Napalm Death – parte 1 Disco a disco, os 35 anos de uma das bandas mais explosivas do mundo

In Discos
Vinicius Castro

O primeiro encontro, no último suspiro dos anos 80, foi implacável, cativante e libertador. E na última passagem do Napalm Death pelo Brasil, no começo de julho (2016), diversas memórias foram acionadas na presença daquela combustão de pouco mais de uma hora em que a gente estava envolvido.

Assistindo ao show da banda na Clash, foi impossível fugir da pensata de que o Napalm Death é uma banda necessária e na maneira em como essas décadas de existência se dividem entre sucessos, descréditos, tropeços, problemas, perdas, encontros, experimentos, aprendizados em uma discografia recheada com o que há de melhor na música extrema.

Na primeira parte desse especial, a ideia é dar um passeio pelos registros oficiais da banda experimentando um disco por vez e compartilhar essa experiência em impressões. E uma das coisas mais legais em acompanhar a discografia do início é que, entre ótimos títulos e outros nem tanto, o Napalm Death segue fazendo a diferença. Mesmo durante o lamaçal dos anos 90, onde muita banda mudou tanto, tanto, que mal puderam se reconhecer, o Napalm optou por arriscar, mas conscientes das suas origens e certos de para onde queriam ir. E fizeram bonito!

Hoje, com mais de três décadas de estrada, eles continuam pulverizando sua consciência artística protegidos por uma lealdade de orgulhar quem admira a arte proposta por eles. Vamos à discografia?

Scum
(Earache, 1981)

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No ano de 1987, Scum era o terceiro lançamento oficial da Earache. O lançamento veio depois de um disco do Accüsed e de um split do Heresy com o Concret Sox, os memoráveis MOSH 001 e MOSH 002, respectivamente (até as numerações dos discos eram motivos de longos papos e novas descobertas). Scum é um disco gravado por duas formações distintas, o único nome em comum nas duas gravações é o criador do blast beat (há quem discorde) e do termo grindcore, Mick Harris.

A primeira aparição em LP do Napalm Death foi na coletânea Bullshit Detector Vol. 3 (ouça aqui), lançada em 1985 pela gravadora do Crass, com a faixa “The Crucifixion of Possessions”. Ali a sonoridade ainda refletia a influência evidente do pós punk e de bandas voltadas para o anarco punk, como o próprio Crass, The Snipers e o maravilhoso Flux of Pink Indians. A mesma sonoridade ainda aparece, em menos grau, na demo Hatred Surge, mas foi em Scum, no primeiro disco oficial, que o Napalm Death semeou o que seria sua assinatura sonora.

Scum é ríspido, político, barulhento, punk até o osso e, principalmente, desafiador, característica que a banda carregaria durante uns bons e longos anos. Quebrou paradigmas e entortou tudo o que a gente entendia como música rápida, pesada e barulhenta até ali.

Curiosidade. Por aqui o Napalm Death muitas vezes foi motivo de riso. Acreditem, risos. Muita gente encarou o barulho de Scum como uma espécie de piada e não como uma forma de arte política e anti-música. Justin Broadrick chegou a comentar que eles tocavam “You Suffer” e o público ficava gritando “toquem de novo!”. “Era engraçado, mas, obviamente, tínhamos uma mensagem política e tudo mais, mas ainda éramos apenas crianças”, completa Broadrick.

From Enslavement to Obliteration
(Earache, 1988)

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Quebrando toda e qualquer perspectiva de calmaria, em 1988 eles lançam o melhor disco da carreira: From Enslavement to Obliteration.

Aos gritos de weak minds, “Evolved as One” é uma das melhores faixas de abertura de todos os tempos e ali, assim como nas primeiras demos, o Napalm Death já trazia suas influências de Swans, Killing Joke e Die Kreuzen, algo que apareceria em toda sua discografia.

