Especial HC/DC: Parte 2 Entrevista Ian MacKaye (Dischord/Minor Threat/Embrace/Fugazi/The Evens)

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Matéria publicada originalmente no site Suppaduppa.
Amanda Mont’Alvão

Não dá para falar da Dischord sem dedicar um “capítulo” especial a Ian MacKaye. O currículo é tão extenso que por pouco não caberia nos 140 caracteres do Twitter: ele é criador da Dischord e esteve à frente das bandas Teen Idles, Minor Threat, Skewbald/Grand Union, Embrace, Egg Hunt, Fugazi e The Evens, sem contar o trabalho como produtor.

Ian é o eixo central não só do hardcore de D.C., como de toda a filosofia DIY (do it yourself). A falta de interesse das gravadoras em produzir o disco do Teen Idles resultou na criação da Dischord quando ele tinha apenas 18 anos. Hoje, a gravadora é um símbolo de negócio sustentável em meio a um mercado voraz por lucro.

Quando percebeu que as aulas de piano não correspondiam à sua musicalidade, Ian aprendeu com o punk que poderia tocar qualquer instrumento. Não fez faculdade e chegou a se perguntar se essa foi uma boa decisão, conforme a antológica entrevista ao Punk Planet. Mas aprendeu, à maneira dele, a dominar as palavras e usá-las para provocar, questionar e agregar. Mal percebeu, e Ian tinha se tornado um líder tão carismático que já sofria um desagradável ônus da liderança: ser mal interpretado (leia-se straight edge).

Por ter insistido em um modelo independente e projetado bandas que sequer conheceriam prestígio, Ian é tido como uma inspiração por muitos, ainda nos dias de hoje.

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Em 40 minutos de conversa por telefone, já que ele estava em turnê quando fui à Dischord, Ian responde com boa vontade a todas as questões e fala sobre os desafios de ter uma gravadora, as dificuldades de lidar com a expectativa de uma banda e uma antiga paixão, o skate.

Sounds Like Us: Oi, Ian, tudo bem por aí?
Ian MacKaye:
 Oi, Amanda. Desculpa eu ter perdido sua visita.

Sounds: Sem problemas! Fui muito bem recebida. Aqui, a Dischord é uma referência. Acho que você já deve saber disso…
Ian: Sim, sim. Estive no Brasil várias vezes e amei. Faz seis anos que o Evens tocou aí e esperamos voltar. Agora está mais difícil porque temos um filhinho, e também tenho muito trabalho por aqui, mas qualquer oportunidade que surgir, eu vou praí.

Sounds: A Dischord está com 32 anos, o que é impressionante. Quais elementos ou pessoas fazem você acreditar que a cena de DC está viva e bem, assim como a Dischord?
Ian: A gravadora foi criada para documentar parte da cena musical que tínhamos aqui em Washington, DC. Acredito que, hoje em dia, a Dischord é muito mais uma gravadora histórica, estamos lidando com bandas que lançaram discos há 30 anos.
Há poucas bandas gravando agora, mas tudo bem, isso faz sentido pra gente. Praticamente toda a cena musical daqui evoluiu e haverá um outro grupo de pessoas fazendo ótima música. No momento, estão todos tentando descobrir que música será essa. Eu não sei, não cabe a mim me envolver tanto, pois um novo movimento requer, se não alguém jovem, pelo menos alguém que seja uma novidade. E as pessoas aqui sabem quem eu sou, então fica muito difícil fazer parte de algo novo ou fora da cena pela qual todos me conhecem.
Mas acredito que, com certeza, haverá outros garotos e garotas abordando e chegando à música e à arte de uma maneira nova. Espero presenciar isso, e sei que essa nova geração é possível. Esse foi o objetivo da Dischord, mostrar que tudo isso é possível. Que essas pessoas não precisam seguir o modo tradicional de fazer e lançar a música delas. Acredito que, na nossa sociedade, há um sentimento geral de que tudo que você fizer deverá passar por uma via comercial. Então talvez a Dischord exista por uma única razão, que é mostrar que, às vezes, você pode fazer música só por causa dela mesmo.

