Às vezes é bom dar um passo pra trás para entender tudo que é produzido adiante. Sem mais delongas, dizemos que o Solar Coaster é uma banda que merece esse tipo de movimento. A partir deles, qualquer afirmação sobre uma suposta limitação criativa dos anos 90 cai por terra. Aqui cabe mencionar um breve currículo: o Solar Coaster é um trio da Carolina do Norte que teve como companheiros de cena regional o Superchunk, o Polvo e o Archers of Loaf. O trio nunca atingiu a repercussão merecida, mas deixou um CD homônimo de 1998 que resiste a qualquer temporalidade. São 20 músicas de pé no acelerador, loopings distorcidos e melodias sing-along. O aborto na carreira veio com o fechamento da gravadora, a novaiorquina Turnbuckle Records, em 2002.
Esse foi o mesmo ano em que o Napster foi comprado pelo grupo Roxio e passou a vender as músicas aos usuários. Apenas um dos vários exemplos de que mudava completamente a forma de administrar e de desfrutar da música. Hoje, essa nada unânime internet nos concede links para baixar o disco do Solar Coaster e também possibilita essa entrevista com o guitarrista e vocalista Kevin Hurley, fundador da banda. Tá na hora de fazer justiça a um passado nem tão distante assim.
Sounds Like Us: Quem é o Kevin Hurley? O que faz atualmente e quais são suas paixões, seus arrependimentos, sonhos etc? Onde você mora agora?
Kevin Hurley: Sou um cara da classe operária com uma educação inútil, uma visão de mundo peculiar e um talento singular para escrever músicas de nicho. Atualmente, moro em Winston-Salem, na Carolina do Norte. Sou apaixonado por música, lazer, política… a lista continua. Meu sonho é ver os humanos apertarem o freio antes de jogarem o planeta e a civilização no abismo. Outro sonho que tenho é de não precisar mais trabalhar. Arrependimentos? Acho que é absolutamente necessário tentar não se arrepender de coisas do meu passado: decisões, erros ou circunstâncias infelizes. Eu cometi vários erros estúpidos e tomei várias decisões ruins. Mas não posso mudar nada disso.
Sounds: Como foi sua infância? O que você costumava ouvir na adolescência?
Kevin: Cresci em uma família de classe média-baixa nas montanhas do Apalache, em uma pequena cidade industrial chamada Kingspot, no Tenessee. Minha infância foi bem normal e tive a sorte de ter uma família maravilhosa, que me apoiava em tudo. Eu passava a maior parte do meu tempo fora de casa. Minhas primeiras memórias de minha paixão por música pop datam dos meus anos de escola primária. Lembro de deixar um rádio AM ao lado da minha cama para que pudesse ouvir as notícias de cidades ou estados que eu nunca tinha visitado. Ocasionalmente, ouvia uma música que me dava arrepios. Eu me lembro bem de como a música me intrigava, ondas sonoras invisíveis vindas dos lugares mais distantes. Ainda hoje eu me considero enfeitiçado por estações de rádio vintage. Mais tarde, eu passei a ouvir rock de arena dos anos 70 até conhecer o punk. O punk dos primeiros anos e o new wave mudaram tudo que eu pensava sobre música até então.
Sounds: Quando você percebeu que poderia viver de música? Como foi assinar com a Turnbuckle?
Kevin: O fato é que eu jamais consegui viver da música. Longe disso, eu diria! E nunca tive essa intenção, até porque, na minha opinião, música e dinheiro são incompatíveis. Com os shows do Solar Coaster, tivemos a sorte de ganhar dinheiro suficiente para pagar a gasolina. Sempre trabalhei durante o período integral e saía em turnê nos fins de semana e nos dias de folga. Assinar com a Turnbuckle foi um golpe de sorte. Tudo começou quando eles nos viram tocando com o Sunday Puncher, em Johnson City, no Tennessee. Mantivemos o contato e depois lançamos o single e o CD por eles. A gravadora nos deu uma van para as turnês, contratou pessoal para a divulgação e pagou a gravação e a distribuição dos discos. A Turnbuckle foi muito boa pra nós e a parceria foi ótima enquanto durou.
Sounds: Quais eram seus ídolos na música?
Kevin: Hmmm… Como eu comecei a tocar bateria com 13 anos, os bateristas eram aqueles que eu mais admirava. Neil Peart é um nome que me vem à mente. Quanto a ter um ídolo, cito o Kiss, meus ídolos de quando eu tinha 12-13 anos. Meu fanatismo naquela época beirava à idolatria e felizmente passou rápido.