F.E.T.O confirmou o que muitos já sabiam: o Napalm Death era a banda mais rápida do mundo. Algo talvez comparável a sensação que o Bad Brains causou no hardcore e o Slayer no thrash metal. Se em Scum eles colheram o que havia de mais sujo no punk, hardcore e metal, no segundo disco a coisa ficou acentuada e os caras transformaram riffs em borrões, como rastros difíceis de acompanhar, mas lindos de ouvir.

Foi um disco que, registrado por Lee Dorian (vocal), Shane Embury (baixo), Bill Steer (guitarra) e Mick Harris (bateria), pavimentou boa parte do caminho para a música extrema. A gravação é mais polida, porém não menos suja, que Scum. E, apesar de mais nítidas, as músicas soam muito mais agressivas. “Unchallenged Hate”, “Social Sterility”, “Private Death”, “Mentally Murdered” (d-beat lindo) e a própria faixa que dá nome ao disco são exemplos de como você consegue distinguir os instrumentos e riffs apesar de toda sujeira que dá o brilho necessário para que F.E.T.O seja, até hoje, considerado um dos discos mais amados.

Harmony Corruption
(Earache/Combat, 1990)

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Se a gente fosse dividir a carreira do Napalm Death em fases, o maravilhoso EP Mentally Murdered seria o responsável por encerrar a primeira delas de uma forma tão linda quanto Harmony Corruption inicia a segunda parte da história.

Quando esse disco chegou, não agradou logo de cara. A sensação comum, era de que algo estava fora do lugar e, apesar das composições serem ótimas, a produção, que ficou a cargo de Scott Burns, era um tanto death metal demais para o grindcore cunhado por eles.

Com o tempo as percepções foram mudando e Harmony Corruption se revelou um registro importantíssimo que carregava algumas mudanças. O disco foi gravado no Morrisound Studios, a meca do death metal da Florida, em altíssima popularidade no início da década de 90. Além disso, ele estreia uma nova formação. Lee Dorian havia deixado a banda para seguir com o Cathedral; e Bill Steer resolveu dedicar-se em tempo integral ao Carcass. Em seus lugares, entraram Mark “Barney” Greenway (ex-Benediction), Mitch Harris (ex-Righteous Pigs) e Jesse Pintado (Terrorizer).

Harmony Corruption traz participações especiais que sinalizam o sentimento e o norte de uma época para a banda: John Tardy, do Obituary, e Glen Benton, do Deicide, que gravaram os backing vocals da faixa “Unfit Earth”.

Hoje, Harmony Corruption soa lindamente bem e parece envelhecer com a mesma dignidade de qualquer outro registro que tenha vindo antes ou depois. O primitivismo, a energia e a velocidade dos primeiros álbuns ainda estão lá – eles apenas estão dispostos sobre uma tela mais ampla.

Utopia Banished
(Earache/Relativity, 1992)

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Foto: Divulgação

Mick Harris queria experimentar outros barulhos. Na virada de 1990 para 1991 ele deixou a banda e criou o Lull para explorar ambiências, música ambiente, minimalista e ruidosa. Danny Herrera foi o nome escolhido para substituir Harris. Entre os fãs brasileiros havia certa desconfiança que dividia espaço com grande ansiedade em ouvir como o Napalm Death soaria sem uma importante parte de sua composição. sobre o quão complicado seria substituir alguém como Mick Harris.

A resposta veio em forma de brutalidade. A estreia de “The World Keeps Turning” na MTV fez cair por terra qualquer receio em relação ao que seria aquele novo disco.

Utopia Banished é um disco forte. Lembro ainda da sensação única em voltar da Devil Discos, com o LP embaixo do braço, com todo cuidado durante o trajeto dividido entre metro, ônibus e uma caminhada até que pudesse colocá-lo na vitrola. Aí veio “Discordance” , abertura ruidosa já típica do comportamento da banda e, tão pouco “I Abstain” explodiu nas caixas de som eu já estava apaixonado por aquele disco.

Algo interessante em Utopia Banished é o protagonismo maior dos solos de guitarra, ruídos industriais e alguns experimentos que dariam início a uma fase que duraria pouco, mas o suficiente para ser coroada em um dos melhores discos da banda, Fear, Emptiness, Despair, e que também ecoaria em Diatribes.

