Os discos mais legais de 2022

In Discos
Viva a volta do Ministério da Cultura!

Após um ano tremendamente surreal – e não é isso que temos dito desde aquele fatídico outubro de 2018? -, fica ainda mais explícito o quanto a música nos assegurou algum chão firme. Com melodias vibrantes ou melancólicas, riffs ruidosos ou dedilhados mais contemplativos, sussurros ou gritos vorazes, fomos encontrando apoio, comunhão na revolta e até poesia.

Na nossa conhecida tradição, você sabe que vai encontrar aqui os favoritos da Amanda descritos pelo Vina e os preferidos dele comentados por ela. Foi um 2022 de muitos lançamentos incríveis, tanto que precisamos nos limitar ao número de 10 para cada um, deixando muitos nomes merecidos de fora. Vai ser legal conversarmos sobre o recorte e a fartura de onde ele vem.

Esperamos que estes discos, responsáveis por tantos de nossos momentos memoráveis neste ano difícil, mas que termina esperançoso, tragam emoção e inspiração a vocês.

Dois discos em comum:

…And You Will Know Us By the Trail of Dead – XI: Bleed Here Now

Foto: Dave Creaney

O décimo primeiro disco dos texanos do …And You Will Know Us by The Trail of Dead é uma obra e tanto. O rock alternativo ainda é a base, mas há também um amparo ainda mais reluzente: a presença dos Beatles, algo que já sentimos no último grande disco deles na nossa humilde opinião, The Century of Self (2009).

O modo cancioneiro do quarteto de Liverpool surge já na faixa “Field Song”, uma construção simples com refrão pegajoso, e em “Salt in Your Eyes”. Mas a porção mais cinematográfica e ambiente, algo crescente nos últimos discos, ganha protagonismo no decorrer do disco em faixas como “String Theme” e “A Life Less Melancholy.”

Em XI: Bleed Here Now a coisa só melhora e o …Trail of Dead segue mexendo com as nossas diferentes emoções em diferentes níveis. Com a lindíssima “Penny Candle”, “No Confidence” e o seu riff no melhor estilo Fastway, e “Contra Mundum” a banda mostra sua complexidade criativa e reforça sua singularidade.

Por aqui, ouvimos XI: Bleed Here Now como um álbum de fato. Do início ao fim, acompanhando sua história, suas vinhetas e seus caminhos. Sugerimos que você faça o mesmo e aproveite a experiência. 

Special Interest – Endure

Foto: Alexis Gross

Um disco com lírica direta e combativa, mas não menos poética, que dá à instrumentação o mesmo protagonismo na sensibilização dos ouvintes às suas mensagens. Endure tem aquela típica energia agressiva e transbordante de nossa época, mas instalada sobre uma base que não é de estabilidade, o que parece colocar tudo na iminência de alguma surpresa. Esta parece ser a diferença mais fundamental entre a parceria que o Special Interest constrói aqui entre o rock, o dance e o eletrônico, e a mesma parceria que acompanhamos em muitas das bandas do começo dos anos 2000. Sim, a banda deve ter bebido algo daquela água, como todos nós que fomos atravessados por aquela sonoridade, mas a digestão que faz é mais abrasiva, mais pé na porta, com a raiva necessária de quem se cansou de tentar conciliar com um mundo que só quer o confronto. Se confronto é o que o mundo inspira, então eis aqui uma posição ética e estética de confronto com criatividade, brilho e muita emoção. Pra quem quiser saber mais sobre a banda, o Vina escreveu este belo texto aqui.

Os discos mais legais de 2022 da Amanda descritos pelo Vina:

Kal Marks – My Name is Hell

Foto: Stephanie Andreana

Logo que My Name Is Hell foi lançado o coração da Amanda disparou no ritmo Scatman John (Ski-bi dibby dib yo da dub dub…). O Kal Marks marcou presença no nosso especial sobre noise rock e desde então seguimos acompanhando a banda por aqui. Sem dúvida é um dos discos que a Amanda mais ouviu durante o ano todo. Barulho dos bons criado à base de muito Jesus Lizard e que em alguns momentos me lembra um pouco o McLusky, embora sem a ironia ácida de Mr. Falkous.