Sounds: Que disco mudou sua vida?
Kevin: O New Day Rising, do Hüsker Dü, de 1985. Lembro-me da sensação de ouvir aquelas músicas como se fosse ontem. A convergência de melodia, barulho, crueza e emoção daquele disco me deixaram atônito. Eu nem sei ao certo o que “emo” quer dizer. De qualquer forma, parece um estilo ou tendência relacionado a música. Mas eu sei o que é emoção, e eu nunca ouvi alguém abordar as emoções com tanta honestidade e eficácia como o Hüsker Dü em meados dos anos 80. Escute “Eight Miles High” e ouça também qualquer música do top 100 da Billboard naquela época e você vai entender porque o Hüsker Dü restaurou minha crença no rock.
Sounds: Suponha que déssemos um shuffle no seu iPod para ouvir cinco músicas. Quais seriam elas?
Kevin: Boas – “Five Trees” / Asobi Seksu – “Me and Mary” / Luminous Orange – “Drop You Vivid Colours” / Coaltar of the Deepers – “Ribbon No Kishi” / She Sir – “Lieutenant”
Sounds: Cite alguns artistas atuais cuja música poderia perfeitamente ter sido produzida nos anos 90.
Kevin: Talvez Averkiou e Air Formation.
Sounds: O que ou quem serve de inspiração para sua música?
Kevin: O amor pela música é a resposta mais simples e certamente a inspiração para que eu decidisse tocar bateria com 13 anos e guitarra quando já tinha mais de 20 anos. Tocar bateria era instintivo e veio naturalmente. O que me inspirou a tocar guitarra foi ouvir algumas canções simples que eu amava e pensar, “eu posso compor algo assim”. Nunca fiz aulas. Assim que aprendi a fazer uma pestana, a arranjar uma sequência de acordes e criar uma melodia, tcharam! Sou um compositor. Além disso, fui muito inspirado por toda a música que eu odiava na época – praticamente tudo que tocava nas rádios comerciais. Aquelas coisas eram e ainda são dolorosas de se ouvir. Meu desprezo pela música comercial me inspirou a tentar criar algo mais interessante ou que fosse, pelo menos, mais legal de tocar e de ouvir.
E falando de música comercial e bateria, minha primeira colaboração com outros músicos aconteceu quando eu tinha 13 anos, logo depois de ter comprado minha primeira bateria. Eu conhecia Tom Bettini desde os 10 anos e ele estava tocando baixo quando me perguntou se eu gostaria de tocar com ele e com um guitarrista. Eu aceitei na hora e fazíamos alguns covers do AC/DC. O interessante é que Tom permaneceu um metaleiro convicto e acabou tocando baixo no Jackal. Aquela banda ficou muito famosa na década de 90 muito por conta da música “The Lumberjack”.
Sounds: Fale de um artista ou disco que você acredita ter sido menosprezado, mas que merece reconhecimento.
Kevin: Isso pode ser surpreendente, mas o disco Doppelgänger, do The Fall of Troy. É um gênero híbrido, uma obra de arte de progressivo que eu quase deixei passar por causa da minha aversão por bandas de screamo (é uma aversão eterna). Mas os arranjos, os tempos, a musicalidade e a criatividade desse disco são de dar um nó na cabeça.
Sounds: Que tipo de mudanças o Solar Coaster trouxe pra sua vida?
Kevin: Sinto que a diferença que essa banda fez foi a exposição trazida por termos pertencido a uma gravadora. Além disso, eu estava realmente sóbrio na época do Solar Coaster, ao contrário dos meus vinte-e-poucos anos, quando a “festa” rolava todas as horas. Claro que o sucesso da banda é, em parte, o resultado de mudanças na vida pessoal. E eu ficava muito surpreso e emocionado com a resposta da crítica à banda.
Sounds: Como o Solar Coaster surgiu? Qual a origem do nome?
Kevin: Logo depois de ter me mudado para a Carolina do Norte em 1994 eu gravei uma demo com 4 músicas, na esperança de formar uma banda. Na época eu estava compondo mais músicas do que podia lembrar e queria ser tão produtivo quanto alguém que estivesse em uma banda. Enquanto eu estava tocando com os primeiros baixista e baterista do Solar Coaster – aliás, a história do baterista poderia render um romance trágico – conheci Bennie [Bumpers] e logo nos identificamos musicalmente e nos tornamos amigos. Bernard [Cook] veio para a bateria um mês depois de termos gravado o CD. Foi incrível a rapidez com que ele tirou todas as músicas. Eu odeio o nome Solar Coaster, mas era a opção mais razoável com que eu e o primeiro batera (Kevin Taylor) concordamos. O nome foi sugerido despretensiosamente pelo baixista original, Gray Crawford, e acabou pegando. Poderia ter sido pior.