Sounds: É incrível perceber que vocês conseguiram ser extremamente bem-sucedidos quando sequer havia internet. Se vocês pudessem contar com ela para dirigir a Dischord lá nos anos 80, a história da gravadora teria sido diferente? Vocês teriam atingido mais pessoas?
Ian: Não sei, é difícil dizer, essa é uma pergunta completamente hipotética [ele ri]. Eu sempre considerei essas coisas como ferramentas, e o computador é uma ferramenta. Sei que existem muitas pessoas que acreditam que a internet é absolutamente necessária, e que se você tivesse internet você teria feito isso ou aquilo… não concordo com isso. Penso que você não precisava da internet para conseguir um copo d’água, e agora se pode usar a internet para pedir um. Nós, seres humanos, chegamos aqui muito antes dos computadores e sobrevivemos.
Qualquer coisa que eu precisasse mandar, ou se eu não tivesse outra maneira de me comunicar com as pessoas no mundo todo além de telefonemas muito caros ou pelos Correios, apenas com cartas, iria requerer resultados importantes, pois você empreendeu esforço para conseguir aquilo. E acho que, com computadores e internet, não há praticamente nenhum esforço, então os resultados não precisam ser tão importantes. Acredito que as pessoas fizeram uma porção de comunicações que elas desejariam não ter mandado. E essa lamentação não aconteceria se elas tivessem que pegar um lápis, escrever em um pedaço de papel, dobrar o papel, colocá-lo em um envelope, colocar o endereço no envelope, colar um selo, e chegar até os Correios para postar a carta.
É uma questão de fazer uma coisa para que se tenha uma resposta, e com o mundo ficando cada vez mais acelerado e impulsivo, isso muda. Então eu sinto que o esforço extra necessário por causa das diferentes tecnologias deve ter, de certa forma, revelado que aquelas tarefas tinham que ser importantes e que você tinha que levá-las a sério.
Eu sempre digo que as pessoas falam bastante sobre a cena punk americana, e elas dizem quão destrutiva ela era, ou como aquelas pessoas eram tão arruaceiras, ou caóticas, ou violentas, ou niilistas, ou auto-destrutivas, ou drogadas, todos esses termos, e as pessoas falam tudo isso porque é algo sensacionalista, e elas dizem o que o público quer ouvir ou ler.
Mas a história verdadeira é que sim, essas características existiram no começo, mas houve tanta gente que continuou a se identificar com a cena punk que isso demonstra claramente que a cena era importante. Essas pessoas eram apaixonadas pelo que faziam, eram construtores e estavam construindo algo. Você pode ter fundações instáveis ou tempestades, mas você precisa acreditar no que está fazendo. É como eu pensava naquela situação.

Sounds: Imaginando que não houvesse a Dischord, você a criaria nos dias de hoje? Você teria condições para fazer isso na Washington atual?
Ian: Acho impossível responder a essa questão. Sou o que sou. Se eu, no momento atual eu precisasse acordar, olhar ao redor e dizer “oh, devo começar uma gravadora?”, não, eu não o faria, pois a Dischord foi criada para documentar uma coisa que estava acontecendo. O primeiro disco estava documentando o Teen Idles, e a banda já tinha acabado. Tocamos por um ano e acabou. O segundo disco da Dischord é de uma banda que nem estava tocando [era o EP No Policy, da banda de Henry Rollins, S.O.A] e o terceiro, do Minor Threat. Essas bandas tocavam há seis ou sete meses antes que o primeiro disco fosse lançado. A cena estava acontecendo e estávamos tentando documentá-la. Não estávamos tocando nossos discos para criar uma cena. Tenho de ser honesto com você, não sinto, agora em Washington, que haja um sentimento vibrante e novas ideias brotando e as pessoas realmente conectadas. Não vejo isso. Claro que há muita gente talentosa e bandas boas. E claro que sempre existe a possibilidade de algo novo surgir, mas se você me pergunta se eu criaria uma gravadora hoje… eu não faria, não faço, não quero começar uma gravadora. A verdade é que eu sequer gosto da indústria fonográfica, e é por isso que tenho minha própria gravadora [ele ri]. A indústria musical é pérfida e não estou interessado nisso.

