Assim como aconteceu, em partes, com o grindcore, o death metal nasceu da busca por algo fresco na música pesada e do desafio de instaurar uma nova sonoridade.
Embora o gênero tenha surgido quase que simultaneamente ao redor do mundo, não foi algo coordenado. Algumas bandas, como o Morbid Angel, chegaram a declarar que não sabiam que o que estavam tocando era necessariamente death metal. E dá pra acreditar na veracidade da declaração. Quem viveu aquele final da década de 80 deve lembrar que tudo aquilo que fosse um pouco mais veloz, menos convencional, mais barulhento e um pouco mais gritado, era chamado de speed metal. O próprio Bathory era colocado em revistas especializadas como speed metal, mesmo universo do Motorhead, por exemplo. Até Reign in Blood, do Slayer, ganhou anúncio de lançamento com dizeres como “Speed Metal’s finest album” por veículos como a NME. Tudo era muito novo e o mais pesado que tínhamos acesso até então. Ou seja, na década de 80, tudo o que não fosse glam, hard ou o tradicional heavy metal do Judas Priest ou Iron Maiden, era speed e/ou thrash metal, em alguns casos.
O nome death metal foi ganhando forma com o tempo, mas quando apareceu por aqui, no fim de 1990 para 1991, já era o death metal como conhecemos. Foi um tempo prolífico. Não uma ou duas, mas muitas bandas durante aquela década lançaram ótimos discos. O death metal foi terreno fértil. Era mais do que a soma de um vocal gutural, riffs e andamentos rápidos e letras que refletiam o lado podre do ser humano. O death metal era, e ainda é, um estado de espírito.
Os ingleses do Benediction, formado em 1988 por Peter Rew (guitarra), Darren Brookes (guitarra), Ian Treacy (bateria), Paul Adams (baixo) e Barney Greeway (vocal), que gravaria apenas o primeiro disco e deixaria a banda para fazer parte do Napalm Death, estavam entre os nomes que encabeçaram o início do estilo. Para o lugar de Barney, o Benê, como é carinhosamente chamado pelo público, trouxe David Ingram para sua formação. Subconscious Terror (1990), The Grand Leveller (1991), Dark is the Season (1992) e Transcend the Rubicon (1993) constituem uma sequência incrível de ótimos discos adorados até hoje e que se tornaram grandes clássicos.
Depois de um bom tempo sem lançar algo novo, o Benediction está de volta e nós conversamos com o um dos fundadores da banda, Peter Rew, e com David Ingram, a identidade vocal do Benê. Falamos sobre o disco novo, Scriptures, a ser lançado neste 2020; a volta de David para a banda; a busca pela sonoridade old school; o cancelamento da miniturnê que eles fariam pelo Brasil; a importância de Transcend the Rubicon e muito mais.
Sounds Like Us: Como foi escrever um novo disco mais de 10 anos desde que vocês lançaram o Killing Music?
Peter Rew: Foi empolgante e parece que tudo se encaixou conforme o planejado. Nesse tempo, nós nunca nos separamos e sempre compus material novo. Algumas coisas só não entraram neste disco porque não havia espaço suficiente. Nunca paramos de fazer turnês e shows [a entrevista foi concedida antes da pandemia], mas por conta de mudanças na formação e outros compromissos – permanecemos eu e Daz –, as apresentações acabaram não acontecendo. Quanto ao novo álbum, estou realmente satisfeito com os resultados. Compusemos a maior parte dele há um tempo, mas estávamos esperando as letras do Dave Hunt [ex-vocal]. No entanto, depois de longas discussões com ele, decidimos amigavelmente que ele sairia da banda devido aos seus outros compromissos. Ele começou um doutorado e não seria possível se comprometer com o tempo necessário. Então, o retorno de Dave Ingram não poderia ter sido em uma época melhor.
Sounds: Dave, o público brasileiro ficou bem feliz com a sua volta. Mas como foi pra você retornar a uma das bandas mais icônicas do death metal?
David Ingram: Foi emocionante receber aquela ligação. O Dan Bate me mandou uma mensagem e perguntou se eu poderia entrar em contato com o Darren Brookes (guitarra) para falarmos sobre trabalhar juntos novamente. A princípio seria algo temporário, já que o Dave Hunt [vocal que substituiu Ingram] iria se dedicar aos seus estudos, mas logo ficou claro que ele queria dedicar mais tempo a isso do que em relação a banda, então Bate e Brookes me pediram para voltar de vez. Antes de falar com o Brookes, minha esposa e meu filho já tinham me dito que, se me pedissem para voltar, eu definitivamente deveria dizer que sim.