Sounds: Como você, Bennie e Bernard se sentiram quando a gravadora fechou? Por quanto tempo vocês decidiram continuar e por quais razões a banda acabou?
Kevin: Já tínhamos programado a gravação de um segundo disco com 20 músicas quando a gravadora fechou. Gravamos algumas demos e continuamos compondo, fazendo shows e tentando, mal e parcamente, achar uma gravadora. Com o passer do tempo, Bennie se casou e foi trabalhar com outras coisas. Depois disso, a gente acabou ficando desmotivado. O último show foi em 2003.
Sounds: Como eram as turnês do Solar Coaster?
Kevin: Como estávamos sempre trabalhando, saíamos em turnê quando dava, na maior parte das vezes aos fins de semana, entre Nova York e Texas. O melhor de tudo era sair com os amigos. Não temos histórias selvagens de sexo ou drogas. Éramos realmente adultos comportados, se você conseguir acreditar nisso (risos). Bennie mandava ver nas cervejas enquanto Bernard e eu dividíamos um cachimbo com erva de vez em quando. Tocar no South by Southwest algumas vezes foi memorável. Bennie usava uma espécie de vestido maluco pra dormir… é uma pena que não tenhamos fotos disso. Ele parecia aquele personagem, o Zippy the Pinhead.
Sounds: Com quais bandas vocês saíam em turnê? Recorda-se de algum fato bizarro ou engraçado?
Kevin: Sempre saímos em turnê sozinhos. Lembro-me de curtir tocar com uma banda chamada Urban Henry em Atenas e Atlanta, na Geórgia. Além disso, viajávamos até uma área no Tennessee onde eu cresci para tocar com os músicos locais da minha época. Tenho uma história que poderia ter sido interessante: depois de passar o som, eu fui comprar cigarros em uma vendinha local e o xerife me mandou parar o carro porque eu tinha feito uma manobra ilegal. Ele me deu uma multa e perguntou da placa do carro, que era de Nova York. Ele ficou olhando bastante para a van, como que procurando algo ilegal a respeito dela, mas não pediu para revistá-la. Quando eu voltei para o clube onde íamos tocar, Bennie me contou que tinha trazido um pequeno revólver, por nenhuma razão especial, e o tinha escondido na van. Pra completar, uma pessoa cujo nome não vou revelar disse que também tinha deixado um pouco de erva lá. Acho que o xerife teria adorado vasculhar a van! Daí, minha frustração com a multa foi substituída por um sentimento de alívio.
Em outra ocasião, Bennie e Bernard estavam seguindo o meu carro quando estávamos voltando para a casa, na Carolina do Norte, e Bennie passou a seguir o carro errado. Chegamos às 8h e nada de o Bennie chegar – e isso na época em que nem tínhamos celular! No fim da tarde ele apareceu, explicando que seguiu um carro por horas até a Virgínia quando o motorista encostou e questionou “quem é você e por que diabos está me seguindo por mais de 300 quilômetros?”
Sounds: Onde vocês costumavam tocar e como era o público?
Kevin: Na maior parte das vezes eram pequenos clubes. Nosso público variava de 3 para 300 pessoas. Acho que a média de idade era 30 anos.
Sounds: Em algum momento se consideraram famosos?
Kevin: Não, de jeito nenhum. Apenas rostos na multidão.
Sounds: Quem eram os ídolos de vocês da cena independente daquela época?
Kevin: Quando estávamos formando a banda, eu estava ouvindo muito e indo a shows de várias boas bandas da Carolina do Norte: Polvo, Archers of Loaf, Superchunk e The Raymond Brake, pra citar alguns. Eu era muito fã do Archers. Na verdade, na época eu estava conversando com o Eric Bachmann, do Archers of Loaf, sobre ele produzir o que seria nosso segundo disco.
Sounds: Parece-me que, nos anos 90, os EUA tinham uma produção intensa de boa música, a maior parte dela feita em garagens e muitas vezes sem a menor chance de conseguir um contrato ou de ser distribuída para outros locais. Na sua opinião, quando essa cena estadunidense “decolou”? O que contribuiu para isso?