OFF! – Free LSD

Foto: Jeff Forney

A Amanda já gostava, mas confesso que eu sempre achei o OFF! uma banda legal apenas. Mas Free LSD me pegou. Hoje minha fala mudou: O OFF! é uma bandassa! Minha impressão é que nesse disco eles acessaram um lugar diferente, mas ainda assim mantendo a assinatura punk em primeiro plano. Keith Morris (vocal), um dos grandes nomes da safra 80s do punk americano, vem acompanhado de um timaço: Dimitri Coats (guitarra), Autry Fulbright II (baixo) e Justin Brown (bateria). A primeira vez que ouvi Free LSD, pensei: “Porra, acertaram a mão!” Foi assim, de primeira, sem respiro. Acho que muito desse “acertar a mão” veio por conta das guitarras que abandonaram um pouco o “direto ao ponto” e seguiram por caminhos mais sinuosos, ruidosos, menos óbvios (destaque para o riff lindo de “Circuitry’s God” e “Black Widow Group”). Gosto de imaginar que parte dessa entortada no som seja por conta da presença do baixista que tocou no Trail of Dead e do baterista monstro que tocou com alguns nomes do jazz e com Thundercat. Ou seja, punk e groove com alta certificação.

Kendrick Lamar – Mr. Morale & The Big Steppers

Kendrick é um dos grandes artistas do seu tempo. A cada disco o barulho causado pela qualidade dos seus discos é mais estrondoso. Sobre Mr. Morale and Big Steppers, lembro que, já nos primeiros singles, a Amanda pirou. “É um dos discos do ano!”, ela disse. Com o tempo ela foi me contando sobre os detalhes sobre o álbum, o contexto, as temáticas e as participações, entre elas, Beth Gibbons, uma das vozes minhas vozes preferidas. Mr. Morale… é disco forte e à flor da pele. De uma pele que sabe a história que carrega com orgulho.

Birds in Row – Gris Klein

Parte boa das nossas “resenhas trocadas” é poder ouvir com carinho os discos que estão na lista da Amanda e que eu não tinha escutado por vontade própria. O novo do Birds in Row é um desses casos. Lembro de ter escutado o Personal War e não passado dele. No disco escolhido pela Amanda, o Birds in Row me pareceu ter captado que o mundo poderia ficar menos provocador sem o rock doidinho do Dillinger Escape Plan e do Blood Brothers. Acho que nesse novo disco eles também captaram as intenções (só as intenções, ok?) de nomes como o Hot Water Music, Boys Sets Fire e Snapcase. Gris Klein é barulhento e tem aquele jeitão de Deathwish. Mas as porções melódicas e emocionais são as que mais me chamaram a atenção. Por aqui, enquanto ouço e escrevo essas linhas, vejo a Amanda agitar com a cabeça e batucar na mesa tomada pela empolgação. Comento: “Essa é bem legal, hein? Como chama?” “Noah”, ela responde dizendo ser uma de suas favoritas. Junto a “Trompe L’oeil” é a minha também.

Black Country, New Road – Ants From Up There

Lembro de ouvir o disco algumas vezes e comentarmos em casa sobre ele. Até que um dia a Amanda chegou pra mim e falou: “O disco do Black Country… é baum memo!” Eu ainda demorei pra assimilar e ouvir ele agora novamente pra poder escrever algumas dessas linhas me fez gostar mais do registro. Em alguns momentos, Ants From Up There me lembrou o Mecano. Talvez pela coisa meio teatral, épica em alguns momentos, e pelas composições complexas. Outra coisa bem legal que a Amanda me mostrou da banda foi um vídeo deles tocando ao vivo e acho que ali eu entendi um pouco melhor a riqueza do Black Country. Não é qualquer nota, nem qualquer audição. É composto, bonito e a Amanda pescou uma similaridade interessante com outra banda que a ela me apresentou e que gosto muito, o Sunset Rubdown.