Sounds: Tínhamos muitas boas gravadoras independentes nos anos 80, e no começo da década de 90, mas a maior parte delas fechou…
Ian: Assim é a vida. Tudo que está vivo vai morrer um dia, é assim mesmo. E aquelas gravadoras decidiram como elas gostariam de trabalhar. Quando as bandas estouraram, elas expandiram as operações. Mas aí a indústria retraiu e elas já tinham uma operação muito maior. Esse é um problema típico nos negócios. Mas eu nunca penso assim. Sempre considero que, se 100 pessoas querem um disco, não vou fazer apenas uma cópia. Se mil pessoas querem, não vou produzir só 100 cópias. É o que sempre vou pensar, qual o número certo. Sou muito conservador em relação a isso. Não tenho interesse em ser a maior gravadora. Estou interessado em continuar a documentar a cena e várias pessoas têm interesse nessa documentação, então eu tenho uma responsabilidade sobre isso. Por exemplo, o fato de você estar me ligando… isso, pra mim, é uma indicação de que alguém lá fora ainda está interessado no trabalho que faço. Então, tenho uma responsabilidade. E mesmo que o telefone não toque, continuo trabalhando assim. Nunca planejei ter uma gravadora. Eu simplesmente acordo e tenho algo pra fazer todos os dias. E a boa notícia é que eu quero fazer isso.

Sounds: Quais foram as maiores dificuldades ou tempos difíceis enfrentados pela Dischord? Como essas adversidades te ajudaram a ficar mais forte?
Ian: [Ele hesita] Não sei… no começo, não sabíamos o que estávamos fazendo. Mas essa parte é interessante, gosto de descobrir como fazer as coisas. Mas aí houve um momento em que não tínhamos dinheiro suficiente para fazer mais discos e vender aqueles que todos queriam… então, esse foi um desafio. Não me importo com isso, acho ok. Pra mim, não existe uma época mais difícil que a outra. Provavelmente, a coisa mais difícil foi descobrir como trabalhar. Temos várias pessoas que trabalham aqui, o pessoal da Dischord, pessoas que trabalharam aqui por muitos, muitos anos. Eles se transformaram em algo semelhante a uma família. E isso é difícil porque às vezes há problemas com o staff, ou alguma banda está infeliz com alguma coisa… isso é desafiador pra mim. Sei que houve um período de tempo nos anos 90 em que o underground estava ficando gigante e todas essas bandas estavam ganhando uma enorme projeção e as bandas na Dischord – e olha que também queríamos que elas estourassem também – questionavam “como você não conseguiu fazer com que a gente ficasse grande?”. Elas estavam frustradas e nos culpavam. E isso é algo que sempre desaponta, porque você sabe que não há nada que eu queira mais do que ver todo mundo bem-sucedido. Ainda assim, não vamos gravar videoclipes ou adotar práticas comerciais típicas para que isso aconteça. Então isso foi bem frustrante para essas bandas. Isso é difícil. Mas tudo bem, é como as coisas funcionam. Algumas dessas pessoas acabaram indo para outras gravadoras e vendo que a cena se repetia, ou alguns deram certo. É difícil. É um dom poder tocar música. E só porque alguém que você conhece descobriu uma maneira de comercializar a música e obter dinheiro com isso, não quer dizer que o dom tenha sido barateado.


Sounds: Não há muito tempo, havia essa crença de que bandas independentes e pessoas que trabalhassem com uma cena independente passariam fome e o dinheiro faria tanta falta que a cena jamais seria tão boa ou segura quanto em uma grande gravadora. Mas então temos a Dischord e também a Merge Records, e vocês são conhecidos pelo ótimo relacionamento com as bandas e com os empregados. Já conversou com Mac e Laura [Mac McCaughan e Laura Ballance, donos da Merge] sobre as experiências de vocês?
Ian: Claro. Conheci o Mac quando ele era moleque. Muito antes de eles criarem a Merge, toquei com Mac. Ele estudou na Universidade de Columbia com Lydia Ely, que trabalhou comigo. Ele era um grande fã do punk de DC desde o começo, então eu o conheci no começo dos anos 80. E o Fugazi tocou na Carolina do Norte em 1987 e Mac que arrumou o show pra gente. Isso foi antes do Superchunk. A banda dele se chamava Slushpuppies.
E acredito que, se você perguntar a eles, parte da operação da Merge foi muito inspirada na Dischord. Mas eles se tornaram uma gravadora muito maior que a nossa, meu Deus. Mas hoje eles não são uma major, mas as bandas assinadas trabalham com regras de major, com advogados e empresários, e as bandas são como empresas e licenciam os discos pela Merge. Lá você tem o Arcade Fire, que demanda uma operação gigantesca, é massiva. É diferente da Dischord, onde nunca usamos contratos.