Kevin: Você tem razão. Tinha muitas bandas boas naquela época. Combustível barato, economia estável e baixo custo de gravação foram fatores que contribuíram para o aspecto prático. Criativamente, a música cresce na medida em que novas ideias vêm à tona e se disseminam. Então acho que é como uma árvore se ramificando em várias direções. E com a explosão da internet e a acessibilidade das gravações caseiras de qualidade, o mundo da música independente floresceu, desovando música para satisfazer qualquer ouvinte. Isso é maravilhoso.
Sounds: Como vocês reagiram quando a gravadora fechou? O que teria acontecido se ela ainda existisse?
Kevin: Bem, nós teríamos lançado, pelo menos, mais um disco.
Sounds: Quanto tempo uma música levava para ser composta e gravada? Como vocês preferiam gravar? Você utiliza os mesmos métodos hoje em dia?
Kevin: Eu me lembro de escrever “Soft Spot” apenas alguns dias antes de entrar em estúdio. Precisamos ensaiá-la apenas duas vezes para chegar ao resultado final. Eu sempre compus a melodia antes das letras. A ideia de uma música geralmente vem rápido com a inspiração, mas trabalhar os arranjos até chegar a um resultado satisfatório leva tempo. As letras são sempre o toque final. Geralmente tocávamos músicas novas antes mesmo de termos as letras. Se eu tinha a melodia, eu cantava qualquer coisa nos shows, palavras que me vinham à mente. Eu compus todo o material do CD e colaborei com a banda nos arranjos. Bennie criou algumas partes muitos bonitas para o baixo de algumas músicas, mas elas nunca foram gravadas.
Nós gravamos o CD em ADAT (gravador de áudio digital que usa fitas similares às do videocassete) e convertemos para fita antes de masterizarmos. Doug Williams fez um trabalho e tanto considerando o método utilizado. Hoje não usaríamos o ADAT de novo, está obsoleto. Além disso, usamos o mínimo de efeitos naquele disco: apenas pedais de distorção, flange no baixo em uma música e amplificadores vintage com tremolo e reverb. Tínhamos um arsenal de efeitos preparado para o segundo CD.
Sounds: Como era o relacionamento de vocês com as outras bandas? Havia alguma rivalidade entre vocês?
Kevin: Talvez a melhor coisa de sair em turnê é encontrar outros músicos e fãs. Nunca pensamos nas outras bandas como rivais. Mas entre nós sempre tivemos opiniões e gostos próprios.
Sounds: Que palavra você acha que mais bem descreve a música feita naqueles anos?
Kevin: Encorajadora.
Sounds: O som produzido nos anos 90 está na moda. Tem um palpite sobre o motivo?
Kevin: Porque já fazem mais de 10-15 anos, é o tempo padrão para que os estilos musicais ressurjam. Lembra de quando o punk de meados de 70 tinha um pouco dos anos 50? Ou o grunge, que tinha um quê dos anos 70? Além disso, o fim dos anos 80 e o começo dos 90 marcaram a emergência do dreampop e do shoegaze, e agora esse interesse resurge. Felizmente, são gêneros que vieram para ficar. Amo ouvir bandas reinterpretando esses gêneros! Os japoneses são particularmente bons nisso. Na verdade, tenho ouvido cada vez mais o rock japonês.
Sounds: Você pode acompanhar a transição dos discos para o MP3. Como foi isso? Imaginava a revolução que isso iria causar na música?
Kevin: Sem revelar minha idade, apenas digo que nasci a uma distância confortável do apocalipse. Lembro de me surpreender com a fita K7! Mas tenho estado online desde o começo dos anos 90 e suspeitei que a internet fosse ser algo grandioso. Era difícil não enxergar as implicações da música digital com o Napster aparecendo no jornal todos os dias nos anos 90.
Sounds: O que acha da distribuição digital de músicas e dos downloads?
Kevin: Sabe, tenho um pouco de preconceito e invariavelmente vou irritar algumas pessoas. Pessoalmente, não estou nem aí se todo mundo e os primos de todo mundo baixarem as músicas do Solar Coaster de graça. Se você gosta disso, eu também aprecio e acho que você pode baixar. A música foi escrita primordialmente para ser compartilhada, não para vender. Não vou fazer campanha para que baixem o material de um músico ilegalmente, sem pagar por isso, mas certamente não perco o sono por causa disso. Se minha opinião incomoda alguns músicos, não ligo. Se você quer fazer dinheiro, garanta uma educação que combine com a economia do futuro e trabalhe bastante. Não seja um músico! Se é sortudo o suficiente para conseguir sucesso financeiro como um músico, então tiro o chapéu pra você. Você é um em 1 milhão.
