Ataque Sonoro Armagedom, Garotos Podres, Ratos de Porão e Grinders falam sobre esse clássico do punk

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Lançada em 1985 pelo selo Ataque Frontal e idealizada por Renato Filho (dono da gravadora) e por Redson (Cólera), a histórica coletânea punk Ataque Sonoro só chegou em casa por volta de 88 e foi um disco que deu uma entortada na cabeça de alguém que ainda via o mundo por uma pequena fresta entre os sonhos e a vontade de realizá-los.

Por algum motivo desconhecido, esse é um disco pouco reverenciado quando o assunto é o início do punk no Brasil. Talvez porque não fosse tão início assim, já que o Grito Suburbano foi lançado em 1982, e o SUB e O Começo do Fim o Mundo foram em 1983. Mas isso não faz do Ataque Sonoro menos importante. Pelo contrário, é um registro que mudou a nossa percepção e inseriu de vez o punk no nosso dia a dia.

Foto: Sounds Like Us

Além de nomes já atuantes no movimento punk, Ataque Sonoro trouxe um grande número de bandas para linha de frente do punk, cada uma delas com sua peculiaridade. Era fácil cantar a história narrada pelo Espermogramix em “Trabalhadores Brasileiros”:

Serviço nunca rende
Parece uma batalha
O cansaço sempre aumenta e a hora ultrapassa
Às sete ele larga pra pegar o trem bendito
E a noite ele reza que não seja despedido.

Atual, né? Também presente na história de uma cidade como São Paulo, que acolhe de um lado e desabriga de outro, “Mortos de Fome”, do Armagedom, também sempre foi uma de nossas preferidas e seu refrão já entoado por diversas vezes durante todos esses anos.

Favelas e barracos, Mortos de Fome
Roupas esfarrapadas, Mortos de Fome
Nenhuma expressão, Mortos de Fome
Vidas enganadas, Mortos de Fome

Foto: Sounds Like Us

Tirando o Lobotomia, que vinha ganhando atenção, o Ratos de Porão e o Cólera, que eram talvez mais conhecidas do público, o Garotos Podres já tinha um certo status na cena. Até hoje, “Subúrbio Operário”, gravada anos depois no disco Pior que Antes (88), é um clássico daquele, e do nosso tempo. Especialista em compor hinos atemporais, para o Ataque Sonoro a banda gravou “Anarquia” e “Eu Não Sei O Que Quero”. Ambas já mostravam que o futuro do Garotos Podres seria forjado em uma eloquência lírica e muito respeito dentro do punk.

Para lembrar um pouco de como foram aqueles dias e reviver a importância desse clássico, conversamos com Pobreza, do Grinders; Javier, do Armagedom; João Gordo, do Ratos de Porão, e pra começar, um dos grandes pensadores do punk, Mao, do Garotos Podres.

Mao (Garotos Podres)

Foto: Divulgação

Sounds Like Us: Mao, como rolou a participação do Garotos Podres na coletânea? Quais eram os seus sonhos naquele tempo e o que você queria conquistar com a banda?
Mao:
Estávamos em 1985. Tínhamos acabado de gravar e lançar o nosso primeiro álbum, o Mais Podres do que Nunca. Quem produziu este álbum [Ataque Sonoro] foi o Redson, do Cólera. O Renato Filho e o Redson eram parceiros na Ataque Frontal, e nos propuseram a participação, com duas faixas, na coletânea que eles então estavam idealizando. Deixamos a escolha das faixas por conta deles e até hoje me lembro de onde foi a reunião para acertar dos “detalhes” da participação. Foi numa pastelaria, próximo das Grandes Galerias, ao lado do Largo do Paissandu, no térreo do prédio onde antigamente ficava a Ordem dos Músicos. Lembro de estarem presentes, nesta ocasião, integrantes de algumas bandas que participaram do projeto. Na época achamos este projeto interessantíssimo. Como éramos aficionados por diversas coletâneas de bandas oi e punks da Europa, achamos que o Ataque Sonoro era uma excelente oportunidade de divulgação de todas as bandas envolvidas.

