado. Porque somos nós, né? Fênix suicida, que se consome no próprio fogo e eventualmente ressurge das cinzas. Mas eu espero mesmo que continuemos enquanto der, enquanto os fatores pessoais e as demandas da sobrevivência não atrapalharem.
Rafael: A banda durou oficialmente de meados de 1999 a meados de 2009. Foram 10 anos de trabalho intenso nos quais lançamos o CD demo The Same (2000); o primeiro disco oficial, Desespero Na Bossa Nova (2002), que teve distribuição da Highlight Sounds, de São Paulo; e o segundo disco oficial, Imperial (2007), que saiu pelo selo paulistano Travolta Discos. Então, depois que a banda acabou em 2009, fizemos três shows de reunião com a formação que nos consolidou . Nós três: Eduardo Souza (bateria), Bruno Fernandes (voz) e Rafael Ferreira (guitarra e backing vocal), além do Rodrigo Buzum (baixo). Os shows foram em dezembro de 2012, no Festival Solstício do Som; em fevereiro de 2013, no Grito Rock; e em dezembro de 2014, também no Solstício do Som, todos em nossa cidade natal, Petrópolis, na região serrana do estado do Rio de Janeiro.
Sempre rolava a vontade e a ideia de compor e gravar um novo disco, mas o baixista demorou a se posicionar e dizer que não queria mais tocar na banda. Isso atrasou um pouco o início oficial dos trabalhos, até que em agosto/setembro de 2015 resolvemos voltar com a banda como um trio para, inicialmente, apenas compor novas músicas. Foi o que fizemos. Ficamos cerca de seis meses ensaiando direto e fechamos as sete músicas que compõem o novo disco, Stefan Zweig. Logo após, aproveitamos o embalo e entramos em estúdio para a gravação. Acabamos por fazer tudo como um trio para focar neste processo novo. Quando a gravação terminou, fizemos um teste com um baixista, que não funcionou, e agora estamos para fazer outro e ver se conseguimos finalmente retornar aos palcos para ensurdecer uns caboclos por aí.
Sounds: Explica um pouco pra gente qual é a ideia e como nasceu esse novo disco de vocês?
Rafael: Não temos muito esse lance de conceitos prévios. A gente vai tocando de forma orgânica e não abrimos mão de estarmos 100% confortáveis com as composições, sem pensar em nenhum momento em público ou qualquer outra coisa. Apenas em nossos umbigos e a satisfação pessoal de fazer barulho com uma estética diferenciada, que é natural em nosso som desde que começamos.
Bruno: É. Se há algum conceito em nossos álbuns, ele surge depois, pelo caminho, naturalmente. E ele é mais estético que temático. Ou seja, as músicas podem falar de coisas diversas entre si, mas, num determinado momento do processo de composição, tentamos sentir o que aquelas músicas nos transmitem. Qual a vibe. Esse costuma ser mais ou menos o momento em que definimos um título e ele meio que vai guiar esteticamente todo o restante. Eu posso estar viajando muito (risos), mas é assim que eu sinto se formatar aquilo que se pode chamar de unidade estética de tudo o que envolve um lançamento nosso, se é que essa unidade existe de fato.
Rafael: O disco chama-se Stefan Zweig, em referência a um escritor austríaco que morou em Petrópolis e se suicidou com sua esposa numa casa onde, hoje em dia, funciona um museu em homenagem a ele. Tivemos essa ideia por gostarmos de temas que permeiam o local de onde viemos.
Bruno: É, sempre acaba sendo algo relativo à nossa cidade. É uma expressão, pelo menos para mim, de amor e ódio por ela.
Sounds: Como foi o processo de composição e gravação? Demorou muito? Onde vocês gravaram, quem produziu…
Rafael: Foi orgânico, tocando juntos numa sala de estúdio, ficamos 6 meses mergulhados nisso. Gravamos o disco no Araras Estúdio, no bairro de Araras, em Petrópolis, com o Vinícius Junqueira, que é baixista dos Mutantes. A produção ficou a cargo da banda e do Vinícius e podemos dizer que estamos satisfeitos com o resultado, porque conseguimos captar uma essência meio punk e crua, sem muita pós-produção por trás de toda a loucura que fazemos.