Sounds: O que é a música independente hoje? Você poderia nos dar alguns exemplos? Onde ela pode ser encontrada?
Kevin: Acho que a pergunta anterior responde, em parte, o que é música independente pra mim. Se a música depende de fluxo de caixa, então ela não é independente. Você encontra exemplos de música independente na internet. As duas ferramentas mais óbvias para encontrá-la são o Google e o MySpace. Você pode digitar algumas poucas palavras descrevendo o tipo de som que você gosta e, em segundos, já está ouvindo uma banda maravilhosa da qual você nunca tinha ouvido falar. Se você realmente gosta daquela banda, vai até o MySpace deles. Simples assim!
Sounds: Qual é a sua música favorita no álbum Solar Coaster? Por quê?
Kevin: Neste momento, “From the Head”, porque estou pensando na relação entre trabalho, dinheiro e música. É isso que essa música incorpora pra mim.
Sounds: Quando foi a última turnê? O que sentiu?
Kevin: Lembro-me muito bem do nosso ultimo show. Certamente não foi uma “turnê de despedida”.
Sounds: Quando as pessoas tentam descrever o som do Solar Coaster, vocês costumam ser colocados com nomes do shoegaze como o Swervedriver e o My Bloody Valentine. Foram influências conscientes? Quando vocês formaram o Solar Coaster, como queriam soar e quais eram os desafios no sentido de originalidade?
Kevin: Nunca fui um fã do My Bloody Valentine. Ouvi o disco de estreia uma vez e nunca mais ouvi novamente. Sou mais fã das bandas que foram influenciadas por eles. Nada nas minhas composições era consciente. Eu só mudava as afinações e tocava algumas notas até que uma sequência me agradasse. Nunca tentei compor algo “na mesma linha” de outra pessoa. Só tocava o que eu gostava de escrever e de tocar. Ganhamos várias comparações com o Hüsker Dü e com o Swervedriver e eu estaria mentindo se dissesse que essas bandas não causaram uma impressão na minha psique que se manifestou de alguma maneira nas músicas. Dou crédito aos críticos por terem escolhido essas duas comparações. Frequentemente somos comparados com bandas das quais nunca ouvi falar. Isso é sempre muito interessante! Lembro de um show em que um cara, todo sério, falava que soávamos como o Fleetwood Mac. Pensei que ele estivesse brincando, mas parei pra pensar sobre isso. É algo que os críticos nunca apontaram e do qual nunca tive consciência. Mas enfim, agradeci o cara. Eu não ouvia Fleetwood Mac em 20 anos mas, de certa forma, as melodias brilhantes deles devem ter inspirado uma ou mais músicas nossas, e isso é algo em que eu não tinha pensado. Sim, Fleetwood Mac! Além disso, éramos descritos como a única banda que tinha misturado punk rock e shoegaze com sucesso. Eu nunca tinha pensando sobre isso até ler a resenha, mas entendo o ponto de vista do autor. Eu não posso descartar uma certa energia e senso de urgência que foram passados para nossa música.
Sounds: Hoje em dia, vejo que a sonoridade do Solar Coaster refletiu – direta e indiretamente – no trabalho de bandas como Johnny Foreigner e Male Bonding, ambas britânicas. O que acha disso?
Kevin: Acho isso ótimo! Nunca ouvi essas bandas mas vou procurá-las com certeza pra conferir isso daí.
Sounds: Tem alguma chance de termos uma reunião do Solar Coaster? O que acha do retorno de bandas?
Kevin: É bem provável que não. Quanto às outras bandas, depende. Vi o Swervedriver em 2008 e eles foram fantásticos! Se as outras bandas conseguirem manter o frescor e tocarem as músicas antigas que ainda caem bem mesmo depois de tanto tempo, acho ótimo. Devo mencionar que Bernard, baterista do Solar Coaster, e eu saímos há uns meses e devemos trabalhar em um novo material para ser gravado com um baixista que sabemos ter um estúdio caseiro bem decente. É bem provável que não faremos uma turnê. E se realmente nos juntarmos para gravar, posso prometer que será um tanto quanto o Solar Coaster, mas ainda mais barulhento e onírico. Posso assegurar que, musicalmente, eu não “adociquei” com a idade.
Entrevista publicada originalmente no site Suppaduppa.