Sounds: Nunca? Nem um escrito de forma informal em um papel?
Ian: Nunca. Nenhuma banda tem empresário, e se tivesse, nunca falaríamos com ele, pois estamos lidando é com a banda. E eu não tenho um advogado.

Sounds: E você nunca teve problemas com isso?
Ian: Não.

Sounds: Isso é impressionante.
Ian: Advogados só são relevantes quando o problema chega à Justiça. E a única razão para que se recorra à Justiça é uma disputa por causa de dinheiro, e quando o dinheiro é volumoso o suficiente para que as pessoas queiram brigar judicialmente. Acho que se houvesse alguma disputa por dinheiro na Dischord, eu precisaria de um advogado. Mas, eu não me importo. Não acho que vale a pena. Pense em quanto dinheiro eu economizei em não ter contratado um advogado nos últimos 30 anos… essa não é a relação que quero ter com as pessoas. Sempre trabalhamos com uma parte específica da cena de DC e a premissa é que eles sejam nossos amigos, confiem em nós e não utilizaremos contratos. Tendo dito isso, eu ainda pago royalties para bandas que lançaram discos há 30 anos. Envio um cheque a cada seis meses.


Sounds: Tenho a impressão de que as pessoas, às vezes, são muito cínicas para acreditar apenas nas palavras e na música. Mas você vem provando o contrário há 30 anos.
Ian: É só um trabalho. Dedicação ao trabalho.

Sounds: O catálogo atual da Dischord tem mais bandas novas ou tradicionais?
Ian: De longe, a grande maioria do do catálogo é de bandas históricas. Não temos muitas bandas novas, com exceção de The Evens, Deathfix… mas ajudamos várias bandas novas, pois distribuímos muito do material que não é da Dischord, pertencente a gravadoras menores. Mas a Dischord em si não tem soltado discos novos. A maior parte são relançamentos e demos velhas. Definitivamente estamos nos tornando uma gravadora mais histórica. Tudo bem pra mim, sou feliz fazendo isso.

Sounds: O que você usa para verificar se uma banda está indo bem na Dischord? Você considera o sucesso pelas vendas do disco ou dos shows ou você sequer se preocupa com isso?
Ian: Nem me preocupo. Pra mim, uma banda é bem-sucedida se está tocando feliz em seus shows. Se elas estão felizes naquilo que se propuseram a fazer, isso é sucesso. Não estou preocupado com as vendas de discos. Claro que, se uma banda que lançar um álbum na Dischord e vende 150 discos, então eu não vou gastar US$ 5 mil produzindo mil discos e jogando os outros 850 no lixo. Então, não vou fazer isso. O mundo está lotado de lixo e não precisa de mais. Um disco ou CD que não são ouvidos é uma parte do lixo. Isso é muito sério pra mim. Você pode produzir mais discos, claro, mas vai perder dinheiro. Precisamos ser pragmáticos. O que sempre esperamos é que o investimento feito seja recuperado. Isso seria ótimo. Os verdadeiros motores da Dischord são o Minor Threat e o Fugazi. A maior parte dos outros lançamentos não rende muito dinheiro. Se não fosse o Minor Threat e o Fugazi, a gravadora nem existiria. Quero dizer, não existiria da maneira que é hoje, na qual tenho quatro funcionários aqui. Seria apenas eu, sentado em frente a um computador, despachando os pedidos.


