Entrevista: Tommy Victor (Prong)

In Entrevistas

Foto: Great Fog

A sonoridade de algumas vertentes do metal dos anos 90 já vinha ganhando forma pouco antes do início daquela década. Uma nova relação com a música pesada foi inaugurada e a disposição de público e bandas a uma sonoridade mais ampla deu o tom para que esse recorte acontecesse. A festividade, o visual exagerado e as músicas sobre o espírito “party every day” do hard rock oitentista deram lugar a riffs abrasivos sob afinações baixas, tempos entrecortados e muito groove. Nessa toada, nomes como Mordred, Faith no More, Helmet, Mindfunk, Fear Factory, White Zombie e tantos outros foram responsáveis por trazer novas possibilidades para o metal.

Em meio àquelas novas bandas estava o Prong, formado pelo guitarrista e vocalista Tommy Victor. Ele é nome conhecido do cenário daquele tempo por ter feito parte do Antidote, banda de hardcore de Nova York do início dos anos 80 e contemporânea ao Agnostic Front, Crumbsuckers e Heart Attack, por exemplo.

Depois de uma curta temporada no Antidote, Victor formou o Prong, em 1986, e deu início a uma história recheada de ótimos discos. Dois deles foram lançados de forma independente: Primitive Origins e Forced Fed. Mas foi em 1990, com a chegada de Beg To Differ, que o Prong começou a construir uma assinatura sonora consistente. Desse mesmo disco, “For Dear Life” e “Lost and Found” tocaram muito nos programas de rádio daqui, mas foi a faixa-título que apresentou pra gente aquela então nova sonoridade que tinha um pouco de thrash, de punk, de industrial e um tempero especial que se desdobraria pelos discos seguintes.

Batemos um papo com Tommy Victor, vocalista e guitarrista da banda, que está prestes a desembarcar por aqui pela primeira vez para um show que promete ser histórico e acontecerá no dia 12 de outubro, no Fabrique, em São Paulo.

Tommy Victor. Foto: Robb Miller

Sounds Like Us: Oi Tommy, primeiro de tudo, estamos muito felizes em saber da vinda do Prong ao Brasil. Como está sua expectativa para vir tocar por aqui?
Tommy Victor: Eu acho que vai ser bem legal. Nós estamos tocando muitas das nossas músicas antigas, então, se vocês gostam e as conhecem, vocês vão gostar de nossa apresentação.

Sounds: O Steve Evetts é um amigo e um grande produtor. Soubemos que você está trabalhando com ele novamente. O que você pode nos adiantar sobre o novo disco do Prong?
Tommy: Que legal, o [Steve] Evetts é ótimo! Nós já estamos na metade do processo. Tipicamente à moda Evetts, não é um disco feito em um computador. É bastante pesado, tem muito groove, mas é cativante também. Vai ser lançado no próximo ano e nós estamos realmente felizes por tê-lo feito!

Sounds: Adoramos o Carved in Stone (2012). Foi um disco que ouvimos muito por aqui. Você acha que ele é um álbum que dá início a uma sonoridade mais livre e direta para o Prong?
Tommy: Obrigado! Foi o primeiro disco que fiz com um coach vocal [no caso, Steve Evetts]. Eu precisava muito de uma ajuda com os vocais e essa foi uma das razões pelas quais contratamos Steve. Passei cerca de nove meses montando o material. Sobre o disco, nós simplesmente focamos nas músicas e particularmente não nos importamos com o estilo delas.

Sounds: Você acha que na década de 90 o público estava mais aberto para receber discos como Prove You Wrong, Cleasing e Rude Awaking?
Tommy: Hum, não sei. Nós realmente não estávamos pensando muito sobre gêneros de som e sempre consideramos a possibilidade de fazer misturas. De fato, as pessoas estavam mais abertas a isso no passado.

Sounds: Cleasing foi um grande sucesso no Brasil e no mundo. Certa vez lemos que ele foi composto no seu banheiro. É verdade isso?
Tommy: Hahaha… Sim, muita coisa foi composta no banheiro mesmo, pois a gente não tinha o nosso próprio estúdio ou um espaço próprio de ensaio. Até mesmo os discos anteriores foram escritos no vestiário ou na van.