Sounds: As letras sempre foram um diferencial de vocês, que flutuavam em um território de conscientização e ironias inteligentes dentro de um cenário voltado para a classe trabalhadora, ainda que isso não limitasse o ouvinte a esse nicho. Você acredita que, no caso do Garotos Podres, o formato coletânea foi importante para que vocês conseguissem compartilhar com o público o conteúdo lírico da banda? Você acha que as letras de “Anarquia” e “Eu Não Sei O Que Quero” colaboraram para a criação de um público questionador ou seria exagero enxergar por esse lado?
Mao:
Sempre considerei os Garotos Podres como um instrumento de intervenção política. A banda surgiu durante os últimos estertores da Ditadura Militar e vivíamos um período de ascensão dos movimentos sindicais e populares. Como estudante secundarista, fui testemunha participativa de todo este processo político, e para mim a música nada mais era que uma forma de dar ritmo às ideias. Neste sentido, a gravação do Mais Podres do que Nunca e a participação na coletânea Ataque Sonoro eram fundamentais em nossas atividades, que poderíamos classificar tecnicamente como de “Agitação e Propaganda”. Este álbum e a coletânea contribuíram para ajudar a disseminar a nossa mensagem para os quatro cantos do mundo.

Sounds: Você possui Bacharelado e Licenciatura em História e mestrado e doutorado em História Econômica pela USP, entre outras coisas. Se você contasse isso pro Mao lá de 85, o que ele diria? Até que ponto você pode creditar isso ao punk?
Mao:
Acho que nunca fui muito “normal” (risos). Desde pequeno, era tão “xarope” que gostava de ir para a escola, gostava de estudar, ler, etc… Desde criança comecei a me interessar por História e por Política, creio que de tanto ouvir em casa as intermináveis conversas do Tio Pepe, tio de meu pai, sobre a Guerra Civil Espanhola. Eu ficava admirado diante da firmeza de suas convicções. Adorava quando ele – com a face visivelmente ruborizada e exprimindo um olhar visivelmente incendiário – defendia coisas como o fuzilamento de padres e freiras (risos).

Se voltasse no tempo, acho que não me surpreenderia em ter ingressado na universidade para estudar História, já que desde pequeno eu gostava de tal disciplina e de estudar. Creio que somente ficaria admirado por ter “ido tão longe”, feito pós-graduação. Acho que em 1985 eu acreditaria que conseguir terminar uma graduação já seria de bom tamanho. Não saberia dizer pra vocês até que ponto o meu ativismo no seio do punk rock através dos Garotos Podres pode ter influenciado em minhas opções acadêmicas. Creio que estas opções foram gestadas anteriormente, e poderia citar um pequeno exemplo.

Quando tinha uns 8 anos de idade, estava o meu pai e o tio dele numa de suas intermináveis conversas. Num certo momento meu pai fez algumas críticas negativas em relação à Cuba. Tio Pepe ficou encolerizado. Não apenas rebateu as críticas, como também utilizou-se de um argumento irrefutável dirigido ao meu pai: “Você não pode falar mal de Cuba, porque lá há muitos Galegos, inclusive Fidel, cujo pai é de Lugo”. Resultado: cresci com a convicção de que em Cuba só havia Galegos e que Fidel era alguém familiar, pelo fato de o pai dele ser da mesma província e comarca de meus avós paternos (risos).

Curiosamente, no movimento punk tive contato com pessoas “politicamente moderadas” se comparadas com algumas com quem convivi na infância, em meu seio familiar. Apesar disto, creio que o punk rock contribuiu como oportunidade de poder atuar politicamente, contribuindo assim para a consolidação de minha formação política. Inegavelmente, Ataque Sonoro foi um disco que contribuiu e muito para mudar, ou reformular, estética, política e musicalmente, o pensamento e a visão de muita gente.

Foto: Daniel Silva

Javier (Armagedom)

Em matéria de agressividade e barulho, o Armagedom era uma das bandas que dava aula. Formada em 1982, numa primeira audição, foi uma das mais difíceis de digerir. Mas isso era bom, porque era um barulho provocador e intrigante.

“Super Projetos” e “Mortos de Fome”, registradas a coletânea, são músicas poderosas, daquelas pra gritar a plenos pulmões a cada estrofe. Os caras estão na ativa até hoje, mantendo o nome do Armagedom entre uma das maiores forças punk brasileiro.