Sounds: Aqui no Brasil, algumas pessoas abandonaram o hardcore ou as próprias bandas por causa da idade. Esse tipo de situação acontece aí em DC?
Ian: Não acredito que isso aconteça. “Abandonar” pressupõe que o hardcore é uma criança, entende? [ele ri]. Eu acho que as pessoas simplesmente movem a vida delas. Quantos anos você tem?

Sounds: 28.
Ian: Certo. Você diria que sua vida evoluiu nos últimos 15 anos? Você é a mesma pessoa de quando era 13?

Sounds: Sim, minha vida evoluiu, mas preservei as coisas de que gostava na época.
Ian: Claro. Mas eu acho que o ponto é: a vida muda toda hora. Acho que as pessoas que acreditam ser necessário se separar de alguma coisa do passado provavelmente tiveram uma relação pouco saudável com ela, pra começar. O que vejo é que as pessoas que faziam parte ou tocavam na cena punk não estão tocando mais. Não acho que elas tenham abandonado a música ou o punk. Acho que estão vivendo a vida delas e, nessa altura do campeonato, a razão que as fazia pertencer a uma banda mudou. Elas têm 40 ou 50 anos hoje, é a vida delas. O que não quer dizer que sejam más pessoas. Também não significam que não estejam próximas umas das outras. Ontem eu estava conversando com uma mulher que era uma figura central do movimento. Ela tocava guitarra numa banda e era muito ativa na cena. Eu não a via há alguns anos, e ainda acho que ela está levando a vida dela muito bem. É uma pessoa fascinante. Então, não acho que ela tenha abandonado alguma coisa. Penso nisso mais como uma tribo. A música reúne as pessoas, saímos juntos e nos conectamos dentro dessa tribo de uma maneira que faça sentido pra gente e dê sentido à nossa vida. A música é, de novo, o que nos une. Com sorte, aquela experiência do passado serviu de base para as demais experiências. Ainda estou envolvido com a ela. O fato de alguns estarem afastados só quer dizer que eles estão se dedicando a algum outro interesse. Não é um caso de abandono, pelo amor de Deus.

Sounds: Te pergunto isso porque você chegou aos 50 anos e fico feliz que tenha insistido.
Ian: Obrigado. Isso coincide com algo que eu queira fazer todos os dias. É esse o trabalho.

Sounds: Você ainda anda de skate?
Ian: Eu ainda me vejo como um skatista o tempo todo, mas não ando mais porque, pra mim, é mais uma atividade social, por causa dos shows. Eu realmente amo andar com os amigos. Andar sozinho nunca foi interessante pra mim. Eu sempre estava com alguém. Andávamos e era uma experiência incrível. Só que eu não ando se não tiver ninguém pra ir junto. E aí, acabei ficando sem andar, apesar de querer. Às vezes eu vejo um tanque de cimento e penso “meu Deus, poderia andar ali”. Não muito longe daqui há uma piscina onde andei diversas vezes ao longo dos anos. Não daria pra andar agora durante o dia porque está cheia de garotos e eu não iria pra lá muito cedo. Mas se tivesse alguém pra me acompanhar, eu iria. Não quero ir sozinho e quebrar meu braço ou algo assim, em um horário como 7h30. Não é uma situação confortável pra mim.


Sounds: Quando foi a última vez que andou?
Ian: Há alguns anos, íamos todos os domingos em um playground que tem ótimos bancos de cimento. Um dos caras quebrou gravemente o pulso, o que o fez prometer não andar nunca mais de skate. E ninguém mais quis andar. E eu lamentei, “nãooo”. Mas é claro que não me livrei do meu skate. Às vezes eu desço a rua com ele. Mas aquela foi a última vez em que andamos de fato.
Uma outra coisa que me impede é que muitos dos skatistas que estão lá atualmente sabem quem eu sou. E não fico confortável de pensar que podem falar “ah, esse cara não é muito bom”. Não quero ser um skatista ou alguém conhecido quando estiver lá. Às vezes, vou ao skate park dar uma olhada e me sinto pertencente àquilo. Mas só de pensar em alguém julgando meu jeito de andar… não é o que quero.

Sounds: Poderia me indicar alguma banda que esteja ouvindo?
Ian: Eddy Current Suppression Ring, da Austrália.