Sounds: O que você estava ouvindo na época e que te influenciou na composição de Cleasing?
Tommy: Sempre escutei muito Killing Joke, Sisters of Mercy também. Sempre gostei de música com groove, como o Bad Brains, que foram uma grande influência. Não sei de onde tirei essa coisa da afinação mais baixa. Sei que o Machine Head puxa o crédito pra eles sobre isso, mas nós estávamos fazendo esse tipo de coisa antes deles. Acho que talvez o Fudge Tunnel tenha feito isso antes do Prong.

Sounds: E alguma influência da no wave e de bandas como Discharge e Celtic Frost…
Tommy: Sim! Junto com o Killing Joke essas duas bandas foram uma grande influência, como vocês podem ouvir no nosso primeiro EP, Primitive Origins, e no Force Fed [primeiro disco de estúdio do Prong].

Foto: Dante Martino

Sounds: Porque você acha que Cleasing fez tanto sucesso e o que você acha desse disco hoje em dia?
Tommy: Tenho que admitir que, de um modo geral, acho que é um disco muito bom. A forma como ele foi gravado foi inteligente; a produção tem muita importância e foi perfeita para a época. Tudo nele se encaixou muito bem e isso foi transmitido para as pessoas. Essencialmente acho que o público quer ter algo com que se identificar e se divertir. As performances e as letras desse disco também são boas.

Sounds: Pouco se fala sobre isso, mas você fez parte do Antidote. Como foi acompanhar o nascimento do hardcore em Nova York?
Tommy: Sim! Inclusive, eu que montei a banda. A formação original era legal, mas ninguém conseguia ficar por perto do Nunzio [Robb “Nunzio” Ortiz, guitarrista do Antidote], que meio que assumiu o controle da banda. Nunca gostei do punk hardcore mais direto. Gosto mais do Black Flag, Swans e Killing Joke do que daqueles acordes punks mais retos.

Sounds: Você faz parte da história do punk, do CBGB e criou uma sonoridade para o metal dos anos 90. No mundo de hoje, na forma como as pessoas consomem música, você ainda acha que existe espaço para uma cena punk e metal?
Tommy: Eu não sei, apenas fiz minha parte. Agora está tudo aí, online. As cenas são realmente pequenas. Costumávamos ir a bares, clubes, ou mesmo ficar na rua. Agora os jovens vão para o Tik Tok.

Sounds: Beg To Differ é um disco inovador e criou um estilo que dura até hoje. A nossa impressão é que ele abriu o caminho para outras bandas e que essas outras recebem mais crédito do que o Prong, que influenciou essas bandas. Por que você acha que ele não recebe o mesmo reconhecimento que outros discos como de bandas como Faith no More, Helmet ou White Zombie, por exemplo?
Tommy: Acho que isso aconteceu porque mudamos bastante. Nós começamos com um tipo de som, mas não nos restringimos a ele. A gente nunca soube o que era influente ou do que as pessoas gostavam.

Sounds: Você fez parte de bandas como Ministry, Danzig, entre outras. O que dessas bandas você trouxe para o Prong e o que do Prong você inseriu na sonoridade dessas outras bandas?
Tommy: O Glenn Danzig é quem escreve todas as suas músicas e eu apenas toco nos discos. No Ministry eu escrevi a maior parte do Rio Grande Blood, e metade do Last Sucker e do Relapse. O Ministry é um pouco mais próximo do Prong do que do Danzig. Mas eu ainda toco com o Danzig.

Sounds: Tommy, pra finalizar, uma pergunta que sempre fazemos: Qual foi o primeiro disco de vinil que você teve e que mudou a sua vida e porque ele mudou a sua vida?
Tommy: Provavelmente foi o Are You Experienced, do Jimi Hendrix. Meu irmão mais velho me apresentou ao disco quando eu tinha uns 10 anos ou algo assim. Ainda é um dos melhores discos de todos!

Foto: Divulgação