Sounds: A capa ficou bem legal, quem fez? Tem uma mensagem direta na arte?
Rafael: Ela é um trabalho gráfico em cima de uma foto que retrata a cena do escritor Stefan Zweig e sua esposa Lotte, mortos na cama de sua casa. Quem fez o tratamento foi nosso baterista Eduardo Souza, o Duda. A mensagem é algo na veia da filosofia existencialista de Albert Camus como “Vou-lhe dizer um grande segredo, meu caro. Não espere o juízo final. Ele realiza-se todos os dias” ou “Antes, a questão era descobrir se a vida precisava de ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado.”
Bruno: Não sei se ela tem uma mensagem direta e isso quem poderia te dizer de fato é o Duda, mas para mim aquela foto emblemática, na qual a capa se baseou, tem muito a ver com o quanto é possível suportar conviver com o vazio de que o Zweig falava. Ele escreveu que nada no mundo foi feito para nós e que simplesmente nos puseram (Deus?) num completo vazio. Num trecho, que abre nosso álbum, ele diz que “nada na terra exerce maior pressão sobre a alma humana que o vazio.” Então, é a tentativa de completar esse vazio que nos motiva a viver. Tentamos preenchê-lo com algo que nos faça feliz, como fazer música, escrever, cultivar um jardim etc. Mas quando percebemos que não há como preencher esse vazio, ele também pode nos levar ao suicídio. No caso do Zweig, creio que esse vazio insistente vinha principalmente do fato de estar exilado no “país do futuro”, como ele dizia, e não conseguir, enquanto judeu, vislumbrar o próprio futuro em seu país natal, ora tomado pelos nazistas. E, principalmente, nem ser capaz de fazer algo para mudar isso, apesar de toda influência que ele exercia no meio intelectual europeu na época.
Sounds: Qual a temática das letras desse novo disco? Tem um som que se chama “Fake Till Death”. Achamos interessante esse contexto; fala um pouco disso pra gente?
Bruno: Bem, pode-se dizer que a maioria das letras têm, de um modo ou de outro, a ver com o vazio que o Zweig disse exercer pressão sobre a alma humana, mas são vazios diversos e individualizados. Às vezes é o que sinto, às vezes é o que eu enxergo nas pessoas.
“Fake Till Death”, por exemplo, fala de pessoas que dizem pregar a liberdade, mas que, de fato, procuram preencher sua existência policiando a conduta política daqueles que seriam seus pares ideológicos. É uma crítica aos falsos libertários que muito presenciei nos mais de 20 anos de convivência com o hardcore, coletivos anarquistas e e underground em geral. Tem a ver com aquele povo que faz aquelas tattoos piegas com a inscrição True Till Death, mas suas atitudes são totalmente incoerentes em relação ao que ele prega. Tipo pagar de libertário e ficar vigiando e incriminando a conduta dos seus pares, impondo suas ideias. O lance do anarquista caga-regras. Mais ou menos o que o Biafra falou em “Nazi Punks, Fuck Off!”. Ou seja, verdadeiro porra nenhuma! E se isso é ser verdadeiro, eu prefiro ser falso até a morte. Bem, é isso. Ainda acha o contexto interessante? (risos). “La patro” significa “o pai” em esperanto. O primeiro esboço dessa letra surgiu há mais ou menos uns cinco ou seis anos quando meu pai morreu e, um tempo depois, o pai do Rafael e do Duda também faleceu. Então, logo depois de termos decidido voltar com a banda para compor, no ano passado, minha esposa ficou grávida. Ela fala da paternidade. Cito Augusto dos Anjos novamente (a primeira vez foi em “Crux Decussata”, música do Imperial) para dizer o quanto dói você ter e ser menos (às vezes nada) do que você deseja oferecer ao seu filho. Só que antes eu não tinha filho, então a citação em “Crux Decussata” era meramente uma menção a algo que eu achava que deveria ser terrível para um pai. Agora a citação está embasada na experiência e a hipótese nela contida, é claro, dói mais do que eu podia presumir. Além disso, ela fala de se crescer com a ausência do pai, que é meu caso, mas também é uma promessa para meu filho de que farei de tudo para ele ser quem ele desejar ser.
