O espírito punk e a sonoridade noise rock do Rainbow Grave

In Discos
Vinicius Castro

O Rainbow Grave é uma joia do bom barulho. Talvez a banda não seja assim tão conhecida, mas os nomes envolvidos são figuras importantes da música extrema.

A banda foi formada por Nic Bullen que desde muito cedo já se interessava pelo universo do punk. Por volta dos 11 ou 12 anos de idade, ele criou o seu próprio zine, o Anti-Social.

Nic Bullen e Miles “Rat” Ratledge, que também fez parte do início do Napalm Death

Nic também fez parte do comecinho do Napalm Death. Entre as gravações, ele aparece na demo Hatred Surge e no lado A do Scum. Nic também passou pelo Scorn, projeto de Mick Harris, seu ex-companheiro de Napalm Death.

Entre as intenções do Rainbow Grave é possível ouvir algumas já propagadas pelo Swans e o Amebix, nomes comumente mencionados pelos próprios integrantes da banda quando o assunto é tentar ilustrar a sua sonoridade.

Além de Nic, o Rainbow Grave também conta com John Pickering, outra figura com uma biografia bem barulhenta quando o assunto é o punk crust e o grindcore inglês. John fez parte de bandas importantes como o Doom, Sore Throat e o Police Bastard (ouça o disco Traumatized, por favor!). Hoje, ele é parte do Deathfiend, que no passado lançou o discaço Beyond Life.

Nic Bullen

No You, disco lançado em 2019, tem seus pés, mãos e mente fincados no punk em seu estado primal, quando este, ainda sob os gritos de “no future”, caracterizou um tipo de humor descrente de um mundo em cores. A sonoridade é minimalista e obscura, mas é também possível captar alguma etiqueta do noise rock ou do sludge.

Uma negatividade cortante pulsa logo na faixa inicial , “Ten Million Tons Of Shit”, onde o Rainbow Grave dá o tom do peso que No You reserva a partir dali.

I hate your car
I hate your shoes
I hate your pets
I hate your face…

Aos gritos de os gritos de “die… die… die…”, a faixa seguinte, “Suicide Pyramid” também usa e abusa da raiva em meio a uma sonoridade que remete ao noise rock dos anos 90.

Mais adiante o espírito “no future” aparece de forma literal em “Year Zero”, com Nic evocando Johnny Rotten: “there is no future…”. Esta, em seus pouco mais de sete minutos, é a opressão em forma de peso e ruído.

No You é um registro curto. Tem pouco mais de meia hora distribuída em seis músicas. Em comum, todas são costuradas por riffs e andamentos simples e repetitivos, com o baixo em destaque e uma boa carga de agressividade nos vocais, o que contribui com a sensação apocalíptica e descrente do álbum.

John Pickering (guitarra) , James Commander (bateria) e Nathan Warner (baixo)

Mas, ainda que todo registro seja um tanto linear, diria que a já citada “Year Zero” e “Assassin of Hope” são os destaques. Talvez por apresentarem um caminho mais maleável junto ao rígido caos que domina as composições.

Em meio ao mantra “Wish you were dead… dead end”, No You chega ao fim com a mesma intensidade que começou: Mantendo o espírito punk reluzente. Ou, como o próprio Nic explicou em entrevista à época do lançamento: “a intenção era fazer música sem todos os elementos que normalmente fazem uma música parecer popular, atraente, e canalizar um certo tom de negatividade que estava presente no início do punk”. Deu certo. No You é uma pedra bruta que torce pra não ser lapidada.