Fear, Emptiness, Despair
(Earache/Columbia, 1993)

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Foto: Sounds Like Us

Para o mundo da música pesada, os anos 90 pareceram ter durado várias décadas. Para o Napalm Death, durou o tempo o necessário para novos experimentos e riscos que precisavam ser realizados e corridos.

Com Fear, Emptiness, Despair, o ND seguiu talhando uma nova cara para a banda que já vinha sendo ensaiada no disco anterior. Muitos fãs, mas muitos mesmo, torceram o nariz de novo (isso já tinha rolado com Harmony Corruption), mas na boa? Estavam errados. Em um top 5 dos melhores registros da banda, este disco com certeza estaria presente na nossa lista.

O retrato dessa nova fase já começaria no logo. A tipografia anterior, criada por  Jeff Walker, deu lugar a um logo com menções digitais e, digamos, mais “modernas”. Shane Embury disse que, na época de composição do disco, eles estavam ouvindo muito o Strap it On, do Helmet. Não é algo refletido diretamente, mas em alguns riffs, batidas e no timbre da bateria, essa referência fica um pouco mais nítida (vide “State of Mind”, por exemplo).

Fear, Emptiness, Despair foi um dos discos mais vendidos da banda e “Twist The Knife” entrou para a trilha sonora de Mortal Kombat. É um registro com grandes músicas, como a incrível “More than Meets the Eye”, “Hung”, a estupidamente pesada “Plague Rages” e “Remain Nameless”, que tem um dos melhores riffs da banda, criação do saudoso Jesse Pintado.

Diatribes
(Earache, 1996)

Viva os anos 90! Sim, aqui os Napalm Death assumiu o desfecho que vinha sendo desenhado. Riffs mais ruidosos, menos blast beat, mais densidade no resultado final e um som gordo, pesado e com a coragem de quem arrisca sem medo. Críticas? Rolaram várias e pelo jeito eles não estavam nem aí.

Diatribes é mais polido, digamos, mais CD e menos vinil, mas nem por isso menos intenso ou honesto. “Greed Killing” pode ser considerada sim um hino. “Take the Strain” ainda traz resquícios de Helmet e “Ripe for the Breaking” tenta manter a essência da banda nos trilhos, mas as preferidas são “Glimpse Into Genocide”, “Cold Forgiveness” e “My Own Worst Enemy”.

No papel de inaugurador dessa nova fase, Diatribes cumpre muito bem seu papel. Apesar de não ter sido muito bem compreendido, é um ótimo disco.

Inside the Torn Apart
(Earache, 1997)

Mais um disco odiado por alguns e adorado por muitos. Inside the Torn Apart é uma sequência lógica de toda a história que começou a ser contada em Diatribes. O groove ainda está lá, os riffs, mais claros, cheios de harmônicos e aquelas passagens dissonantes de que a gente tanto gosta.

A banda continua a explorar partes com vocais mais limpos, riffs mais elaborados e passagens grooveadas e aceleradas com aquela pinta do hardcore de Nova Iorque (vide “Breed to Breathe”, “Reflect on Conflict” e “Lowpoint”). A faixa título também é poderosa e surpreende pela decisão acertada em ser mais cantada, o que transmite um clima tenso e pesado para quem está do lado de cá do alto-falante.

Fato curioso é que, um ano antes do lançamento do disco, Barney deixou a banda e se juntou ao Extreme Noise Terror onde chegou a gravar o disco Damage 381. Phil Vane, por sua vez, foi convidado para fazer os vocais de Inside the Torn Apart no lugar de Barney, o que não deu muito certo e depois de algumas conversas, Barney voltou a assumir os vocais e gravou o disco.

Words from the Exit Wound
(Earache, 1998)

É triste, mas essa hora chega pra todo mundo. Talvez esse seja o St. Anger (Metallica) dos caras. O fato é que esse é um disco fraco diante de todos os outros. Veja bem, não é ruim, mas fica devendo ao resto da discografia.