Conversamos com Javier, guitarrista da banda, para saber mais sobre esse importante momento da banda e sobre a coletânea que mudou a nossa, e a vida de tanta gente dentro do punk.

Sounds: O Ataque Sonoro é a primeira experiência de vocês em estúdio, certo? Como foi participar do disco e quais lembranças vocês têm da época?
Javier:
Bom, a banda começou entre 1983 e 1984. Em 1984 decidimos ir para o estúdio e fazer uma gravação por nossa conta. Na época, escolhemos o estúdio Eldorado, que gravava em oito canais e tinha um preço bom. Éramos uma banda nova e tudo era novo e difícil; instrumentos, equipamento, grana, tudo era complicado. Mas mesmo assim gravamos uns 12 sons em oito horas, fizemos uma mixagem e partimos para buscar alguém para lançar esse material. Depois de um tempo, o Redson conversou conosco a respeito do Ataque Sonoro. O Lobotomia havia sugerido incluir a gente no disco no lugar do Olho Seco, que havia desistido, e como já tínhamos o material gravado ficou bem fácil. Escolhemos “Mortos de Fome” e “Super Projetos”, e assim entramos.

Acho que a participação na coletânea foi um marco importante na história da banda. Primeiro porque foi o primeiro registro gravado, segundo porque a coletânea teve uma repercussão importante tanto na época como depois. E depois desse tempo todo, é possível ver como esses dois sons repercutem bastante entre a galera. Uma das maiores marcas do Armagedom é o tema de desgraças e miséria que sentíamos no cotidiano do país, assim como a exploração, corrupção e ganância do poder, e muita gente se identificou com as ideias da banda no Ataque Sonoro. É uma marca bem própria que aparece no disco e em todos os trabalhos seguintes. Graças ao Ataque Sonoro,conhecemos muita gente de muitos lugares. Também garças a este disco, conseguimos um selo para lançar o nosso primeiro LP, Silêncio Fúnebre, no ano seguinte. Então foi um dos mais importantes marcos na história da banda.

Armagedom ao vivo no Lira Paulistana, em 1985

Sounds: Na época, dava pra ver que o som de vocês tinha base forte no punk, mas já trazia algumas coisas de metal. Na gringa, bandas como o English Dogs, que logo na sequência do Mad Punx lançou o To the Ends of the Earth, já faziam essa mistura, que não foi muito bem vista por aqui logo de início. Como foi fazer parte de uma coletânea punk em uma época em que os estilos eram muito bem delimitados? Punk era punk, metal era metal, gótico era gótico e por aí vai…
Javier:
O Armagedom era e ainda é uma banda punk. As nossas raízes, os temas, as influências são de bandas originalmente punks. No início, as influências eram bandas como Discharge, Disorder, Chaotic Discord, GBH, Chaos UK, Rudimentary Peny, Eu’s Arse, Terveet Kadet, Riistety. Mas nós ouvimos as mudanças no som de bandas como o Discharge, English Dogs, Onslaught (era uma banda punk), Riistetyt, e isso também nos influenciou muito. Muita gente não gostava, mas isso nunca nos intimidou. Nosso objetivo nunca foi seguir uma linha fácil, seguíamos a linha de que gostávamos e desse modo continuamos até hoje. O mais importante é que o nosso som sempre foi feito de uma forma verdadeira; talvez não uma forma fácil de se digerir, mas era o que realmente queríamos fazer! Na época do Ataque Sonoro, o som era bem cru e bem punk, acho que essas marcas que vocês mencionaram apareceram mais depois no nosso LP Silêncio Fúnebre.