Peter: Com Dan Bate no baixo e Gio Durst na bateria, chegamos com um lineup comprometido para a gravação do disco. Eles são todos músicos incríveis (só não conte a eles que eu falei isso pra vocês!) que trouxeram seus estilos ao Benediction. Mesmo assim, não há dúvida de que ainda somos o Benediction.
Sounds: O que vocês podem dizer sobre o novo disco de vocês, Scriptures?
Peter: Eu e o Daz nos reunimos e decidimos que queríamos compor um disco típico do Benediction. Riffs cativantes, no estilo death metal old school, como se tivessem sido escritos há 20 anos. Para nós, esse é um jeito diferente de compor, já que normalmente apenas tocávamos as músicas até termos material suficiente para um álbum. Lembro de ter ficado bem chateado antes, porque eu tinha um monte de material novo que tinha sido descartado; mas canalizei essa frustração na composição de coisas novas e, depois disso, o metal simplesmente fluiu com a gente alimentando as ideias um do outro, como nos velhos tempos. Não estamos tentando fazer algo que não seja o Benediction e estamos em forma de novo. Passamos muito tempo gravando e mixando, então sem dúvida é o nosso melhor disco até hoje, sem ser muito polido, claro. Todos na banda realmente participaram e Dave parece melhor do que nunca, como se tivesse se libertado do inferno. E a capa está matadora! Foi desenhada por um ex-membro e saiu exatamente como queríamos. Mal posso esperar para ver o álbum lançado.
David: Somos death metal old school, então seria um desserviço para nós mesmos e a nossos fãs tocarmos algo diferente da nossa essência. Todos os meus projetos são OSDM [old school death metal], e não tocaria mais nada atualmente. Daz está correto quando diz que o novo álbum é o resumo absoluto do death metal old school. Lírica e musicalmente, é um disco que está associado aos primeiros lançamentos do Benediction da minha primeira fase.
Sounds: Peter, quando você fundou o Benediction você já tinha a noção de estavam criando uma banda que seria um importante nome do death metal?
Peter: Claro, quando você monta uma banda, tem aspirações de fazer algo especial e fazer a diferença; mas, no final, somos apenas um monte de fãs de metal se divertindo como tantos outros. No início, em 1988, aquilo era toda a nossa vida e nada era mais importante que a banda. Estávamos extremamente motivados. Ainda me sinto feliz e orgulhoso por estar onde estamos hoje, mas nos mantivemos fiéis aos nossos valores e sentimos que somos tratados com muito mais respeito. Tenho a honra de ser chamado de clássico e de ter inspirado outras pessoas. Ao longo dos anos, tem aparecido algumas dificuldades de tempos em tempos. Houve momentos em que fiquei pensando sobre seguir em frente. Estamos seguindo e, portanto, acho que a consideração é merecida.
Sounds: Em 2020 Subconcious Terror completa 30 anos. Em 1990 quais eram suas aspirações em relação ao disco?
Peter: Isso foi há muito tempo. Naquela época, eu tocava em uma banda de hardcore, mas tínhamos acabado de dispensar o vocalista e no lugar dele conseguimos um amigo nosso que conhecemos nos bares de rock de Birmingham. Quando o Barney [Greenway, do Napalm Death] entrou, mudamos nosso nome e estilo. As bandas que estávamos ouvindo na época, como o Nihlist, Death, Master e Massacre, tinham lançado apenas suas demos. O death metal ainda estava engatinhando. Era um ótimo momento e a troca de fitas era a única maneira de conseguir ouvir bandas tocando esse tipo de música; mas não muito tempo depois, as bandas conseguiram contratos com as gravadoras. Gravamos uma demo, The Dreams You Dread, assim que juntamos músicas o suficiente e começamos a fazer shows locais com o Napalm Death. Não tínhamos muitas músicas quando tocamos pela primeira vez, então repetíamos algumas delas – até chegamos a tocar um cover do Master. Fomos rapidamente contratados por uma nova gravadora underground, a Nuclear Blast, gerenciada pelo Marcus Stiger do quarto dele. Lembro de termos alugado um estúdio local para gravar o Subconcious Terror, mas na época tínhamos músicas apenas para um lado do disco. Gravamos o que tínhamos e tivemos que compor o restante às pressas, pois já tínhamos recebido o dinheiro para o disco. As inspirações foram as bandas que estávamos ouvindo na época. No meu caso, eram o Death e o Slayer e um pouco de punk. Era ótimo! Costumávamos tocar juntos quase todos os dias. Passávamos horas e horas no estúdio escrevendo músicas e gravando em um gravador velho e zuado.
