Vinicius Castro
O ano de 1992 foi o início de uma década expressiva para o rock em geral. O mundo ainda sentia os efeitos do Black Álbum, do Metallica, e do Nevermind, do Nirvana. Enquanto isso, o Morphine soltava seu primeiro registro, Good, o Helmet vinha com o Meantime, o Sick of it All com o grande Just Look Around e os medalhões Black Sabbath e Iron Maiden com os seus Dehumanizer e Fear of the Dark, respectivamente. Ou seja, estava bom para todos os gostos.
No meio mais extremo a coisa também vinha muito bem. Bandas recém consagradas lançaram grandes discos, enquanto outras que ainda engatinhavam começaram a dar vida à chamada segunda onda do death metal fora do eixo EUA/Inglaterra/Suécia.
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Países como Holanda, França e Alemanha revelaram ótimas bandas como Gorefest, Massacra e Morgoth, respectivamente, que rodaram muito nas famosas trocas de fitas ao redor do mundo.
Mas a Áustria, um país de pouca expressão na música extrema, além de ceder ao mundo o industrial Fetish 69, o incrível Pungent Stench, e o Disharmonic Orchestra (presentes na coletânea Death Is Just the Beginning II), também é o país de origem do Miasma, que em 1992 lançou um disco que gastou a agulha aqui de casa: Changes.
São poucas as informações sobre o Miasma. A banda durou pouco tempo. Foi formada em 1990 e encerrou as atividades em 1993. Depois disso, houveram algumas tentativas de reuniões e reformulações, mas nada muito efetivo.
Nesse curto espaço de tempo eles lançaram a demo Godly Amusement, um disco gravado ao vivo com nome de Live Leipzig, o já citado álbum Changes, e o EP Love Songs.
Changes teve prensagem nacional lançada pela Hellion sob licença da Lethal Records (Áustria). No ano seguinte ao lançamento, em uma daquelas longas visitas a lojas de discos, o vendedor indicou, sob um tom surpreso, “a banda de death metal que vinha da da Áustria!” Hoje nem tanto, mas em um mundo sem internet, a Áustria era um país muito distante e desconhecido, e isso acarretava uma carga exótica.
Enquanto grande parte das atenções estavam inclinadas para os timbres patenteados pelo Entombed, Dismember, ou para aquele som característico que vinha dos discos gravados no Morrisound Studio, os austríacos trilharam um caminho de timbres igualmente imundos, porém proprietários, sem que isso entre na questão de qualidade ou não do resultado.
Entre “Baphomet” e “Stillbirth”, tudo ali parece carregar um certo rancor. Sob essa aura o Miasma criou um clima desenvolvido sob riffs ásperos, bateria bruta e um timbre de vocal podre de Gerhard “Gorehead”. Não é eufemismo, é podre mesmo, escola Chris Barnes (Cannibal Corpse), e isso é um elogio.
Todas as faixas são trabalhadas em cima de melodias clássicas do death metal, sem muita enrolação ou virtuose. Se cabe aqui um destaque, ficamos com “Drowning in Blood” que, com uma introdução marcante que traz uma certa carga emotiva, se é que podemos chamar assim, da velha escola do death/doom europeu.
Changes é, no bom sentido, o filho bastardo de uma safra de bandas que se destacavam por dar continuidade ao espírito genuíno do death metal dos anos 90, edificado pela primeira geração de bandas do estilo. É um disco que continua soando muito bem. Um registro primitivo, elegantemente ríspido, e que precisa ser escutado por todo fã de death metal.