Meat Wave – Malign Hex

Foto: Patrick Houdek

Legal demais ouvir e escrever sobre esse disco. Todo mundo que gosta do bom e velho rock alternativo mais barulhento deveria ouvir o Meat Wave. E ouvir alto! A banda é uma das queridinhas da Amanda já tem um tempo e nesse novo disco ela transita com facilidade por melodias interessantes, métricas entrecortadas e pelo barulho explosivo. Vão do Nirvana de Bleach ao Fugazi de Argument numa mesma música sem que essa intersecção seja evidente demais. O trajeto me parece natural e isso faz toda diferença. Entre todas as faixas, “Waveless” já é uma das minhas prediletas. Linda melodia!

Decurso Drama – Disfarce

Foto Carine Rech

O rock brasileiro sempre foi “estrangeirizado”, é verdade. Talvez por isso, é legal demais quando bandas brasileiras refletem em sua sonoridade influências de nomes conterrâneos. No caldeirão noventista do Decurso Drama entram coisas do Moving Targets e do Seaweed, mas também tem bastante coisa do Garage Fuzz, Polara e do Single Tree, por exemplo. Ouvindo Disfarce é possível sentir o cheiro do Alternative, do Der Temple. Dá pra fechar os olhos e ouvir o Decurso Drama como parte daquela cena. Mas Disfarce é um disco de hoje e tá aí pra mostrar que havia, e ainda há, algo de muito peculiar no rock alternativo da década de 90. Um rock alternativo com o groove que só a música brasileira consegue emitir.

Chat Pile – God’s Country

O que é, o que é? Tem logo de black metal, arte gráfica com jeitão de post-rock, sonoridade noise rock e aparência de uma banda de hardcore 2000? É o Chat Pile! God’s Country foi um disco celebrado pelo público, imprensa e pela Amanda que adora um bom barulho. E entre os discos escolhidos, como ela mesmo disse, este “não poderia ficar de fora.” Éum bom álbum, mas pouco marcante pra mim. A escola Jesus Lizard tem grande efeito aqui. A sujeirada também é das boas e remete ao lado mais lamacento do sludge também se faz presente e esse híbrido de diferentes barulhos dá um certo charme a God’s Country. Embora o disco ainda não tenha despertado tanto interesse, me parece também que há nele algo que no futuro possa fazer sentido.

Horsegirl – Versions of Modern Performance

Foto: Cheryl Dunn

Ir contra a importância do Sonic Youth é bobeira e das grandes. Goste ou não, diminuir que eles foram uma das bandas mais influentes das últimas décadas é bobagem. O amplo leque de referenciais vai muito além da música respinga em diversas bandas que surgiram depois de Confusion is Sex. O Horsegirl é uma delas. Amanda falou muito bem da banda logo que Versions of Modern Performance chegou ao mundo. Ouvi, gostei e sigo numa descoberta mais lenta que a dela. O Horsegirl me remete à sonoridade final dos últimos discos do Sonic Youth, com uma sonoridade menos experimental e mais melódico. Mas não dá pra jogar tudo no colo de Lee Ranaldo, Kim Gordon, Thurston Moore e Steve Shelley. Tem um tom deprê que faz de Versions of Modern Performance um disco bom para certos momentos mais introspectivos.

Spielbergs – Vestli

Foto: Johan Malvik

O que o black metal do Satyricon e o emo do Spielbergs têm em comum? Não! Não vai rolar um mashup, nem um feat entre as bandas. Ambas vieram de Oslo, portanto, a relação aqui é a origem geográfica e nada mais. Vestli é divertido, mas tudo nele parece estar no lugar certo demais e talvez seja isso que não me pegue. Os acordes abertos, as dobras e os fraseados de guitarra característico do emo estão lá. Os andamentos crescentes e os vocais repletos de melodias também. Mas, com o perdão do trocadilho, me parece faltar a emoção.

Os discos mais legais de 2022 do Vina descritos pela Amanda:

Jesu – pity/piety

Justin Broadrick é uma prata da casa e o Vina pode provar. Sempre lançando trabalhos instigantes, especialmente sob a alcunha do Jesu, o músico inglês é sinônimo de qualidade por aqui e, imagino que sem pretensões para tal, ocupa um lugar de mestre. Acho bem interessante como ele dita o ritmo de fruição da música não como uma obrigação, mas como uma inegável recompensa. É o que sentimos neste álbum de duas faixas, “Pity” e “Piety”: somos convidados a habitar suas melancolias, a aguardar suas mudanças, a respirar a partir de suas batidas eletrônicas e a desfrutar das surpresas reservadas para os desfechos, como a deslumbrante perturbação sonora que finaliza a primeira faixa.