Sounds: E como foi a relação de vocês com Mick Harris (Napalm Death), que co-produziu Subconcious Terror?
Peter: Ficamos bem amigos do pessoal do Napalm Death naquela época, especialmente do Mick, que nos apresentou o Marcus e nos ajudou muito no começo, pois éramos muito inexperientes. O Barney acabou se juntando ao Napalm. Eles eram realmente os melhores, muito prestativos e amigáveis. Ainda nos encontramos com eles de vez em quando.
Sounds: David, você se preocupa em cantar de diferentes formas nas bandas que você já passou ou prefere manter o mesmo timbre do seu vocal, independente de qual banda você esteja no momento?
David: Na minha humilde opinião, vocês podem perceber que meus vocais evoluíram ao longo do tempo. Parei de fumar há quase 10 anos e isso me deu mais profundidade, clareza, e energia, obviamente. No álbum novo, assim como nos lançamentos de minhas outras bandas nos últimos 7 anos, você ouvirá o rosnado agressivo e a clareza da pronúncia.
Sounds: E por todos os discos gravados e o tempo que você passou na banda, podemos dizer que você é “a voz” do Benediction?
David: Muita coisa aconteceu na minha vida depois de 1998. Além dos seis anos como vocalista do Bolt Thrower, e dos 3 anos com a minha banda dinamarquesa Downlord, eu também sofria de graves distúrbios mentais. Foi por isso que parei de fazer música por um tempo e criei meu programa online, o Metal Breakfast Radio. Eu precisava dessa mudança e da leveza que ela trouxe à minha vida. Fiz algumas participações especiais em demos e discos de várias bandas, mas foi só em 2012 que decidi que queria fazer música novamente, além de continuar com meus programas online (tive um outro programa chamado Lambert’s Basement, que tocava Big Band Jazz, meu outro amor musical). Foi quando comecei meus projetos Down Among The Dead Men e Echelon, com Rogga Johansson e, pouco tempo depois, o Ursinne, com Jonny Pettersson. Na verdade, também tenho o Just Before Dawn, com o Jonny. Há também o novo projeto, Hellfrost And Fire, e a banda Troikadon, de três vertentes, com Kam Lee [Massacre], Karl Willetts [Bolt Thrower] e eu nos vocais. Tenho estado ocupado. Sete álbuns em sete anos, e outros três no momento. E agora o novo álbum do Benediction!
Sounds: Os shows que vocês fariam no Brasil seriam baseados no Transcend the Rubicon, que é um dos grandes discos do gênero. Que memórias vocês tem da época de composição e gravação do disco? [David teve que fazer uma cirurgia, por isso os shows foram cancelados].
David: A turnê teria sido essa no sentido de representar minha volta à banda. Não tocaríamos o Transcend the Rubicon inteiro ao vivo. Existem tantas lembranças ótimas daquela época que nem consigo mencionar. Mas lembro bem do dia em que Karl Willetts (Bolt Thrower), Jan Chris (Gorefest), Macka (Healer) entre outros entraram no estúdio para gravar os backing vocals do cover que fizemos do Accused [David se refere a “Wrong Side of the Grave”, registrada em algumas edições de Transcend the Rubicon]. Havia muitas cervejas para todo lado!
Peter: Foi só uma ideia de nomear a turnê para que todos soubessem que Dave estava de volta. Tocamos algumas músicas do Transcend the Rubicon, mas ainda assim era uma mistura de todos os nossos lançamentos. Para mim, o Transcend the Rubicon foi a progressão natural dos dois primeiros álbuns e mais complicado em seus arranjos e execução. A essa altura, nós realmente sabíamos o que estávamos fazendo e havia um burburinho sobre este lançamento, semelhante ao que ocorre com o disco novo. Ele foi gravado com Paul Johnson, que havia feito o disco anterior e estava acostumado a trabalhar conosco, o que ajudou. Lembro-me de ver a capa pela primeira vez e ser surpreendido. Ainda acho que é um dos melhores trabalhos de Dan Seagraves e um dos primeiros, ou mesmo o primeiro, para bandas do gênero. Na época, Marcus chegou pessoalmente para pegar a fita mestra e fizemos uma grande festa. Este lançamento abriu caminho para o futuro da banda e fizemos várias turnês pela Europa e além.
Sounds: Músicas como “Unfound Mortality” e muitas outras da discografia de vocês trazem muito da NWOBHM. Vocês acham que em Transcend The Rubicon essas influencias estão mais evidentes?
