Entrevista: Are You God?

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Fotos: Sounds Like Us

A expressão música torta começou a fazer sentido dentro da música extrema em 2000, quando o Are You God? causou a estranheza necessária a uma cena que andava quatro por quatro demais.

O compasso diferenciado era o norte e a criatividade da banda passava longe do normal – vide os shows surpreendentes. Para quem teve a oportunidade de ver ao vivo, a sensação de desconforto com o fim do AYG?, em 2008, era evidente. Para quem não pode fazer parte desse momento, restou cultivar a fé em algum tipo de deus que pudesse um dia trazer esses caras de volta.

O anúncio de um único show na Virada Cultural 2015 veio como tábua de salvação para um público que vinha andando muito “na linha”. A gente passou uma tarde no estúdio A Fábrica de Sonhos, trocando ideia com a banda, vendo e ouvindo uma pequena amostra do que vai ser esse show especial.

Foto: Sounds Like Us

Sounds Like Us: A pergunta que não quer calar: É uma volta?
João: Eu discordo de falar em voltar ou não. Acho que é melhor seguir com o passo de uma lesma. Eu falei sobre isso um pouco antes de acabar a banda. Um cara tem tempo, o outro não queria… é melhor continuar igual uma lesma do que realmente afundar. Não precisa fazer o que fazia antes. Se fizer uma coisa a cada quatro anos, já tá valendo. Não precisa ser daqui a um mês.

Sounds: Tava rolando cobrança de ensaio?
João: No final ninguém quis mais continuar com a banda do jeito que era e aí acabou.

Sounds: Nesse período o Berna já estava tocando no Elma?
João: Eu também toquei no Elma. Ao mesmo tempo em que tocava com o Are You God?.

Foto: Sounds Like Us

Sounds: Foi durante o último ano do Are You God?
João: Acho que era, viu. Não lembro direito.  Acho que o AYG? acabou e ainda continuei no Elma por uma tempo.

Sounds: E hoje, em 2015, dá pra ter a noção do quanto o rolê de vocês já era diferente?
João: Então, acho que a gente não tem essa noção [risos]. Tem quem ache que se fosse uma banda mais tradicional, mais pessoas teriam reparado. Na verdade, não é. Repararam mais por causa das coisas diferentes que a gente fazia.

Sounds: Mas não nos parecia ser um tipo de estratégia. Era um lance de vocês…
João: Era uma estratégia de avacalhar todas as estratégias existentes.

Sounds: Alguma vez vocês se sentiram presos a algum tipo de regra em sempre ter algo diferente nos shows? Vocês acham que nesse meio tempo a galera começou a ir nos shows mais pelas coisas que iam acontecer do que pela música?
João: Acho que sim porque principalmente aquelas mesmas pessoas que iam… Sim, pra continuar, pra ter saco pra ir no próximo e esperar que alguma coisa iria acontecer.

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Sounds: E você acha que foi em detrimento do som? “Vou lá ver o que os caras vão aprontar lá hoje”.
Bernardo: Acho que se a gente fizesse um som besta e fizesse as mesmas coisas, ia dar o mesmo sucesso. Mas, se você ouvir o som, não foi em detrimento do som. Acho que uma ou outra banda (Defront, Western Day) depois da gente fez um bagulho que foi influenciado pelo que a gente fez.

Sounds: Ainda sobre isso, o fato de fazer coisas diferentes nos shows virou um atrativo maior para o público do que a própria música?
João: Acho que não. Tinha bastante show diferente, mudando as músicas, tinha gente que queria ver esse lado. Não o lado “fazer uma piada”. Queria ver o jeito que a gente transformou a música.
Bernardo: Não consigo entender uma coisa em oposição à outra porque, na verdade, na hora de fazer as músicas a gente faz o bagulho mais louco que a gente conseguir e, na hora do show, inventar o show mais louco também. A melhor coisa que a gente conseguir fazer em cada meio.

Sounds: Vocês conseguem nomear isso que vocês fizeram?
Bernardo: Assim, não tem nenhuma banda brasileira que eu escuto e diga “isso daqui vai além do que a gente tava fazendo”. Os caras fizeram outras coisas. Eles conseguiram atingir o thrash anos 80, várias coisas assim. A que todo mundo gosta mais é a coisa mais normal que a gente já fez.
João: Acho que as pessoas gostam mais porque tinha um negócio diferente, que é a intro, e porque foi mais divulgado que os outros. A gente fez uma sequência de shows e conseguiu vender todos os EPs.
Bernardo: Foi muita coisa junta em cima do EP. Se não tivesse as intros, uma boa parte do barulho que ele fez não teria rolado.

Sounds: Musicalmente vocês teriam atingido esse sucesso sim.
Bernardo: Sucesso?

Sounds: Sim! Na nossa perspectiva, sucesso é vocês terem feito o que queriam fazer na hora em que queriam fazer.
Bernardo: Isso. Pra mim é isso!

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Sounds: Vocês chegaram a tocar alguma coisa do split ao vivo?
Bernardo: Não teve nada que a gente não tenha tocado. Quando a banda acabou, as músicas já tinham pelo menos um ano.

Sounds: Tem aí uma memória de os shows do AYG? terem sempre algo surpreendente. Vocês estão preparando alguma coisa especial para o show da Virada?
Bernardo: Se a gente fosse fazer, não iríamos falar.
Sérgio: Se a gente conseguir tocar as músicas já vai ser um grande avanço.

Sounds: Vocês estão pensando em compor alguma coisa nova?
Bernardo: Não tivemos nenhuma conversa mais específica além de fazer esse show.

Foto: Sounds Like Us


ARE YOU GOD? – Virada Cultural 2015
20 de junho (sábado)
Palco TEST / Palco Lixo
Av. Rio Branco, 275 – Centro
São Paulo – SP
20h50