Pós-Punk 5

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Vinicius Castro

Chegamos à quinta edição do nosso especial sobre os desdobramentos do pós punk contemporâneo no Brasil e no mundo. Uma série que surgiu da vontade de compartilhar com vocês as bandas que mais escutamos durante o período de um ano, e em meio a um 2020/ 2021 cruéis, descobrimos nomes incríveis que vêm mantendo essa sonoridade repleta de diferentes sotaques e nuances, ainda muito viva e provendo bons sons.

O pós punk nasceu grudado na explosão do punk da década de 70 e, com o tempo, foi aglomerando especificidades que ajudam a compor seus caminhos. É por isso que a gente acredita que, embora tenha seus pilares muito bem definidos, o pós punk também pode se relacionar com outros universos. E assim, ao apagar das luzes, em meio a muita fumaça, o pós punk segue unindo um pouco de frescor e um tanto de celebração às suas origens.

QUAL


Qual é o projeto de William Maybelline, também conhecido pela sua presença no Lebanon Hanover. O que reluz aqui (luz?) é um ambiente ríspido e resfriado por um massacre denso de beats e synths que abusam, para o nosso gosto, do peso e distorções.

Se em alguns momentos o horror lento e sufocante dá as cartas, em outros, como na incrível “Life in the Mirror”, a música soa como se estivesse sendo tocada no auge de uma balada, com a pista lotada e um breu que anula o senso de direção – “Tecnoid Bloodlust” seria sucesso na Contramão. Alguns momentos também chegam a esbarrar em nomes tipo London After Midnight e Sisters Of Mercy, como em “Insides on the Outside”, que nos remete ao clima de “Flood I”.

Tenebris In Lux foi todo escrito durante a pandemia e tem tudo para estar entre os seus discos preferidos do estilo, caso seu gosto seja pelo lado mais pesado do eletro gótico.

AUTOMATIC

Izzy Glaudini (synths/vocal), Lola Dompé (bateria/vocal) e Halle Saxon (baixo/vocal) formam o Automatic, trio de Los Angeles que conhecemos quando Signal, de 2019, foi lançado.

O Automatic endossa o pós punk minimalista, linear e dançante em certos momentos, e Signals é sobre cada um desses vetores funcionando otimamente bem juntos.

Uma boa dica é ouvir primeiro a Demo do disco, disponível no Bandcamp. Tão interessante quanto o álbum, ela traz músicas como “Too Much Money”, a quase de-evolution “Highway”, e “Humanoid” que soam mais sujas e com um contorno que mistura o punk, o pós punk e a new wave. Isso aproxima o Automatic de bandas como Go-Go’s dos primeiros lançamentos que, a título de curiosidade, foi a razão para o batismo da banda, já que “Automatic” é uma das faixas de Beauty and the Beast, lançado em 1981.

Leia e ouça as bandas das edições anteriores

SHADOW AGE

O Shadow Age, da Virgínia, é bem calcado na atmosfera gótica da década de 80 com tudo o que esta estética oferece: synths, beats dançantes, vocais repletos de camadas, guitarras submersas em chorus e o baixo bem linear. Portanto, se você procura por bandas que estejam tentando reinventar o pós punk, este não é um dos casos, mas o legal do Shadow Age está justamente em não tentarem inventar a roda e sim em colaborar para que ela siga girando com qualidade.

O último registro, autointitulado, data de 2018. Aaron Tyree (guitarra, vocal, teclados), Evan Recinos (bateria) e Ben Powell (baixo) parecem seguir pelo caminho aberto por nomes como Clan of Xymox e um pouco de New Order, como na ótima “Sometimes”.

FACS

O Facs é uma interessantíssima banda de Chicago que em 2020 lançou o ótimo Void Moments, onde há um certo respeito às arestas do pós punk e um conforto em trabalhar com as repetições e as camadas que podem ser geradas a partir delas.

O baixo bem pesado quase sempre é destaque, mas o que acontece em volta de uma aparente mesmice ganha realce por uma sonoridade orgânica, o que em certa medida talvez aproxime o Facs do noise rock.

Embora a sensação seja de já ter ouvido alguns dos elementos que compõem as estruturas do Facs, tanto Void Moments como o mais recente disco deles, Present Tense, trazem algo de fresco na maneira como o trio apresenta esses elementos de forma livre e segura.

HERZEGOVINA

O Herzegovina é um trio formado por alguns integrantes que já conhecidos da música subterrânea brasileira. Mario Mamede foi baterista do Moptop. Já o guitarrista Rafael Crespo tocou em bandas conhecidas do cenário alternativo, entre elas, o Cold Turkey, Polara e Elroy, além do Planet Hemp. O baixista Marcello Fernandes é quem completa a formação do Herzegovina, que em 2020 lançou o elogiado Emergency.

É pós punk cativante de diálogo próximo a nomes clássicos como Siouxie and Banshees, Southern Death Cult e Magazine. Mas nem só das referências clássicas vive o som do Herzegovina. Há também uma gramática contemporânea, como em “In Danger”, por exemplo, que nos coloca de volta no início dos anos 2000, na pista (saudades aglomeração) do Milo Garage tocando em alto volume ao lado de bandas como Walkman e Bloc Party.

É interessante perceber como o Herzegovina equilibra de forma natural doses do pós punk e do rock alternativo sem que isso soe pretensioso ou caricato. Pelo contrário. Emergency é um disco conta muito bem toda essa história.

AUS

Em Berlim nasceu o AUS, banda relativamente nova já que a primeira demo foi lançada em 2018 e o primeiro álbum chegou em um 2020 de distanciamento social e pouquíssimas alegrias.

A estética é crua, sem muito espaço para melodias, com exceção da faixa “Bilderflut”, de instigante acento tribal, e “Kreis”, que ameaça um crescendo, mas fica somente na ameaça mesmo, o que dá um certo charme a ela.

O registro de estreia do AUS é calcado na ausência de qualquer sentimento mais acalorado e isso traz um contorno “monótono” ao disco, algo que pode atormentar ouvidos que não se dão muito bem com a monotonia como busca estética.

Abaixo, a playlist com as bandas de todas as edições.