“122” é o número da linha de ônibus que vai para o bairro da Fazenda Inglesa, em Petrópolis, um lugar muito bonito, cheio de natureza, mas também muito frio, chuvoso e constantemente enevoado. A letra fala, para não perder o costume, do cinza que envolve os tolos que buscam viver seus sonhos e voltam frustrados para o ponto de partida. “Kapitalismus” é a música que, no atual momento de polarização política em que vivemos no Brasil, será considerada discurso comunista. Ela é totalmente inspirada nas bandas de crust/grind com viés político e fala da exploração desumana do trabalho, meritocracia, cultura do consumo. Enfim, questiona a vontade humana de viver num sistema em que você é o que consume, pagando para nascer, para viver e para morrer. E, neste momento da entrevista, os fãs coxinhas do Itsari, se é que há algum, deixam de gostar da banda e nos mandam ir para Cuba.
“Hotel Berlim” fala do Hotel Berlim (risos). É um hotel em Londrina onde nos hospedamos uma vez que tocamos num festival por lá. Era um lugar muito doido que, reza a lenda, havia sido hospício e, em outra época, puteiro e local de rinhas de galo. Então compus usando as várias e inusitadas experiências que tivemos durante essa viagem como metáforas para acontecimentos da vida, mas seria necessária uma entrevista só para explicar cada uma dessas figuras. “Lotte” é inspirada na Charlotte Zweig, esposa do Stefan, que veio com ele para cá e, segundo a versão oficial, suicidou-se com ele. É minha versão sobre essa personagem real, baseada no pouco que consegui descobrir dela. “Cavalos na praia” é um título nada a ver para uma música que fala sobre superexposição nas redes sociais, web stars e a frustração quando se constata que seu estilo de vida só é cool no ambiente virtual. Aquele tipo de vazio que pode induzir ao suicídio, como aconteceu com Zweig, mas, claro, por motivação diferente. Ela foi feita com base em especulações sobre a motivação da morte do Smile, um grande amigo e fã nosso que tirou a própria vida.
Sounds: Vocês vêm de Teresópolis, certo? É uma parte serrana do Rio de Janeiro que não respira muito aquele culto ao corpo, o lance das praias… Vocês acham que o lugar onde vocês moram influencia de certa forma a música do Itsari? Como é a Teresópolis que faz parte do resultado da música que vocês fazem?
Rafael: Somos de Petrópolis [ops, confundimos] e certamente o som da Itsari é um reflexo do tipo de vida que se leva numa cidade com tendências mais frias, com muita chuva e tempo nublado, mas que é linda, cercada por natureza e cheia de mulheres gostosas em tudo quanto é canto. Mas a banda não é fruto somente disso, pois todos nós moramos bastante tempo em outros locais como na capital, Rio de Janeiro, e em outras cidades por aí. O som vem muito de nossas influências como pessoas, que são diversas, mas que contém um espectro forte na contracultura do som mais underground.
Bruno: (Risos) Teresópolis é a cidade de Teresa e Petrópolis é a cidade de Pedro. O Segundo. O Imperador. Cidade Imperial. Um lugar com tudo o que o Rafael disse e, também, a cidade de uma aristocracia falida, que vive de aparências, extremamente conservadora, incapaz de conviver com a diferença e que trabalha contra tudo o que não seja tradicional, cultural e politicamente falando. Muitos certamente ainda torcem pela volta da monarquia. Ter crescido nesse ambiente ideologicamente hostil para um grunge (que era como a playboyzada da cidade nos anos 90 e início dos 2000 chamava qualquer um que não fosse do meio deles e fosse “alternativo”: punk, skatista, metaleiro, cluber etc) também exerce influência no que fazemos.
Sounds: O Itsari sempre correu à margem do que tava rolando quando a banda apareceu. A primeira vez que vimos vocês foi no Kool Metal Fest. Terminou o show e fomos direto na banca de merch pra comprar o Desespero na Bossa Nova, o primeiro disco. Vocês acham que o Itsari explode ainda mais no palco? Nesse novo disco vocês acham que conseguiram trazer ainda mais fidelidade a essa energia que vocês quanto tocam ao vivo?