Cryptae – Capsule

Que barato foi ouvir e resenhar esse disco, ainda mais eu sendo tão leiga em death metal. A afinação baixa já dá aquela derrubada na guarda, e você não tem outra opção a não ser encarar essas expressões tão criativas da perversidade sonora, especialmente acentuadas por um gutural assertivo, quase econômico. A guitarra espiralada em vários momentos me lembrou um lances de math rock, ou os cálculos lindamente cabeçudos do Rush, ou até mesmo o Voivod… é muita viagem da minha parte? Ali na segunda faixa, a “Trench”, os acordes oscilam em diferentes canais de forma alucinada, o que deu um efeito desconcertante de desorientação. Tem várias mudanças de dinâmica e cada instrumento parece vestir uma roupagem completamente inédita a cada faixa. Freud teorizou sobre como os sonhos são um trabalho de elaboração genial, e com o Cryptae a gente tem uma ideia bem generosa de como são feitos os pesadelos mais ensandecidos.

Backxwash – His Happiness Shall Come First Even Though We Are Suffering

Foto: Chachi Revah

Pode até parecer que este seja um álbum pouco afeito às sutilezas e mais situado em uma documentação estética brutal e sem condescendência, mas a cada escutada o que vai se revelando é que Ashanti Mutinta, vencedora do prestigioso prêmio canadense Polaris, tem muito a dizer e o faz por meio de uma poética elaboradíssima. O Vina escreveu sobre ela no nosso especial de Descobertas e olha, que artista! As bases emulam uma angústia que é catalisada por seus flows firmes, quase sem respiração. A ambientação por vezes é sufocante, mas curiosamente os respiros vêm pelas mudanças melódicas trazidas no piano, num pungente coro de vozes ou num sample mais delicado. Tive a impressão de um disco sombrio, mas num movimento interessantíssimo de não deixar a dor na introspecção: pelo contrário, expurga e divulga esta dor para sua própria origem, uma sociedade racista e transfóbica. Ashanti aqui põe voz, corpo e cor onde sempre houve asfixia. É necessária, impiedosa e maravilhosamente pé na porta. Acho que vai virar um disco favorito com o passar dos anos.

The Cult – Under the Midnight Sun

Parece loucura, mas com este disco estou começando a ver tracinhos familiares entre o The Cult e o Afghan Whigs??? Sério, escutem a sequência “Mirror” / “A Cut Inside”…. depois que me veio esse pensamento, não consigo mais des-pensá-lo! Guardadas as devidas singularidades, seriam Ian Astbury e Greg Dulli bardos de nossas crônicas mais mundanas, envoltas em melodias poderosas e direcionadas ao infinito e além? O Vina é um fanzaço do The Cult e amou muito esse disco.  “Vendetta X” parece bem elegante em sua proposta gótica-classuda que vai direto ao ponto e faz um contraste interessante com a orquestrada faixa-título, que tem ares de faroeste e uma guitarra que me lembra Pink Floyd ali pelo minuto 3:25.

Vacuous – Dreams of Dysphoria

Os primeiros riffs de “Devotion” nos introduzem a um clima muito denso e carregado, mas não a ponto de não termos a possibilidade de distinguir os elementos. Devo lembrar que não manjo nada de metal extremo e, na minha leiguice, adoro tentar circular a participação de cada instrumento nas composições, especialmente do metal putrefato, em que há uma grande gama de sonorizações viscerais e, portanto, compactadas. Aqui a tarefa de distinção foi bem agradável, tipo em músicas como “Paranoia Rites”, que estabelecem um acúmulo de camadas e um estouro bem épicos. “Stigmata Scourge” tem um drama que me agrada muito, e fiquei pensando que cabe direitinho em algum filme desconcertante da A24. Importante dizer que assim como tento distinguir os instrumentos, tentei separar os rabiscos que formam o nome da banda na capa, mas não tive o mesmo sucesso na empreitada. Todo o meu respeito à estética, eu tento separar é por pura neurose obsessiva.