O peso está ali, os riffs e acordes dissonantes também, mas nada soa com o mesmo vigor. Explicando melhor, Diatribes e Fear, Emptinesse, Despair, causaram desconforto nos fãs mais ortodoxos, mas a audácia em recriar seus próprios caminhos são elementos do DNA da banda.

Em Words From the Exit Wound tudo soa meio perdido. Uma resenha que me chamou a atenção menciona algo como se, nessa fase, o Napalm Death tivesse se tornado complacente com o próprio Napalm Death. Como se a sonoridade da banda precisasse de uma breve pausa. Falta inspiração, mas há bons momentos como em “Infiltrator”, “Next Kin to Chaos”, “Ulterior Exterior” e “None the Wiser”.

Enemy of Music Business
(Dream Catcher, 2000)

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Foto: Sounds Like Us

Facilmente figurando no top 3 de preferidos da casa, Enemy Of Music Business é um disco nervoso em todos os sentidos. Nas letras, nas músicas, na postura, na execução de cada faixa e na vontade de imprimir um novo significado a essa nova fase. O grindcore volta a ser o personagem principal, mas um grind revigorado e diferente de Scum ou F.E.T.O.

Barney abre mais os vocais e a dupla Pintado e Harris tá afiadíssima nos riffs. “Next on the List” é a nossa preferida e ali você consegue ouvir tudo o que o ND tem de melhor. É uma música que passeia por todas as características da banda. Velocidade, groove, riffs dissonantes, melodias oitavadas e uma vivacidade que faz parecer com que Barney tá ali, do seu lado, gritando cada estrofe de cada letra. “Necessary Evil”, “C.S. (Conservative Shithead)”, Taste the Poison”, “Vermin”… enfim, a gente poderia falar muito da riqueza de cada faixa, mas preferimos que você ouça. É um grande disco!

Order of the Leech
(Spitfire, 2002)

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Foto: Divulgação

O timbre de bateria não agrada muito. Talvez este seja o detalhe que torne esse disco um dos mais cansativos da discografia da banda. Embora Jesse Pintado ainda estivesse oficialmente creditado, aqui ele já não toca. Mitch Harris gravou todas as guitarras.

Order of the Leech é o último registro pelo selo Spitfire e um disco maníaco por velocidade. Não tão feroz quanto seu antecessor, mas loucamente atirado e objetivo quando o assunto é tocar rápido, principalmente quando se diz respeito à Danny Herrera, que nesse disco voa e raramente reduz o andamento.

Uma curiosidade legal é que, na música que abre o disco, “Continuing War On Stupidity”, Barney solta um procreation of the wickeeeed, uma clara homenagem aos reis Celtic Frost, algo presente desde os tempos de Scum.

The Code is Red… Long Live the Code
(Century Media, 2005)

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Foto: Divulgação

Se em Order of the Leech o Napalm Death acelerou, aqui eles atropelaram toda e qualquer viva alma que encontraram pela frente. The Code is RedLong Live the Code é rápido naquele nível de te deixar sem fôlego. É o primeiro disco sem Jesse Pintado, que aqui deixa oficialmente a banda.

Curiosamente, este é um disco cheio de participações especiais. Não sei se pelo fato de eles agora estarem na Century Media, uma gravadora maior e mais voltada ao metal , ou se foi o lance de acharem que em determinadas músicas caberiam outras vozes. James Jasta (Hatebreed) aparece em “Instruments Of Persuasion” e “All Hail The Grey Dawn”; Jello Biafra em “The Great And The Good”; e Jeff Walker, do Carcass, solta seus urros em “Losers”, uma faixa bônus de uma edição especial do disco. Talvez, junto com Apex Predator, The Code is Red… seja o disco mais legal dessa fase mais, digamos, recente, do Napalm Death.

