Já andávamos saudosos de descobrir as emoções particulares conectadas aos hits radiofônicos que bem poderiam cansar os ouvidos, mas o efeito é de uma admiração permanente.
Para quem não conhece esta seção, aqui a gente coleta as músicas que tocaram infinitamente, mas que mesmo assim não enjoaram. Nas edições anteriores teve clássico do rock, do pop, de trilha sonora – uma verdadeira seleção para todos os gostos.
E a pluralidade fica ainda mais evidente com nosso convidado da vez, o multitalentoso Vellozo, baixista do Huey e pianista do duo 23:13.
A escolha dele foi bastante surpreendente, mas logo a gente percebeu que também compartilha dela – é uma música de arrepiar, não importam as repetições! Dá uma olhada na resposta abaixo e diz aí se não é contagiante.
Leia também as edições anteriores:
- Fernando (Floga-se)
- Liege (Medialunas / Girls Rock Camp)
- Magoo (Twinpines)
- Ulisses Freitas (Choldra)
- Elson Barbosa (Sinewave Label / Herod)
- Thiago DeeJay (Programa Heavy Pero No Mucho – 89FM)
- Edu Medina (Marafo Records)
- Bruno Kayapy (Macaco Bong)
“Asa Branca” – LuiZ Gonzaga
(Vellozo / Huey)
Resolvi escrever sobre os hits que despertaram em mim a vontade de fazer música. Que me fizeram querer tocar e compor, estar e viver numa banda.
Claro que jamais seria apenas uma música. De “Thriller” (Michael Jackson) a “Creeping Death” (Metallica); passando por “Hallowed Be Thy Name” (Iron Maiden) e “Band on The Run” (Paul McCartney and Wings); sem contar “XYZ” (Rush) e “Enjoy the Silence” (Depeche Mode). De “Nutshell” (Alice in Chains) a “Hells Bells” (AC/DC); de “Stairway to Heaven” (Led Zeppelin) a “Stripsearch” (Faith No More); de “Blue Monday” (New Order) a “Hands of Doom” (Black Sabbath); de “Superstition” (Steve Wonder) a “Lateralus” (Tool); de “Little Wing” (Jimmy Hendrix) a “Lithium” (Nirvana); de “Killing in the Name” (Rage Against the Machine) a “Tiny Dancer” (Elton John) e de “Thunder Kiss ’65” (White Zombie) a “There She Goes” (Bob Marley). Todas elas, e mais algumas, sempre me inspiraram, sempre.
Mas A música que mais me marcou, e à qual eu sempre recorro quando me sinto perdido, sem inspiração alguma, é “Asa Branca”, do Luiz Gonzaga.
Acredito que eu deveria ter uns 5 ou 6 anos quando a ouvi pela primeira vez. Certamente foi num domingo na casa da vó Genoveva (eu amo esse nome), mãe da minha mãe. Aquela coisa pós-almoço, a criançada virada na tubaína e perturbando geral, a leseira dos adultos empanturrados de rango e cerveja, e o programa do Chacrinha, alto pra caraio, na TV de tubo gigante da casa da vó.
É muito raro quando uma música captura a sua alma sem aviso e a leva para um passeio sem roteiro. Os “riffs” e a levada inicial matam a pau e deixam no chinelo muito rock/metal que a galera paga pau.
A letra entra mostrando qual que vai ser: “Quando oiei a terra ardeeendo, com a fogueira de São João. Eu preguntei a Deus do céu ‘Uai, por quê tamanha judiação?’”. Isso já divide o mundo entre as pessoas que vieram para respirar e as que vieram para viver. Tenho muito orgulho de estar na segunda turma mencionada. A melodia e a letra seguem num balanço e equilíbrio perfeitos. Fora que o nome “Asa Branca” é foda demais.
É muito simbólico para mim escrever sobre isso logo após as eleições presidenciais de 2018. Trata-se de uma letra sobre resistência, sobrevivência e esperança. Tudo que provavelmente será muito necessário em 2019.