Foto: Divulgação

Sounds: “Super Projetos” e “Mortos de Fome” ainda são letras bem atuais. Sempre foi uma característica do punk a preocupação em fazer das letras um meio de conversa igualitária entre banda e público. Quem foram as pessoas que influenciaram vocês e compor letras como as duas registradas no disco?
Javier: 
Na época, ouvíamos muito as bandas inglesas e europeias, e me chamava a atenção como eles falavam da guerra. Aqui no Brasil a guerra era algo muito distante, então eu não via razão para falar de algo assim tão distante. No nosso ponto de vista, a miséria, falta de perspectivas, exploração do ser humano, corrupção, descaso governamental e ditadura eram temas sérios, importantes, presentes e muito mais relevantes para nós e as pessoas daqui. Então essa foi a nossa base para todos os sons que fizemos nessa época do Ataque Sonoro. Outros músicas que foram gravadas na mesma época falam de exploração (“Dinheiro e Poder”), dívida externa do Brasil (“Dívida Externa”), tragédias em alagamentos (“Gritos de Dor”), miséria da seca no Nordeste (“Torturam os Pobres”), alienação do povo (“Total Alienação”), corrupção/ poder/ exploração (“Políticos, Militares, Religiosos”). Posso dizer que foi uma marca nossa. Nossa referência foi a realidade que víamos e vivíamos.

João Gordo (Ratos De Porão)

Jão, Gordo, Jabá e Betinho. A formação do Ratos de Porão do Ataque Sonoro. Foto: Acervo Sounds Like Us

O Ratos de Porão carrega até hoje a alcunha de ser uma das melhores quando o assunto é o bom barulho produzido pelo punk/ hardcore mundial. 

O R.D.P sempre foi uma banda a frente e sempre procurou seguir pela estrada mais extrema do punk, flertando já naquela época, com o hardcore e mais tarde com o thrash metal e até o grindcore/ powerviolence, em músicas como “Caos”, por exemplo. Ao lado de nomes como Krisiun e Sepultura, o R.D.P sempre foi uma das bandas mais conhecidas e respeitadas fora do país.

Em um papo rápido, João Gordo falou contou um pouco sobre suas impressões daquele período, algumas lembranças e histórias que ajudaram a definir a importância de um dos discos mais importantes do punk.

Sounds: é inquestionável a importância do SUB e do Começo do Fim do Mundo como marcos do início do punk no Brasil. Mas sobre o lugar do Ataque Sonoro, o que você acha que ele trouxe de bom para o punk brasileiro?
João Gordo:
O Ataque Sonoro colocou outras bandas no circuito punk/ hardcore. Nomes como Lobotomia, Desordeiros , Virus 27 e Grinders fizeram um ótimo debut. [O disco] Consolidou a cena, mas aquela época era a maior merda. Treta pra tudo que é lado. A festa de lançamento do disco no Radar Tantan foi destruída por um careca idiota com uma suástica de canetão piloto no cocuruto. O cara jogou a bateria na plateia, acabando com o show.

Sounds: O que significou para o Ratos de Porão fazer parte de um registro desses sendo que vocês já tinham experiência em estúdio por terem gravado o Crucificados Pelo Sistema?
Gordo:
Lembro que eu estava fora da banda e o Redson (Cólera) não queria que eu voltasse. Ele disse “se o Gordo voltar, vocês estão fora”. De pirraça, o Jão me aceitou de volta. Fomos prejudicados na gravação. Nessa época o Lobotomia era a banda da vez.

Foto: Rui Mendes

Sounds: O Ataque Sonoro é o único registro oficial com essa formação que trazia o Betinho na bateria, certo?
Gordo:
Sim, o único!

Sounds: Qual é a sua memória em relação a gravação das versões de “Condenado” e “Cérebros Atômicos”?
Gordo:
Cara, lembro que a gente nunca ensaiava! O Jão me passou os sons já no estúdio e nossa gravação ficou uma bosta.

Pobreza (Grinders)

Foto: Divulgação

Dentro das boas lembranças que essa iniciação no punk traz, fica impossível não citar o Grinders, do ABC paulista, uma das mais “novas” dentre as bandas que participaram do disco.

“Skate Gralha” foi uma música importante pra gente. Fez a trilha de muito rolê de skate da molecada da época. Ao lado de “California Uber Alles”, do Dead Kennedys, e de “Surfin Bird”, do Ramones, era uma das mais tocadas nos toca-fitas para o rolê ficar ainda melhor. Enquanto o sul tinha o Replicantes bradando “Surfista Calhorda”, São Paulo tinha “Skate Gralha”, um hino que até hoje flutua no consciente e inconsciente de quem esbarrou com o punk naqueles dias. 