Peter: Sim, sem dúvida. É o tipo de música que crescemos ouvindo e pela qual fomos influenciados. Ainda a tocamos muito ao vivo. Os arranjos eram mais complicados para nós na época e nos sentimos confiantes de que poderíamos abrir nossas asas, progredir e incorporar um estilo ligeiramente diferente de riffs em nossa música, mas sem perder a essência. Essa é uma das razões pelas quais este álbum é tão respeitado.
David: Pessoalmente, não ouço muito a influência da NWOBHM nessa música, mas vejo isso mais pelo ponto de vista lírico.
Peter: Foi o ponto alto da banda com aquela formação porque, pouco tempo depois, houve algumas mudanças pessoais significativas.
Sounds: Bandas como Benediction, Massacre, Bolt Thrower, Obituary, Death e tantas outras são uma parte muito importante de nossas vidas. Como era o cenário em que o death metal ganhou força no início da década de 90? Como eram as amizades com as outras bandas, os shows, o público… Como eram aqueles dias?
Peter: Havia uma cena underground no Reino Unido e os fãs eram ótimos, vários stage dives naquela época. Começamos a tocar localmente e então fizemos um show estranho com o Bolt Thrower. Lembro que nossa primeira turnê no Reino Unido foi com o Autopsy e o Paradise Lost e ali soubemos que aquela era a vida para nós. Naquela época nós nos tornamos amigos próximos do Bolt Thrower e eles nos apresentaram as pessoas certas para marcarmos nossa própria turnê europeia. Não sabíamos o que esperar, mas NOSSA, a cena na Europa era muito maior, especialmente na Alemanha – em vez de tocar para centenas de pessoas, eram milhares. Fizemos inúmeras viagens com o Bolt Thrower e ainda somos melhores amigos; tentamos nos reencontrar sempre que possível.
Tivemos a sorte de sair em turnê com o Death duas vezes e passamos muitas noites com Chuck e os caras. Chuck foi e sempre será uma lenda. Eu me sinto privilegiado por ter conhecido o cara e ainda sinto saudades dele. É parte da cena sair com as bandas, e nós fizemos muitos grandes amigos ao longo dos anos. Sair em turnê é uma longa festa com amigos de todo o mundo. Nunca tocamos com o Massacre, mas somos bons amigos de Kam Lee e ele até cantou alguns vocais no novo disco, mas definitivamente precisamos organizar alguns shows juntos… Antigamente você não tinha muitos festivais, então saía em turnês de 6 a 8 semanas e tocava todos os dias. Isso era ótimo para os fãs porque as bandas tocavam por mais tempo e soavam melhor nos clubes – dava para interagir muito mais com o público, dividir umas cervejas e bater um papo. Sinto saudades desses dias. Festivais são ótimos para ver várias bandas, mas são menos pessoais, já que as bandas entram e saem. Que bom que existem alguns grandes festivais ao redor do mundo em que podemos tocar. Com a situação atual [ele se referia à situação de saúde de Dave], não temos certeza de quando poderemos tocar novamente, espero que em breve. Estávamos muito animados com o lançamento do álbum e tínhamos alguns shows matadores planejados, então, assim que pudermos, estaremos de volta à estrada.
David: Na minha opinião, o Bolt Thrower lançou bons álbuns consistentemente. Sei que os membros do Massacre não ficaram felizes com alguns lançamentos deles, mas gosto de todos. Os primeiros discos do Obituary foram bons, mas logo me esqueci deles. O mesmo aconteceu em relação ao Death. É apenas uma opinião pessoal, da mesma forma que muitas pessoas terão um álbum favorito do Benediction, assim como um álbum que não gostem. É natural.
Sounds: David Vincent chegou a dizer que o Morbid Angel estava apenas fazendo o som deles e que não tinha muita noção de que estavam criando um novo estilo de música. Quando você entrou para o Benediction você sabia que estava ajudado a criar o clássico death metal?
David: O Morbid Angel não criou um novo gênero musical. O Mantas [pré-Death], com Kam Lee, fez isso. Morbid Angel, Benediction e todas as bandas daquela época estavam implementando a evolução e a expansão do death metal.
Sounds: Existe uma diferença interessante de abordagem entre o death metal americano e o europeu. Na Europa os temas eram mais sobre coisas reais, enquanto o americano lidava mais com o imaginário, falando sobre fantasmas e demônios. Por que você acha que existia essa diferença de abordagem?
David: Provavelmente por conta de diferenças culturais. Simples assim. Mas eu também costumava escrever sobre fantasia, assim como serial killers. Acho que se você segmentar apenas certas bandas dentro desse escopo, terá as diferenças que vocês mencionaram, mas se incluir todas as bandas, as variações serão iguais nos dois lados do planeta.
Sounds: Você acha que conseguiu realizar boa parte de seus sonhos desde que entrou no Benediction?
