Jupiterian Videos, fotos e um papo sobre a primeira turnê da banda pela Europa

In Entrevistas, Shows

Fotos: Tyta Montrase

O doom metal é um troço ardiloso que te envolve de tal maneira que se livrar dele passa a não ser uma opção. A angústia e toda a sujeira desenham um ambiente tenso que, entre a distância vazia de um riff e outro, te prende em uma ansiedade paralisante do que virá. O vazio, no caso, é parte de todo universo que o Jupiterian entende muito bem, e sabe trazer para perto de quem procura fazer parte desse mundo repleto de um breu tão denso. Tudo isso acontece nas músicas, no conceito visual e nos palcos.

Em outubro, o Jupiterian levou sua congregação até a Europa e o velho continente pode sentir de perto toda frieza e torpor desses quatro representantes do que há de melhor no doom metal atual. Claro, entre as mais conhecidas, já tivemos o Pentacrostic, com o seu The Pain Tears, lançado no início dos anos 90, mais precisamente em 92, e o Mithological Cold Towers, banda que embarcou junto com o Jupiterian nessa turnê.

Como é esperado, a bagagem da banda volta cheia de boas histórias, novas experiências, shows marcantes e a vontade de fazer tudo de novo. Em uma conversa com o vocalista V, a gente quis trazer mais que uma entrevista e levar até você um registro visual desses shows com vídeos e fotos captados pela Tyta Montrase. Um pacote completo pra você ter uma ideia do que foi a estreia do Jupiterian nos palcos da Europa.

jupiterianSounds Like Us: Antes de mais nada, conta pra gente como se desenhou essa turnê, quem agendou, como rolou o convite e tudo mais…
V: Do dia pra noite, mesmo. Nós tínhamos conversado sobre uma possível tour europeia no começo do ano, mas logo desistimos porque o euro estava muito caro e ficou por isso mesmo. Certo dia eu recebi um e-mail do Dutch Doom Days nos convidado para a edição desse ano. Como alguns dias antes eles tinham anunciado o Mythological Cold Towers no cast, eu falei com eles e começamos a desenhar a tour na semana anterior, já que eles tocariam no Malta Doom um fim de semana antes. Quem agendou a tour fomos nós, entramos em contato com várias pessoas e lugares lá e conseguimos fechar as datas que rolaram na semana.

Sounds: Se compararmos a época clássica do metal no Brasil, é impossível não citar bandas como Vulcano, Mutilator, Sextrash, MX e tantas outras que talvez tenham sonhado em ir tocar fora, mas acabaram não indo. Entre as maiores, Sarcófago e Sepultura são parte das poucas que conseguiram esse feito. Tá mais fácil realizar esse “sonho” de tocar fora do país?
V: Não sei dizer se é uma questão de ser mais fácil, toda banda tem uma série de questões internas mesmo antes de conseguir se resolver e se estruturar pra sair do país. Muitas vezes agendas e interesses não coincidem, o corre e o dinheiro envolvidos não são poucos e o retorno obviamente é baixo. Em segundo, eu acho que a internet facilita o contato mas também torna todas as bandas de alguma forma mais descartáveis. Eu sinto que antes rolava um apego maior pela música e pelas bandas, e as pessoas queriam ver os shows. Hoje tá tudo no youtube e as pessoas dificilmente saem de casa pra ver alguma coisa se realmente não valer a pena. Também me parece que rola meio que um receio das casas de show lá agendarem pra uma banda brasileira pouco conhecida. Digo, já é difícil se resolver com as bandas de lá, ainda mais com uma do outro lado do oceano que ninguém nunca ouviu falar. Envolve muita coisa, mas realmente acho difícil dizer que posso comparar as duas épocas e dizer se está mais fácil. Cada um viveu seu tempo e teve suas próprias experiências como banda.

Sounds: O Mithological Cold Towers é um nome consagrado do doom metal. Como surgiu a ideia de fazer essa turnê com eles? Como foi a convivência entre as bandas? O que vocês acham que o Mithological Cold Towers aprendeu com o Jupiterian e o que o Jupiterian pôde absorver da experiência do Mithological Cold Towers?
V: A ideia surgiu do convite do Dutch Doom Days e foi bem fácil a comunicação entre as duas durante esse período. A convivência não poderia ter sido melhor, cara. Todos nos demos muito bem, inclusive com as esposas do Alan e do Samej, que participaram desde o começo da tour toda e foram parte de ambas as bandas como membros mesmo, sendo tão importantes quanto qualquer um ali. Isso foi muito gratificante. Acho que todos aprendemos muito, mas pra mim foi uma lição de vida estar com aquele pessoal, que tá na ativa há mais de duas décadas e chega hoje com o status de serem os maiores, e nós, ali, formiguinha entre eles.

Sounds: Já é possível mensurar o impacto que o Jupiterian no público dos países em que rolaram os shows?
V: Não dá pra mensurar mas tivemos reviews extremamente positivos. O show da Antuérpia com o Gnaw Their Tongues foi incrível: quando saímos do palco, o público começou a gritar “Obrigado, Obrigado”, e isso foi totalmente inesperado e inesquecível. Tivemos uma resenha sobre o Dutch Doom Days em que o cara nos elegeu como a banda do dia e fez vários elogios ao nosso som e ao show. O interessante é que isso rolou no dia em que tocamos com o Sahg e a Jess and the Ancient Ones, que já são consagrados e têm um puta nome.

Sounds: Teve alguma história bizarra, engraçada, interessante que você queira dividir com a gente?
V: Tiveram várias! Foi uma semana que vamos ter história pra contar por uma vida, mas chegar no Dutch Doom Days foi um sufoco que nunca mais quero passar na vida. Nós tínhamos que sair de Praga, República Tcheca, às 23h do sábado pra pegar o ônibus que vai pra Roterdã (cidade do fest) e chegarmos lá as 13h. Nosso show seria às 15h40 e éramos a primeira… o MCT tocou mais tarde. Mas o ônibus pegou trânsito no caminho e chegamos completamente atrasados na rodoviária de Roterdã. A organização do fest estava tão desesperada que me ligou três vezes no celular, no meu número de São Paulo. Acabamos pegando um taxi, mas o taxista não queria levar nosso equipamento porque era muita coisa, então levamos só as guitarras e o baixo foi em outro carro. Chegando no centro da cidade tava um trânsito parado com gente pra fora dos carros porque no dia tava rolando um jogo de futebol que parou a cidade. O cara deu meia volta e fez um caminho bizarro, e toda hora ele dizia que chegaríamos em cinco minutos e, claro, nunca chegávamos. No fim das contas, entramos na casa de show com a banda antes da gente tocando a última música, então deu tempo de montar tudo, passar o som e tocarmos o set completo… mas até isso acontecer, parecia que o mundo ia desabar e a gente não chegaria a tempo.

Sounds: O quanto uma experiência como essa abre possibilidades no futuro da banda?
V: Nós queríamos com essa tour, que foi curta, viabilizar para o ano que vem uma tour completa. Acho que conseguimos abrir as portas de que precisávamos. Já estamos planejando essa próxima tour, além de conversas sobre outros rolês fora do Brasil mas que ainda vamos amadurecer mais pra podermos falar sobre eles.

Sounds: E quais os próximos passos do Jupiterian? Disco novo, nova turnê à vista?
V: O próximo passo agora é fechar o disco novo, que ainda tem muito trabalho a ser feito porque a tour meio que tirou nosso foco, já que focamos nossos esforços e ensaios nela. Vamos tentar gravar logo no começo de 2017 pra cairmos na estrada de novo, mas agora com uma estrutura mais profissional.

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