Entrevista: Michael “Popeye” Vogelsang (Farside)

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O Farside é uma das belas marcas deixada pelo punk rock feito na década de 90. Melodia era um dos mandamentos, mas sempre permitindo que o espírito punk prevalecesse. A impressão é que, com a honestidade que o punk exige, o Farside sempre deixou a música falar por si.

A capa e as músicas de Rigged (94) são emblemáticas em nossas vidas. “Square Onde”, “Audience”, “Kill Me” são marcas latentes em nossa história, mas antes disso o Farside fez bonito com o clássico Rochambeau (92) e deixou saudades com o derradeiro e incrível The Monroe Doctrine (99). Todos registros de um tempo onde música e skate se misturavam com nomes como T.S.O.L, Seaweed, Down By Law, Pennywise, Bad Religion e ajudavam a construir o que hoje são boas memórias e lembranças carinhosas.

O Farside surgiu em 1989, em Orange County, na ensolarada Califórnia. E se nos anos 90 você tinha lá seus 15 anos de idade ou mais, em algum momento esbarrou com o punk rock recheado de melodias capitaneado por Michael “Popeye” Vogelsang, guitarrista e responsáveis pela identidade vocal do Farside.

No dia 17 de maio, Popeye irá desembarcar no Brasil para um show acústico que também contará com a apresentação de Chuck Ragan, do Hot Water Music. No dia seguinte (18) ele também toca ao lado do Hot Water Music, Terror, Hateen e the Mezingers. Mas, antes disso, a gente trocou uma ideia com ele. Popeye foi extremamente simpático, atencioso e contou sobre os discos, as influências e algumas curiosidades sobre a sua carreira solo e com o Farside, esse respeitado nome do punk rock mundial.

Sounds Like Us: No Farside já apareciam algumas gravações com violão, mas como foi pra você trocar os shows com banda para um formato acústico? Era algo que você já planejava?
Michael “Popeye” Vogelsang: Não era uma coisa que a gente tivesse planejado, foi algo que aconteceu gradualmente. Quando nosso guitarrista original, Rob Haworth, escreveu a música “Safe or Sorry”, para o disco Rochambeau, ele achou que ter um violão soaria bem. Depois dessa música, encontramos outras maneiras de colocar violão em algumas outras faixas.

Sounds: O quanto de punk rock existe em um show acústico? Você pode nos contar sobre alguns shows acústicos memoráveis que você já viu?
Popeye: Haha! Bem, sempre gostamos de experimentar e tentar coisas novas. Quando tocávamos ao vivo, houve momentos em que nossos amigos zuavam com a gente por causa do uso de violão, mas a maioria das pessoas parecia gostar daquilo. Na época, dentro da cena hardcore, não me lembro de muitas bandas adotando violões ao vivo, mas muitas delas usavam nas gravações, então não parecia tão estranho para nós.

Sounds: Uma coisa bem interessante na carreria do Farside foi quando vocês gravaram e lançaram um registro pelo selo do Walter Schreifels (Youth of Today/ Quicksand/ Rival Schools), o Crisis Records. Como foi isso?
Popeye: Foi fantástico! Nos sentimos muito sortudos em trabalhar com o Walter e depois termos nos mudado para a Revelation Records. O Walter tinha feito muitas gravações com o [produtor] Don Fury, no estúdio dele em Nova York, e ele queria muito que gravássemos com Don. Aí ficamos em Nova York por uma semana para gravar. Nenhum de nós tinha estado lá antes e foi incrível! Passou muito rapidamente, mas ainda tenho lembranças muito vivas dessa aventura.

Foto: Divulgação

Sounds: Como era o movimento punk rock/ hardcore quando o Farside começou a tocar? Vocês eram amigos de outras bandas?
Popeye: Foi um tempo ótimo! A cena punk e hardcore de Orange County era muito forte e tinha muitas bandas antes do Farside. Ficamos muito felizes de elas terem aberto os caminhos antes de nós e criado uma base sólida. Também fomos muito sortudos por tocar com tantas bandas que estavam por ali. Gameface, Outspoken, Sense Field, Mean Season, Headfirst, Blackspot e 411 são algumas das bandas com as quais fizemos grandes shows e que se tornaram amigas.

