O Tears For Fears antes do Tears For Fears

In Bandas, Discos
Vinicius Castro

Quem era a sua banda preferida antes de ela ser a sua banda preferida? Qual é a história, as gravações, o tipo de música que elas faziam antes de definirem suas carreiras da forma como você conhece?

Foi em um desses questionamentos e escavações pelo universo dos bons sons que a gente esbarrou com Acting My Age, disco do Graduate. A banda, formada em Bath, Inglaterra, em 1978, tinha em sua formação a dupla Roland Orzabal e Curt Smith, do Tears for Fears.

Capa de “Acting My Age”

O nome Graduate foi tirado do filme homônimo que, em português, recebeu a alcunha de A Primeira Noite de um Homem. O filme é famoso, tem Dustin Hoffman novinho e o clássico de Paul Simon, “Mrs. Robinson”, na trilha sonora, que nos anos 90 também ganhou uma versão do Lemonheads.

Tendo vivido ou não a infância ou adolescência durante a década de 80, você com certeza guarda num canto afetivo da memória hits como “Woman in Chains”, “Everybody Rules the World”, “Sowing the Seeds Of Love”, “Head Over Heels” (que música linda!) e “Shout”. O fato é que não há como passar ileso ao talento de Roland e Curt quando o assunto é criar obras atemporais do mundo pop. 

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Mas antes dos mullets, das ombreiras e dos brincos de crucifixo à la George Michael, Roland e Curt vestiam ternos respingados pela cultura mod e mantinham uma relação bem próxima com o power pop, a new wave e o ska. Cuidadosamente misturados, todos estes elementos definem o contorno sonoro do Graduate.

Foto: Stephen Buck

Além de Roland (voz, guitarra e teclados) e Curt (baixo, teclados e voz), a banda ainda contava com Andy Marsden (bateria), John Baker (guitarra e alguns vocais) e Steve Buck (teclados e flauta).

O Graduate durou pouco, entre os anos de 1978 e 1981, e teve dois grandes hits, se é que podemos chamar assim. Um deles foi “Acting My Age”, um power pop com tempero de ska e um refrão grudento. Você ouve a primeira vez, quer ouvir a segunda, não resiste em ouvir a terceira e se entrega de vez nas seguintes. É viciante.

A faixa título é a mais legal do disco, mas há outros bons momentos como em “Sick and Tired” e “Happens So Fast”. Isso sem falar no climão Roxy Music de “I See Through You”, e no DNA britânico latente de “Oh U Boys”.

“Elvis Should Play Ska” é outra que merece atenção. É uma das músicas mais legais da banda e carrega uma curiosa história endereçada a Elvis Costello. O baterista Andy Mardsen contou que, no final dos anos 70, “o Graduate era contemporâneo a nomes também influenciados pelo ska, como Selector e Madness, mas não éramos two tone. Roland tinha ouvido uma entrevista do Elvis Costello onde ele disse que todos os grupos ska da época eram simplesmente ‘one hit wonders’ tentando lucrar com o revival mod…”. Em resposta a isso, Roland escreveu “Elvis Should Play Ska”, que saiu no primeiro single da banda, junto com “Julie Julie”.

O compacto single de “Elvis Should Play Ska”

“No Second Troy (Alias Sam)” e “Think of Me”, são as duas tentativas mais radiofônicas do Graduate. “Ever Met a Day” tem uma melodia de flauta (?) esquisita que nos levou direto para “Down Under”, dos australianos reis das FMs brasileiras, o Men At Work. Já a divertida “Bad Dreams” é entregue às estéticas do final da década de 80. Tem cara de trilha sonora da dupla Juba e Lula e sua Armação Ilimitada. É pop açucarado com um refrão que esbarra de leve no new romantic, uma grande aposta dos anos 80.

Roland e Curt só participaram do primeiro disco, que hoje, segundo o site Dangerous Minds, tem sua prensagem em LP cotada a $199,99. O Graduate ainda gravou Ambitions,que, até onde sabemos, nunca foi lançado, mas suas faixas podem ser encontradas na versão estendida de Actinng My Age.

Tanto no visual, como também sonoramente, as coisas mudaram quando Gary Numan apareceu. Em entrevista ao Quietus, Curt conta que houve um aprendizado com o avanço da tecnologia e que o Soft Cell foi uma das bandas que ajudaram a definir o synth pop: “… foi um momento interessante, porque naquela época a tecnologia havia começado a decolar, no sentido de que as baterias eletrônicas e a necessidade de uma banda realmente não existiam mais. Antes disso, sempre tinha bandas espalhadas pelo estúdio, mas Gary Numan mudou tudo isso…”. Ele ainda completa: “Percebemos que queríamos nos concentrar em fazer discos realmente bons, que fossem duradouros”. O resto é a deliciosa história assinada pelo Tears For Fears, que todo mundo já conhece tanto e adora ouvir e dançar.