Descobrir novas bandas é sempre animador. Traz um certo frescor para os amantes dos bons sons e carimba nossa passagem para entrar um novo ano repleto de novidades que renovam nosso amor pela música.
Seguindo nossa tradição, juntamos no decorrer desse quase finado 2018 algumas bandas de que gostamos muito de conhecer e que possivelmente nos acompanharão durante o ano que se aproxima. Claro, a nossa não é uma lista definitiva, ou seleção do que é bom ou ruim. É somente uma compilação das bandas que chamaram nossa atenção. Tem para todos os gostos. Da música extrema ao hip-hop. O fato é não dá pra reclamar que não há nada de novo acontecendo no território fértil da música.
Dito isso, é hora de apertar o play e curtir cada uma das paisagens sonoras que selecionamos, espalhadas por esse leque generoso de destinos até então desconhecidos pra gente. Boa viagem!
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– Descobertas 2016
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Protomartyr
Se tivéssemos conhecido este quarteto de Detroit em 2017, certamente teríamos o disco Relatives in Descent na nossa lista de mais legais do ano. Que álbum poderoso! Um cruzamento axial entre o gótico, o pós punk, o indie, o noise e o art rock com vocais que lembram spoken words. Músicas com dinâmicas imprevisíveis, como “A Private Understanding”, não deixam dúvidas de uma primeira audição impressionante. Em 2018 eles lançaram o EP Consolation e dois splits – com o Preoccupations e o Spray Paint. Há tempos não ficávamos tão empolgados em acompanhar uma banda.
Para quem gosta de Gang of Four, Idles e Preoccupations
Jarada
Punk do bom, vindo de Tel Aviv/Yafo, Israel. Vai ser um tanto complicado ler ou cantar as faixas junto com a banda, mas o caminho por onde as músicas seguem não é inédito, mas a beleza está aí: fazer o que muitos já fizeram, de uma forma ainda empolgante. E essa banda consegue. O disco de estreia deles é uma acomodação repleta de barulho honesto e intenso, que comprova que punk e o hardcore não se fazem por convenção.
Para quem gosta de Rattus, Negative Approach e GBH
Coilguns
Banda formada por três caras que também tocam no The Ocean, um dos grandes nomes da Pelagic Records. Nesse discão lançado no início desse ano que chega ao fim, a faixa-título é um arregaço. O disco segue o mesmo tom: nervoso e alto. O Coilguns é aquele tipo de banda que não inventa a roda, mas que contagia pela energia que explode das caixas ou dos fones. Millennials é um disco impaciente, distorcido, e urgente. Como são os millennials.
Para quem gosta de Norma Jean, Converge, The Bled
OZU
O OZU, de Cotia (SP), tem suas bases no trip-hop com todas as nuances e ricas texturas que o estilo oferece. Nas entrelinhas, ainda há o tempero brasileiro, especiaria que dá uma sonoridade a músicas que ao vivo devem funcionar lindamente. Intimista, contemplativo, o baixo fretless, beats secos, certeiros, granulados, e uma dose de melancolia descendente da safra inglesa do estilo. Inner é um disco e tanto. E “Detour” já está entre as nossas preferidas.
Para quem gosta de Supreme Beings of Leisure, Morcheeba e Portishead
Playlist de todas as edições:
Slow Mass
O Slow Mass tem um jeito bonito de te conduzir pelas músicas. Elas não são previsíveis, mas permitem uma rápida familiaridade. Você começa por um dedilhado, acompanhando as somas dos arranjos e as parcerias vocais de Mercedes Webb e Dave Collis, e acaba ouvindo os crescendos dos refrãos como quem já possui um vínculo emocional. Ouça o belo disco de estreia “On Watch” e se surpreenda, especialmente com “Like Dead Skin” e “Schemes”.
Para quem gosta de Hum, The World is a Beautiful Place and I Am No Longer Afraid to Die e Hey Mercedes
Decurso Drama
Vem de Florianópolis (SC) este literal power trio que, com letra e arranjos, recupera as narrativas mundanas tomadas como porta-vozes geracionais. É tamanha a identificação com o conteúdo que a tendência é se converter em coro catártico, a exemplo das apresentações ao vivo do Polara. Ficamos aqui imaginando quão libertador deve ser berrar, em uníssono, “furioso o ataque de… incoerênciaaaaaaa”.