E nem só do carrinho vivia o Grinders. A letra de “Como é que Pode” também foi uma escola e tanto. Até hoje ela reverbera e rebusca algumas das nossas melhores lembranças em relação a esse disco, e a tudo o que o punk significa. Por esse, e outros motivos, poder conversar com o Pobreza, vocalista do Grinders, e conhecer melhor suas histórias, foi uma grande realização.

Sounds: Quando o disco foi lançado, a primeira coisa que chamou nossa atenção lá foi que o Grinders era uma banda que, já com aquelas duas músicas, conquistava o(a) ouvinte rapidamente. Como aconteceu o convite para vocês entrarem no Ataque Sonoro?
Pobreza: A gente não se preocupava muito com visual. O que sempre valeu é o conteúdo. Por total influência do skate, nosso som sempre teve muito do hardcore californiano. Em Sampa (SP), na época, tínhamos uma forte influência da galera que ouvia muito sons da Europa. Era o que rolava demais. Não sei como o Redson nos achou, mas o Renato disse que algum amigo em comum mostrou nossa fita demo e aí a Ataque Frontal chegou no Grinders.

Sounds: “Skate Gralha” é clássico absoluto. A galera ia pra rua com aqueles toca-fitas grandes e tocava essa música como trilha do rolê de skate do dia. Vocês ficaram confortáveis com a classificação do Grinders como sendo uma banda de skate punk?
Pobreza:
“Skate Gralha” está em muitos países pelo mundão. Participamos com esse som em vários vídeos de skate e isso nos impulsionou mesmo, animal! No começo rolou meio que esquisitão. Era um novo rótulo, sei lá, mas era o que de repente nos fez ser diferente. Em alguns casos nos ajudou, e em outros levamos cusparadas (risos). Na época, para alguns punks, skate era coisa de boy. Mas foda-se! Falem mal ou falem bem, somos Grinders skatepunx!

Sounds: Vocês eram uma banda nova. Sem contar as demos, o primeiro registro oficial de vocês foi o Ataque Sonoro, certo? Como foi pra vocês, ainda jovens, participarem do álbum? Depois vocês regravaram “Skate Gralha” no primeiro disco. Vocês não gostaram da gravação feita para a coletânea?
Pobreza: Foi uma coisa bem legal. Entramos na cena, tocamos em vários lugares, conhecemos muitas pessoas que se tornaram amigas, bandas e mais bandas de tudo que era lugar. Inspiramos muitas pessoas a tocarem, a fazer um som, montarem uma banda e deve ser por isso que estamos sempre prontos pra tocar. “Skate Gralha” agora está na sua terceira versão. A primeira foi no Ataque Sonoro, a segunda no LP Grinders, e a última está na internet, em um videoclipe muito louco filmado em São Bernardo ”Campom” comemorando 25 anos da música. Fizemos uma homenagem ao nosso inspirador, nosso skate gralha Jeff Cocon Marcos Aurelio, amigão das antigas e nosso eterno gralha.

Foto: Didi

Traçando um paralelo entre gravação e o conceito por trás do que foi esse registro, Ataque Sonoro é um disco que , não só consolidou de vez o punk brasileiro, mas também encarnou a realidade feia, tosca, e com poucos recursos. Um punk dono de uma vontade genuína de levar até as últimas consequências os ensinamentos do DIY. Foi também uma fotografia fiel do cenário político e opressor de um tempo regido por militares e isso, claro, não tinha como ser bonito.

Antes de uma análise musical e estética, é importante lembrar que o punk dessa época era, além de um movimento, o espelho de um tempo doente. Nesse contexto, não era de esperar um posicionamento diferente de quem fez parte de tudo isso.

Hoje, usar tatuagens, piercings e calças rasgadas é algo comum. No início dos anos 80, você seria considerado marginal e poderia até ser preso por isso. Já imaginou? A mesma camiseta do Ramones, que  vende desenfreadamente em grandes lojas de departamentos e circula pelas passarelas da moda, naquela época poderia te levar para delegacia.

Muito se deve ao punk brasileiro. Muito se deve às bandas que participaram desse registro há 30 anos atrás. A gente agradece.