VINICIUS CASTRO
Em 2023 descobrimos ótimas bandas e, para a nossa alegria, boa parte delas eram brasileiras. Por conta disso resolvemos criar essa nova série, o Ruído Subterrâneo.
É uma lista pessoal, portanto, poderão figurar por aqui novos e já conhecidos nomes da nossa música. O importante pra gente é compartilhar com vocês dicas para ouvir, ver e alastrar por aí.
Essa é só a primeira edição, e a gente acredita que muitas outras virão. Afinal, ruído bom é o que não falta na nossa música subterrânea.
KØVA RÄZA
Para quem gosta de Replicantes, At the Drive-In e Dead Kennedys
Os primeiros instantes de “Redpilado” nos deram a impressão de que por trás da guitarra inicial há algo de Drive Like Jehu, e isso ganhou a gente logo de cara. O Køva Räza tem uma ironia ácida que costura não só as letras, mas também sua sonoridade um tanto desobediente, no melhor dos sentidos. “Surf Tolete” é cativante, bem objetiva e abastecida por riffs e andamentos de baixo e bateria empolgantes. O som do Køva Räza passa por vários lugares e foge de normas necessárias para se classificar o que nem precisa ser classificado. Precisa ser ouvido. E Desfrutando o Apocalipse tá aí pra isso. Ouça alto!
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CÁUSTICO
Para quem gosta de Jesus Lizard, Nirvana (Bleach era) e Guzzard
A música subterrânea sempre traz gratas surpresas. Seja pra dar um refresco no cenário ou mesmo chacoalhar nossos ouvidos. O ponto é que, sob o bom barulho, essas bandas vêm reforçar que tem muita coisa boa sendo produzida no terreno dos bons sons. É o caso do Cáustico, duo formado por Cely Couto (bateria/vocal) e Matheus Campos (guitarra/vocal). Jesus Lizard, Cows e algumas coisas do Melvins são ascendências reluzentes na sonoridade, mas a coisa vai além. Há presença do noise experimental, caso da faixa “Napë”; e uma estética do punk/ hardcore europeu, como ouvimos em “Rebranding”, single lançado no ano passado. Em 2022 o Cáustico lançou um disco intitulado Live Demo I e vem fazendo ótimas apresentações ao vivo. Portanto, atenção na agenda do duo e não perca a chance de, além de ouvir, ver o Cáustico de perto.
DENTE CANINO
Para quem gosta de Chaotic Dischord, Restos de Nada e Disorder
Tem um certo tipo de hardcore, rígido e agressivo, que é resistente a toda e qualquer tentativa de emulação. Um sentimento punk que precisa estar nos instrumentos e na corrente sanguínea, como uma espécie de polaroid de uma época igualmente rígida. Já nos primeiros acordes de “Alerta Vermelho”, brota uma conexão com o hardcore praticado sob a tensão do Brasil da década de 80, musicado no início do Inocentes, por exemplo; e também fora do país, que nos conectou com nomes como o Shitlickers. Mas isso não faz com que o Dente Canino pareça antiquado. Pelo contrário. É uma constatação de que parte do bom hardcore ainda é cinza, tensa, brutal e carregada de urgência.
GIANT LOVE
Para quem gosta de Nirvana, Pavement e Sonic Youth
Foi em 2019, quando Breno Honório (guitarra/ vocal) resolveu dar atenção a algumas músicas que ele já tinha na gaveta, que oficialmente nasceu o Giant Love. As composições em questão flutuavam entre influências do rock alternativo e as bandas de Seattle e o nome de batismo da então nova banda veio de “Gigantic”, do Pixies. Por aí já dá pra sacar por onde passa o som do Giant Love. A banda, hoje formada por Ligia Murakawa (baixo/ vocal), Rafael Lopes (bateria), e Gabriel Debia (guitarra), soa como os anos 90 sem qualquer cheiro de mofo. É um ruído-resgate, digamos. Entre os registros há singles e EPS, mas, pra começar, vá de Sonic Waves (2021). É nele que você vai encontrar uma das nossas favoritas, “Sweet Gun”, e o seu parentesco com a fase power pop do Redd Kross, mas que também conversa com sons mais recentes, como o Culture Abuse, por exemplo.
LŌTICO
Para quem gosta de Amenra, Year Of No Light e Bossk
Antes do termo, ainda no final dos anos 90, talvez tenha sido o Isis e o Earthtone9, com “Every You Say” (1998) e o clássico Arc Tan Gent (2000), as bandas que tenham elaborado, ainda que de forma um tanto crua, as dissonâncias do Helmet, as melodias do Tool, e o peso do Melvins e do Neurosis, além de outras referências. Era, de certa forma, parte de um dos rabiscos daquilo que desaguaria em um lugar batizado de post-metal. A porção mais emocional do estilo é algo que a gente gosta bastante e o primeiro disco do Lōtico, Oran, mostra que é por esse ambiente que eles transitam com conforto e conhecimento. As referências estão todas ali entre belas paisagens e muito peso distribuídos em seis composições que revelam um caminho promissor. Destaques para “Trono”e para a força de “Desdém”, faixa cativante e que talvez aponte para um futuro onde melodias, desespero e elementos do post-rock possam conviver ainda mais na sonoridade da banda.