Para quem gosta de Hüsker Dü , Moving Targets e Againe
Shannon & The Clams
Estamos no fim de 2018, mas você vai se sentir na trilha de De Volta pra o Futuro, ou em algum diner da década de 60, durante a alta do doo-wop e das melodias escritas sob progressões de acordes ingênuos. O primeiro disco da banda é de 2009, mas nós só conhecemos eles nesse ano. Ainda bem, antes tarde do que nunca. Onion, último disco da banda, começou a ser composto ainda em 2016, quando a cidade natal, Oakland (California), sofreu com um grande incêndio que matou mais de 30 pessoas. A banda dedicou o disco às vítimas, e por conta disso, há um clima triste, misturado a um mood kitsch, que permeia o álbum dando um charme bem especial. Parte da letra de “Don’t Close Your Eyes” diz “The colours you painted will stain unforgettable shades / We’ll remember you”. Essa foi, sem dúvida, uma bela descoberta.
Para quem gosta de Beach Boys, The Kinks, The Small Faces
World Peace
Powerviolence do bom, dica do site Cvlt Nation, e que traz toda a gramática urgente que o estilo pede. A banda vem de São Francisco, California, e em 2018 lançou Fear Through and Through, um EP com quatro músicas onde todas elas têm menos de um minuto de duração. Ou seja, tá tudo dentro do esperado.
Para quem gosta de VOID, Heresy e Dropdead
Lifted Bells
Será que o Bob Nanna é o equivalente emo do Robert Pollard? Enquanto o último solta discos como quem bebe água, o primeiro curte criar bandas ótimas – Braid, Friction, Hey Mercedes, Certain People I Know. O Lifted Bells não é exatamente novo, mas só o descobrimos com o disco Minor Tantrums. Melodias tristonhas embebidas em um math rock à la Their/They’re/There para musicar angústias juvenis. Comece pela belíssima “Choir Sings the Cure”.
Para quem gosta de The Promise Ring, The Postal Service e Algernon Cadwallader
Constant Mongrel
No título, o site Tiny Mixtapes anunciou que, com Living in Excellence, o Constant Mongrel prova que você pode fazer pós punk em 2018 e não soar como o Interpol. Hum, olha, não é bem isso. Vindo de Melbourne, o Constant Mongrel parece se preocupar mais com o punk de garagem, cru e incisivo, do que com as texturas e paisagens do pós punk, mesmo que esse estilo abra possibilidades para diversas vertentes dentro do seu universo. Se você já convive bem com o punk do final dos anos 70, separe um tempo do seu dia, aumente o volume e ouça Living in Excellence em alto e bom som.
Para quem gosta de Wire, The Fall e The Cramps
Negativa
“Negatividade, pavor e miséria intransponível”. 03 serviria de trilha para qualquer aspecto de desumanização. É frio e sem qualquer movimento de empatia. Musicalmente, o Negativa, da Espanha, mescla faixas mais fúnebres com outras mais rápidas, voltadas para o black metal clássico europeu. Em 03 os vocais foram gravados por H.V., do Wormlust, outra banda bem interessante, de black metal experimental, vinda da Islândia.
Para quem gosta de Dissection, Sinmara e Hellhammer
BROCKHAMPTON
O BROCKHAMPTON foi uma dessas aparições que acontecem aos 40 do segundo tempo. Não conhecíamos a fundo, e talvez por isso o susto tenha sido positivo. O peso de músicas como “BERLIN”, “J´OUVERT”, e, principalmente, “DISTRICT”, é cativante. Iridescence é um disco longo, é verdade. Tem coisas muito boas, e outras um tanto dispensáveis. Sendo um coletivo composto por 13 pessoas, dá pra entender a volatilidade do disco. As músicas passam pelos corais, pelo hip hop glim glim, pelo peso do hip hop moderno, e tem até um breve encontro com o drum n’bass londrino.
Para quem gosta de Tyler the Creator, clipping. e Kendrick Lamar
Jeff Rosenstock
No comecinho do ano o americano Jeff Rosenstock lançou, sem alarde algum, o álbum Post-. A total falta de divulgação poderia invisibilizar o disco, mas acabou revelando que todo o destaque angariado foi 100% fruto de mérito. De fato, a música dele, que é multiinstrumentista e sai lançando álbuns gratuitos, é muito cativante. Jeff cruza o espírito DIY com as derivações mais acessíveis do punk, como o hardcore melódico e o pop punk. Difícil passar batido por músicas como “All This Useless Energy” e pela apoteótica “USA”. Este último álbum, aliás, foi composto em meio à eleição de Trump nos EUA, então você pode aguardar uma certa dose de desesperança.