Sounds: Consegue se lembrar o que você estava escutando na época em que a banda compôs Rochambeau?
Popeye: Escutei muito hardcore, mas também muitas outras coisas que não são. Todos nós tínhamos gostos muito amplos dentro da música e fomos capazes de trazer uma parte dessas influências para nossas composições. Eu sempre amei os Descendents e lembro de ter ouvido muito Lemonheads, Hüsker Dü, Elvis Costello e Joe Jackson durante aquele tempo. Eu ainda sou um grande fã de todas essas bandas!

Sounds: Rigged, disco que em 2019 completa 25 anos, influenciou uma galera que estava montando banda no Brasil na década de 90. O que esse disco trouxe de importante pra sua vida e como você enxerga ele hoje em dia?
Popeye: Uau!!! Não posso acreditar que fazem tantos anos. Haha! Esse foi o primeiro álbum que fizemos depois que Rob Haworth deixou a banda e Kevin Murphy começou a tocar guitarra. Nas nossas músicas anteriores, Rob tinha escrito quase tudo, mas quando Kevin entrou no Farside, eu e ele começamos a escrever tudo. Era uma banda muito diferente e eu adorava ser alguém capaz de me envolver mais criativamente. Obrigado por dizer que o Rigged foi influente! Fico feliz por não ser considerado um álbum terrível aí no Brasil! Hahaha!

Sounds: Uma coisa interessante é que o Zack De La Rocha (Rage Against the Machine) tocou no Farside um pouco antes de ir para o Inside Out. Como foi a passagem dele pela banda?
Popeye: Zack sempre foi um grande amigo nosso e tocamos com o Inside Out várias vezes antes de ele se juntar ao Farside. O Inside Out gravou um EP que saiu pela Revelation Records, mas depois disso a banda ficou inativa. Ele queria tocar com a gente, então é claro que ficamos felizes em tê-lo na banda! Ele é muito talentoso e ter dois guitarristas realmente melhorou o som do Farside. Depois, quando o EP do Inside Out foi lançado, eles decidiram começar a tocar novamente, sair em turnê, e então foi uma decisão mútua de ele deixar o Farside. Foi triste, mas o bom é que comecei a tocar guitarra e cantar depois que ele saiu, o que eu nunca havia feito antes. Mesmo que ele tenha ficado na banda por um período curto, se Zack não tivesse feito parte do Farside, talvez eu nunca tivesse considerado cantar e tocar guitarra.

Sounds: Como estão os preparativos para tocar no Brasil? Podemos esperar algo de especial para o set list?
Popeye: Eu tô bem animado para tocar no Brasil. Nunca estive aí ou em qualquer lugar da América do Sul. Alguns amigos que já estiveram e me falaram coisas muito boas sobre o Brasil, então não vejo a hora de visitar, fazer novos amigos e explorar São Paulo. Agora, sobre o set list, eu não quero revelar nenhum segredo… hahaha!

Sounds: Pra finalizar, você já chegou a citar o Husker Du como uma grande influência. No Farside, vocês gravaram “End of a Year”, do Embrace… Pessoalmente falando, o que essas bandas representam pra sua vida?
Popeye: Todos éramos fãs daquele álbum do Embrace e ficamos muito felizes e honrados de estar no tributo, especialmente porque era pra ajudar pessoas em situação de rua. Existem tantas bandas que nos inspiraram daquela época. Senti que estávamos fazendo parte de algo muito especial, como um movimento underground secreto de bandas independentes que faziam a música que queriam e não se preocupavam com quantos discos iriam vender. Tipo, se você visse alguém vestindo uma camisa de uma banda hardcore, punk ou indie que você gostasse, você meio que sabia que aquela pessoa poderia ser imediatamente sua amiga. Tudo parecia muito puro e honesto e sempre me senti muito orgulhoso por fazer parte disso.

Sounds: Pra encerrar, você poderia dizer pra gente as 10 bandas que mais te influenciaram? Assim a gente pode montar uma playlist especial para o público conhecer as bandas que te inspiraram.
Popeye: Ok, não por ordem de preferência, mas aqui vão algumas bandas que fazem a minha cabeça: The Clash, The Jam, Elvis Costello & The Attractions, Joe Jackson, Descendents, 7 Seconds, The Lemonheads, Husker Du, Buffalo Tom, Dag Nasty.