Bruno: Eu acho que o álbum novo, assim como o Desespero na Bossa Nova, chega próximo à energia dos nossos shows porque são álbuns com gravação mais crua, que priorizam a interpretação e o feeling. Porém, acho que nunca será a mesma coisa, porque, a meu ver, nós explodimos ainda mais no palco sim. Quanto à marginalidade, sempre fizemos música para nós mesmos, sem querer muito agradar a alguém de fora e isso reflete no amálgama que é a nossa sonoridade. Mas que bom que agrada, porque isso permitiu que viajássemos por aí fazendo o nosso som.
Rafael: Ao meu ver todos os discos e os shows apresentam claramente nossa proposta de caos, agressividade e musicalidade. É sempre dessa forma: alto na cara, barulhento e malcriado.
Sounds: A gente vive em uma época de imediatismo. Em uma sociedade com pressa e que vive no superficial. Vocês acham que as pessoas, principalmente no Brasil, estão preocupadas em ler, entender e interpretar as letras das músicas de vocês? Qual vocês acham que é o papel das letras em uma sociedade como a nossa atual?
Rafael: Acho que as pessoas estão preocupadas em tirar selfies e ficar de ativismo fálico no facebook, o papel das letras fica apenas para os letrados e que assim seja.
Bruno: Quem se interessa pelas letras são, provavelmente, os mesmos que estão lendo esta entrevista, que, assim como as letras, é uma forma de saber o que a banda tem a dizer. Porém, o que percebo atualmente é que o interesse pelas letras se dá basicamente para pagar de fã número um de uma banda, cantando as músicas nos shows. Talvez a nossa geração tenha um interesse maior no conteúdo das letras, mas também não são tantas as pessoas que demonstram isso. Por isso, tenho de confessar, já nem me preocupo tanto assim com as letras. Tenho convicção de que o conteúdo lírico do Stefan Zweig é o mais fraco de todos os álbuns do Itsari e estou de boa com isso. Acabo escrevendo para mim mesmo e por obrigação de ter de haver alguma letra. Talvez, por conta dessa “obrigação” o próximo álbum, se houver, seja numa língua imaginária, tipo Sigur Rós, pois nos ensaios já funciona assim enquanto vamos compondo as músicas.
Primeiro faço a linha de voz e depois me viro para encaixar algum conteúdo nela. Mas pode ser, também, que o próximo seja feito todo em português e com temática totalmente política, que é a minha vibe pessoal. Mas acho mesmo que a influência das letras na vida das pessoas é ínfima. É o que vocês falaram da pressa e da superficialidade, além da grande gama de informações a que somos expostos. Ninguém tem tempo sequer para se importar com o que a menina ou o cara da banda têm a dizer, mas a aparência deles é importante. Está no Instagram. Não é como quando eu era adolescente e comecei a gostar de história por causa do Iron Maiden, ou a me interessar por política por causa do Cólera e dos Dead Kennedys. Se nem o Rage Against The Machine mudou o mundo com suas letras, não terei eu essa pretensão.
Sounds: Muito obrigado pelo papo, a gente agradece. Antes de terminar, quais os próximos passos do Itsari?
Rafael: Incluir e ensaiar com um novo baixista e cuspir no público quando voltarmos ao palco ainda em 2016.
Bruno: Nós que agradecemos o interesse do Sounds Like Us por nós. Fiquei muito lisonjeado com o convite, pois gosto muito do site. Gosto muito dessa vibe personalista, da linguagem e do bom ecletismo de vocês. Quanto aos próximos passos, a vontade mesmo era mudar de terreno. Sair das pegadas efêmeras na areia molhada da praia e pisar concreto fresco que se solidificasse depois. Deixar marcas mais duradouras. Contudo, a tarefa atual da banda é voltar aos palcos e tentar não implodir. Tentar não sucumbir uma vez mais (provavelmente a derradeira) às próprias chamas.