Para quem gosta de The Hotelier, The Get Up Kids e Desaparecidos
PMA Trio
Taí mais um exemplo de que é importante ir em shows de bandas que você não conhece. No despreparo mora a surpresa. Fomos ver duas edições dos shows do Hardcore Contra o Fascismo e o PMA Trio, banda formada em São Paulo, chamou muito nossa atenção. Músicas como “Grande Trem” e “Afropunk” vão te levar direto para o espírito das bandas de Washington DC. Ouça e veja o show porque a vida acontece é ao vivo.Para quem gosta de Marginal Man, Cólera e Bad Brains
Amyl and The Sniffers
Em entrevista à I-D, a vocalista Amy disse que era capricorniana como Dolly Parton. Também disse gostar do Bon Scott, do AC/DC. Por aí já dá pra ver qual ares respiram esses australianos. É rock and roll de acordes simples. Mas a banda também investe pesado no visual-sujo-proposital-despretensioso para compor o clima que eles querem vender junto com seu som. Mas a música é boa, então tá tudo certo.
Para quem gosta de Ramones, New York Dolls e White Stripes
Ovlov
A primeira ouvida do Ovlov rapidamente remeteu ao Stove – que colocamos nas nossas descobertas de 2017 – e, de fato, tinha um parentesco, já que as bandas compartilham membros. O Ovlov é anterior ao Stove e tinha acabado até então. O disco Tru, deste ano, é de reunião. Peso e melodia em lo-fi em uma espécie de indie espacial melancólico. Ouça “Stick”, “The Best of You” e “Tru Punk” para uma amostragem convidativa.
Para quem gosta de Stove, The Sea and Cake e Yuck
The Tropical Riders
Um tanto de rock, outro tanto de stoner, e os dois convivendo num clima dançante. Sabe-se lá por qual motivo, a primeira vez que ouvimos parecia uma mistura de Monster Magnet com Kaiser Chiefs. O Tropical Raiders, banda de São Paulo, foi uma surpresa boa. Dentro do apelo rock/pop do duo formado por Guilherme Gale (vocal/guitarra) e Leo Possani (bateria), as músicas são povoadas pela brasilidade e seu groove único. O tropical vem com peso, criatividade e um algo a mais que pode ser o grande destaque, que, cá entre nós, é o que faz a diferença.
Para quem gosta de The Atomic Bitchwax, Queens of the Stone Age e The Black Keys
False Figure
O False Figure vem da ensolarada Los Angeles, mas faz um som nada iluminado. Os caras fazem o que muita gente chama de dark punk, e o mais recente trabalho deles segue por composições obscuras, frias e empolgantes. É impossível ouvir faixas como “Relics” ou “Cloak” e não se pegar batucando em algum canto da mesa. Se o que te encanta no rock/punk é o lado mais nebuloso desses estilos, o False Figure é pra você.
Para quem gosta de Samhain, The Wraith e Christian Death
Fiddlehead
O Fiddlehead, que reúne membros do Basement e do Have Heart, é o tipo de banda que pode te acompanhar em momentos distintos de uma road trip, musicando emoções com naturalidade. Há o entusiasmo promissor de “USMA”, o desencanto de “Poem You” e o entardecer melancólico de “Head Hands”. Música de humores da vida, que faz companhia em etapas do amadurecimento pessoal.
Para quem gosta de Braid, Rival Schools e Jawbox
Exotica
A dose certa entre o punk brasileiro do começo dos anos 80 e a primeira safra de bandas do movimento punk/hardcore finlandês. Mas, como esses dois universos eram muito próximos, o Exotica, banda radicada no bairro nova-iorquino do Brooklyn (EUA) que grita suas letras em espanhol raivoso, parece mesmo ter sido formada em algum boteco sujo nas redondezas do metrô São Bento ou depois de algum show caótico do Kaaos. Fúria punk e um clima lindamente tosco e contagiante distribuídos em músicas objetivas. É punk até o osso.
Para quem gosta de Ratos de Porão, Discharge e Lobotomia
SUC
Não tem que ser limpo, não tem que ser estudado, não tem que ser amigável. O deathgrind com aquele tempero do início da década de 90 era a antítese de tudo isso e o SUC, banda de São Carlos (SP), segue por esse caminho de que a gente tanto gosta. É colocar pra ouvir e viajar de volta para aqueles dias de intensas descobertas dentro da música extrema. “Submisso ao Medo” é o registro de quem realmente vive o death metal e o grindcore. Tá na essência.
Para quem gosta de Atrocity (USA), Fear Of God e Napalm Death
Molho Negro
De Belém do Pará vem o Molho Negro, uma banda que nos parece confortável no papel que desenvolve: ser uma banda de rock. Simples assim. Um power trio de rock: baixo, guitarra e bateria com tudo o que o rock tem direito: energia, volume, e uma combustão que contamina. Ao vivo, o Molho Negro é uma potência. Hoje, se te perguntarem qual é a cara do rock Brasil, pode responder sem ressalvas: é o Molho Negro.