David: Fiz parte de uma banda que lançou vários discos, fez turnês pelo mundo e estive em lugares que provavelmente nunca estaria. Fui reconhecido pela minha arte. Realizei meus sonhos.
Sounds: Aproveitando um pouco o seu gosto pelas big band de jazz, você enxerga proximidade entre o jazz e o metal extremo?
David: Sim e não. Mas, de algum jeito, você pode fazer comparações com todas as formas de música. É arte! Vem de dentro do coração da pessoa. Independentemente de qual seja o gênero, tem um núcleo semelhante.
Sounds: Tendo nascido na Inglaterra, como você enxerga toda a história do Brexit?
Peter: No geral, não acho que exista muito lugar para uma posição política no metal em geral e deixo isso para bandas de hardcore e punk. Mas dito isso, acho que somos uma nação ilhada e nunca fomos verdadeiramente integrados à Europa, somos mais como vizinhos amigáveis. De qualquer forma, no momento o Brexit está praticamente em espera devido a outras circunstâncias imprevistas. Pessoalmente, uma das razões pelas quais adoro fazer turnês por todos esses anos é que tive a sorte de visitar alguns lugares e conhecer pessoas incríveis – não só as de outras bandas. Dave mora em Copenhague [Dinamarca] e Gio é italiano – ao longo dos anos tivemos uma mistura eclética de membros vindos de diferentes países. Em vez de falar sobre o Brexit, prefiro falar sobre a cena global de metal atualmente, que parece mais forte do que nunca. Seja em qualquer lugar que esteja tocando, você se sente bem-vindo e entre amigos. Eu adoro!
David: Uma verdadeira bagunça! Sou satanista, e meu primeiro pensamento é como isso afeta a mim e à minha família. Existem várias opções para eu escolher, e obviamente irei escolher a que me serve melhor.
Sounds: Voltando aos discos do Benediction, como você sentia a banda na época de discos como The Dreams Your Dead e Grind Bastard?
Peter: Grind Bastard é meu disco favorito, é novamente uma progressão do disco anterior. Mas a dinâmica era diferente porque havia muito interesse por aquelas músicas e também porque havia outras pessoas escrevendo. Naquele momento estávamos compondo músicas que deveriam ser tocadas tanto no palco quanto em um álbum, porque acredito que somos uma banda ao vivo muito melhor do que em estúdio. Éramos uma banda muito ocupada naquele momento. O The Dreams You Dread tem alguns destaques e conseguimos um orçamento decente para gravar o clipe de “Down on Whores”, que foi filmado com atores reais e tudo mais. Foram ótimos tempos e esse vídeo ampliou nosso alcance e ganhamos uma base maior de fãs.
Sounds: Aqui no Brasil o Benediction sempre foi uma banda muito cultuada. Como vocês se sentem colaborando em escrever uma parte importante da história da música no mundo?
Peter: Eu me sinto absolutamente honrado por sermos respeitados por isso, já que somos apenas uns caras que gostam de tocar metal e é incrível que possamos compartilhar isso com outras pessoas. Quanto à inspiração, adoro tocar guitarra e, desde que eu sinta vontade tocar, estarei sempre fazendo música. Se as pessoas quiserem ouvir, melhor. Só espero que possamos inspirar gerações a tocar metal e mantê-lo vivo para sempre.
David: Tenho muito orgulho de ter feito parte naquela época e também de fazer parte novamente agora. Deixe-me aproveitar esta oportunidade para dizer como fiquei triste por ter cancelado recentemente nossos shows na América do Sul. Como vocês devem saber, coloquei uma prótese de quadril e estou me recuperando da cirurgia. Ocorreram algumas complicações sérias que precisavam ser atendidas antes que a operação pudesse prosseguir e que se eu não tivesse feito, as consequências poderiam ter sido muito graves. Esperamos compensar isso mais pra frente.
Sounds: Entrevistamos o Fenriz, do Darkthrone, e perguntamos o que era o black metal para ele. A resposta foi: “ouçam The Return, do Bathory”. Trazendo a pergunta para o death metal: O que é o death metal pra vocês?
Peter: Não sou fã de categorizar subgêneros de música. No fim das contas é apenas um nome e, se você quiser ver dessa forma, tudo bem. Pra mim é apenas música que gosto ou não. Como disse anteriormente, sou guitarrista e adoro ouvir e tocar, e tenho orgulho da banda que comecei há muitos, muitos anos. Que ela continue por muito tempo.
David: Escutem o nosso Transcend The Rubicon, e também o From Beyond, do Massacre; Morbid Tales e To Mega Therion, do Celtic Frost. ISSO é death metal.