Bufo Borealis – Diptera

Foto: Rogério Alonso

Diptera é o segundo disco desta banda que é uma nobre frequentadora daqui do site – não deixe de conferir nossa entrevista com eles!  Já não é segredo que o Bufo Borealis é aquele passaporte de sofisticação para ouvidos atentos, e neste álbum a nota que mais se destaca é a da brasilidade. Desde o ar de suspense de “Divino”, que curiosamente me remeteu ao Cinema Marginal dos anos 70, à experiência lúdica e festiva de “Hermeto”, o conjunto das músicas exalta as inspirações de origem sem reduzir o impacto das criações autorais. Pra finalizar, um tributo a um país que dá orgulho: “Brejo” evocou em mim a saudade (essa palavra tão brasileira!) de Tim Maia e a prospecção de dias de alegria em 2023.

Darkthrone – Astral Fortress

Foto: Jorn Steen

O que dizer do mais novo disco do Darkthrone, sempre tão aguardado pelo Vina porque o duo estabeleceu uma bagagem de qualidade consolidada há anos, mas que ainda assim sempre surpreende e arranca um baita brilho nos olhos dele a cada ouvida? Olhando de fora, a ideia que se tem é de que eles se divertem muito no processo de experimentar elementos para uma sonoridade já conhecida e apostam alto no desejo de criar músicas memoráveis, sem se preocuparem se estarão rasgando ou não a gramática do black metal. “Caravan of Black Ghosts”, a faixa que abre disco, parece várias em uma só e deixa um saldo épico que leva as expectativas lá pra cima. Lembrei bastante do Motörhead com esse disco, o que não sei se faz sentido, mas senti também uma aura de distopia anos 70.

Carrion Bloom – Sacraments of Pestilence

É sempre mágico ver o Vina decupando as bandas de black metal em cada detalhe de diferenciação, separando por época, essência, influência, tipo de palhetada e tantas outras características. Tenho certeza de que ele viu muita assinatura neste EP do Carrion Bloom e conseguiria transmitir a vocês cada minúcia. Eu imagino que ele destacaria que as bases percussivas não são nada monótonas e até abraçam outros estilos (eu acabei lembrando do hardcore inglês na faixa “Bitter Chalice”). Gostei das passagens bem granuladas e crocantes; curiosamente o começo de “Deformed Progeny o Narcissus” soou com um pézim (um pézim pequeninim) no stoner.

Loop – Sonancy

Bem amigos da Rede Sounds, em Sonancy estamos diante de uma viagem espacial sonora com paradas em pontes curiosas entre os anos 70 e a atualidade. O som da guitarra, do tipo abrasivo calmo (o Vina chamou de “rabiscado” e eu amei o termo), é curiosíssimo. Parece aquele registro cru da guitarra que tínhamos no começo do Hüsker Dü, mas trabalhada de uma forma que não remete ao lo-fi, mas, sim, às camadas sempre presentes nas bandas da Creation Records. “Supra” tem uma atmosfera misteriosa legal que é reforçada pela faixa seguinte, “Penumbra I”. Acho que foi esta a impressão que tive do Loop, uma banda que cria instigantes peças sonoras de ficção científica. Apesar de não frequentar o gênero, gostei muito de saber que eles são veteranos que retornaram com muito desejo criativo.

Krisiun – Mortem Solis

Foto: Maya Melchers

Quando penso no Krisiun imediatamente vem à mente aquele sentimento de orgulho cabível a todos os brasileiros que valorizam a arte. O selo de credibilidade está em cada ponto da trajetória, mas o mais legal é que ele fica ainda mais reluzente porque são uma banda de vanguarda e permanência. Grandiosos não só pelo passado pioneiro, mas pelo presente cheio de vontade em criar – Mortem Solis é o 12o disco deles! Imagina ter essa relevância imensa no metal extremo com uma discografia disposta ao futuro. O Vina é um grande fã do trio e vejo bem o porquê. Gostei especialmente da fúria vibrante de “Serpent Messiah” e das multicamadas rítmicas de “As Angels Burn”, que parece adequadíssima a um uso cinematográfico – aliás, Hollywood, pare de ficar recorrendo só ao Slayer pra retratar momentos vigorosos da narrativa!