Para quem gosta de Foo Fighters, Danko Jones e The Vines
Heavenless
O Heavenless, formado por Kalyl Lamarck (baixo e vocal, ex-Monster Coyote), Vinicius Martins (guitarra, ex-Bones in Traction) e Vicente Andrade (bateria, ex-Bones in Traction), é uma banda que vai conquistar quem já se identifica com a nova cara do hardcore, que traz no seu caldeirão referências do thrash e do death metal. Tudo feito com a autonomia e fidelidade de quem de fato se entrega à música que acredita.
Para quem gosta de Nails, Cult Leader, Norma Jean
Split Cranium
Quando Aaron Turner (Isis, Old Man Gloom), Jussi Lehtisalo (Circle, Pharaoh Overlord), Jukka Kröger (Resleep), Nate Newton (Converge), and Faith Coloccia (Mamiffer) se juntaram nesse projeto, parte da mídia anunciou que viria algo voltado para o d-beat. Nesse quadro, claro, esperávamos algo próximo de bandas como Discharge, Anti-Cimex e coisas do tipo. Não foi isso, mas a surpresa não foi das piores, já que o time envolvido é de peso. O disco de estreia tem a sujeira do crust e uma aura meio Killing Joke e Voivod, o que também são ótimas referências.
Para quem também gosta de Voivod, Converge e Old Man Gloom
Morir
Muita microfonia, sujeira, peso e mais sujeira. O Morir vem de Oakland e sua demo é uma das coisas mais lamacentas que o metal extremo produziu esse ano. Death metal e grindcore destilados com uma raiva genuína e intransigente. Num campo onde isso é tido como princípio, pode apostar na força do Morir. Eles têm isso de sobra.
Para quem também gosta de Asphyx, Spectral Voice e Vastum
Late Bloomer
Uma turnê com o Glassjaw nos chamou a atenção para o Late Bloomer, trio norte-americano de Charlotte, na Carolina do Norte. É um post hardcore com ótimas passagens instrumentais, dramaticidade vocal e pilares fincados na guitarra distorcida. Um batismo de respeito é a faixa ”Not the Same”, do álbum Waiting.
Para quem gosta de Hum, Pedro the Lion e Title Fight
Combover
É como se o Beavis & Butthead e a Sexta Sexy fossem um só programa escrito pelo Big Lebowski com uma trilha sonora de coisas que transitam ali entre o Nirvana, Stooges e um tanto de Reverend Horton Heat. O trio de SP transmite suas mensagens em três ou quatro acordes e muita energia. É banda de palco, que leva o humor a sério, e transforma isso em um garage rock cativante. Ouça. E se algum dia eles estiverem por perto, vá ao show. É lá que o Combover faz sentido.
Para quem gosta de Ramones, Nirvana e MC 5
Mammoth Grinder
Death metal capitaneado por Chris Ulsh, que toca bateria no Power Trip. A diferença é que, aqui, Ulsh assume a guitarra e cria linhas lineares que bebem muito no death metal na velha guarda da música extrema. Em Cosmic Crypt, o Mammoth Grinder consegue trazer um bolo de referências clássicas que vão fazer a cabeça dos fãs do metal morte. Grande dica do site CvltNation.
Para quem gosta de Hellhammer, Massacre e Bolt Thrower
Aseptic
Death metal do jeito que a gente gosta: cru, pesado e sujo. Nos moldes de como se fazia no início da década de 90, o Aseptic, duo da California, revive o auge do metal morte em músicas cativantes marcadas em seus dois lançamentos mais recentes, o full Murderous Obsessions e o EP Senses Decay, ambos grandes registros.
Para quem gosta de Grave, Cadaver e Possessed
The Lautreamonts
O duo Martha e Hudson, do Rio de Janeiro, fez uma interessante estreia como The Lautreamonts com o EP Who Are You Wearing? Pós punk bem oblíquo, com fronteiras no college rock dos anos 90 e um certo acento na música oriental. A produção do EP é bastante cuidadosa e evidencia os detalhes pensados pelo duo, como nas sobreposições sonoras de “The Ones He Whore”.
Para quem gosta de Cocteau Twins, Xiu Xiu e Pity Sex
Gouge Away
Vindos de Fort Lauderdale, na Flórida, o Gouge Away foi uma grata surpresa. Conhecemos por meio do disco Burnt Sugar, de 2018, onde o vocal incendiário e destemido de Christina Michelle encontra a companhia ideal em um instrumental vertiginoso e que flerta com o noise e com o hardcore. “Ghost” é um baita cartão de visitas.
Para quem gosta de Oathbreaker, Birds in Row e Culture Abuse