Liege (Medialunas) Que música tocou tanto, tanto, tanto, e ainda assim não esgotou seus ouvidos?

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Terceira edição (aeeeee!!!) do nosso especial que nasceu daquela curiosidade em saber dos nossos convidados qual música tocou tanto, tanto, tanto, e que mesmo assim ainda faz um bem danado ao coração e ouvidos. 

Quer um exemplo? “Sweet Child O’Mine”, “Psycho Killer” (fa fa faaaa fa fa fa fafa faaaa), “Nothing Compares 2 U” ou aquela boa e velha “deeeeixe me ir, preciso andaaaar…”, do velho Cartola, que deve resmungar no túmulo cada vez que alguém usa essa música pra se expressar nas mídias sociais. Pura poesia. O fato é que esses e outros hits tocaram em tudo quanto é lugar ou ocasião, e ainda assim, depois de milhares e milhares de repetições, ainda são capazes de nos emocionar.

Desta vez, a resposta veio da Liege. Ela já passou pelo Loomer, Hangovers, atualmente toca no Medialunas e respira e expira o bom e velho rock alternativo. A história é muito boa e vai render alguns risos e boas lembranças. Bom, essa é a ideia.

Quer ver as músicas que já rolaram? O Fernando Augusto Lopes (Floga-se) e o Magoo (Twinpines) também falaram quais são os hits eternos deles. 

“Breed” – Nirvana
(Liege / Medialunas)

Essa foi realmente difícil!

Eu ouvi rádio por um curto período de tempo da minha vida. De 94 à 2003, talvez. Com um hiato que conto mais abaixo.

Sou de 86. Então, de 94 à 97 meu mundo foi embalado por uma coletânea aleatória muito louca, que ia de Shakira a Hanson, de Galla à Spice Girls. E dos boys: dos Venga Boys aos Backstreet Boys. Podia poupá-los disso, mas né, realmente fez parte. No meio dessa miscelânea toda eu ainda ouvia Mamonas Assassinas, e a guitarra do Bento me deu um norte na vida. Acho que a guitarra do Bento foi meu primeiro contato com metal, com distorção, com “peso’, de certa forma.

Lá por 97, o rádio passou a ser algo muito importante pra mim. A aula era um saco. Era realmente um saco. A TV era um saco. Tudo era um saco. Bem, eu era então uma adolescente, óbvio. E tudo aquilo que eu escutava antes virou automaticamente um saco. Que saco! Viver era um saco!

A “Losing My Religion” do R.E.M era sensacional. Ela foi um divisor de águas, pra mim, com certeza. Mas tocou tanto, tanto, tanto que logo eu comecei a achar um saco também. O mesmo se aplica pra “Boys Don’t Cry” do The Cure. Tocava até nos 15 anos das mina da escola, e nas festinhas de carnaval dos clubes. Que saco! Desculpem-me o (Robert) Smith e o (Michael) Stipe. Mas tudo nessa época era um saco! Menos Nirvana.

Depois que eu ouvi Nirvana pela primeira vez na rádio, tudo, durante os mais ou menos 3 minutos de “Breed”, não era um saco. Um saco era quando acabava antes do yeah que vem depois do último she saaaaaaaid, atropelado por uma vinheta da rádio e depois, Legião. Isso era realmente um saco! Logo, ouvir rádio durante o dia se tornou um saco, porque, como só fui começar a ouvir Nirvana depois de, do dia pra noite, me ligar que Backstreet Boys era um saco, me liguei que Nirvana só tocava mais à noite, em uns programas só de rock.

E aí que minha história de amor com a música começou de verdade. Tinha um monte de gente que era legal tipo o Nirvana (ou que queriam ser). Um monte de gente que fazia um som sujo e pesadão e gritava, e não fazia vibratinho irritante na voz. Nessa época, um grande amigo me ensinou duas coisas providenciais pra vida. Dois grandes ensinamentos: andar de skate e colocar fita durex sobre os furinhos das minhas fitas da Xuxa pra poder gravar por cima as músicas que eu quisesse e estivessem dando na rádio.

Minhas fitas, datadas a partir de 97/98, tinham um vasto (e muito louco e eclético) repertório de uma faísca um pouco atrasada. Tinha Pearl Jam (chegava a ter “Even Flow” e Jeremy gravadas 3 vezes no mesmo lado da fita, pra não precisar rebobinar pra ouvir de novo) e também tinha a misteriosa e lendária “PLUSH” do Pearl Jam (QUEM NUNCA?!) Foo Fighters, Soundgarden, L7, Hole, Alanis Morissette (em tempo: “You Oughta Know” foi com toda a certeza uma das 5 músicas que já escutei ao longo desses meus quase 30 anos), Rage Against the Machine, No Doubt, Faith No More, Metallica, Bad Religion, Offspring (pensei muito em falar sobre a “Self Steem” ou “Gotta Get Away” aqui) e por aí vai.

Sim, eu tive a fase do Charlie Brown Jr. também. Eu sou de 86, porra. E os caras andavam de skate. Meu universo era do tamanho do meu quarto. Dá um desconto! Eu avisei que o conteúdo era eclético e muito louco.


O lance é que, depois que descolei um discman, as coisas começaram a mudar. Tinha o Ten do Pearl Jam que ouvi até furar (primeiro CD que comprei. E único, por um bom tempo. Eu tava na sétima série. Custava 29,90! No way). Depois, o amado Jagged Little Pill (até meu pai sabia cantar todas as muúsicas). Depois o Nevermind e o Incesticide. Depois um disco ruim da porra, um ao vivo do Soundgarden que custou R$ 5,00 num bricão na Borges em Porto Alegre, alguma coisa ULTRA RARE TRAX. Me senti realmente especial e incalculavelmente COOL sendo portadora de algo que era ULTRA RARE TRAX. Eu não era popular. Mas eu era ULTRA RARE TRAX, mano! Falei pra todos os meus amigos. Ouvimos. E era uma bosta. Era realmente uma bosta. Não se ouvia nada e acho que o Chris Cornell devia estar cantando sem retorno, sem se ouvir nadica de nada. Frustrei. CD era caro, não era pra mim. Faltava um ano pra eu poder começar a procurar estágios. Voltei a ouvir rádio.

O rádio continuava um saco. O que salvou, lá por dois mil e pouco foi o programa Gasômetro, do Gastão Moreira. Conheci muita, mas muita banda do coração por ele. Aqueles que eu jamais ouviria na rádio se não fosse ele. A tchurminha do barulho. Era o único programa na rádio que não era um saco. Em tempo: Obrigada, Gastão! 🙂

Logo depois disso, nesse mesmo comecinho dos 2000, baixar Mp3 durava 6 horas. Esperava-se a meia noite, botava um monte de coisas pra baixar (dicas do Gastão e dos amigos mais velhos). Dinosaur Jr, Sonic Youth, Pavement, Flaming Lips, Fugazi, Black Flag, Bikini Kill, Babes in Toyland e ia dormir. No outro dia: pronto! (a não ser que, claro, a conexão caísse ou faltasse luz). Daí minha vida mudou de novo.

De toda essa história, tem muitas músicas que ainda ouço até hoje como se fosse a primeira vez. Que dá um arrepio na espinha, inclusive. Mas precisei reouvir uma pá de músicas pra conseguir decidir qual, definitivamente, eu poderia dizer aqui. “Breed”, do Nirvana, foi a que me fez lembrar de toda essa história, pra contar pra vocês. She said! (…seguido por um aAaAaAaAtlântida, eternamente, na minha cabeça).