Smear Campaign
(Century Media, 2006)

Olha, se um dia alguém dissesse que a Anneke van Giersbergen, do The Gathering, cantaria (?), isso mesmo, cantaria uma música do Napalm Death eu juro que duvidaria, maaaaas estamos falando aqui de uma banda sem muitos limites quando o assunto é respeitar suas vontades e ser fiel à suas crenças artísticas. Smear Campaign é um grande disco. Traz um pouco de volta o peso, reforça dissonâncias e um certo clima do metal industrial. Veja bem, o clima, não é um disco de metal industrial.

Herrera segue em um gás incontrolável, acompanhando os riffs intrincadamente rápidos de Mitch Harris. Dá pra destacar “Skin Fast, Let Go”, “Fatalist”, “Freedom is the Wage of Sin”, “Persona non grata” e a incrível faixa título, mas seria covardia não falar das outras e não queremos estender muito o assunto.

Lembra no início, quando falamos na participação da excelente ex-vocalista do Gathering? Então, ela aparece na faixa “In Deference”. Resumindo, Smear Campaingn nos parece o equilíbrio perfeito entre os discos que comprimem a fase mais grind-industrial-dissonante. Entre Order of the Leech e Time Waits for No Slave, Smear Campaingn é o nosso preferido e um belo recorte para entender a sonoridade do Napalm Death pós-2000.

Time Waits For No Slave
(Century Media, 2009)

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É o 13° disco da banda e fazer algo diferente é uma tarefa ingrata a essa altura do campeonato. Então não espere nada revolucionário.

Embora a gente concorde com algumas críticas que diziam que, na segunda metade dos anos 2000, o Napalm Death não apresentava nada de muito novo, é sempre revigorante ver como eles conseguem manter o gás e a identidade. Time Waits For No Slave não foge a regra. Entre a paulada “Strong-Arm”, que abre o disco, e “De-evolution Ad Nauseum”, a história é contada sob a fúria de blast beats e riffs tão velozes quanto.

É um disco linear, com alguns momentos de grande destaque como “Procrastination On the Empty Vessel”, que poderia facilmente estar em Inside the Torn Apart. A impressão é que, assim como Order of the Leech, trata-se de um disco muito mais importante para por conta do trajeto do que pelo objetivo. Ele cumpre o papel de manter a banda nos trilhos enquanto resguardavam força criativa para o que viria depois.

Utilitarian
(Century Media, 2012)

O flerte e a admiração da banda em relação ao músico John Zorn é história antiga. Já no comecinho dos anos 90, Mick Harris se juntou ao saxofonista americano e ao baixista Bill Laswell para criar uma mistura maluca entre jazz, noise e grindcore sob o nome de Painkiller.

E daria pra imaginar John Zorn criando e gravando junto ao Napalm Death? Sim, daria. É em “Everyday Polux” que o Zorn dá o ar da graça e traz um sentido para a conjugação do verbo arriscar, que eles tanto dominam.

“The Wolf I Feed” vem um pouco depois. É um musicão. Pegada intensa, bem direta e com refrão trazendo de volta os vocais limpos dos tempos de Diatribes, algo que, de certa forma, marca mais essa fase da banda.

“Analysis Paralysis”, primeira faixa que ouvimos antes do disco sair, também é uma música que, junto com “Orders of Magnitude” e as anteriormente citadas, ganham destaque, mas nada muito distante da qualidade do restante do disco. Utilitarian é desses discos que precisam de um mergulho detalhado e pede um reparar cuidadoso nas entrelinhas porque há ali muita riqueza além do barulho grind.

Appex Predator – The Easy Meat
(Century Media, 2015)

A faixa título, que abre o disco, traz de volta aquela mesma sensação tensa provocada por “Evolved as One”, em From Enslavement to Obliteration. Na sequência vem “Smash a Single Digit” e a impressão é de que Barney resolveu gritar ainda mais para se fazer ouvir.

O disco ainda traz a anárquica “How the Years Condemn”, a incômoda “Dear Slum Landlord”, “Cesspits”, que reforça a veia punk nunca abandonada pela banda, “Beyound the Pale” e suas dissonâncias e, bom, melhor parar, senão isso vai virar um texto detalhado sobre cada faixa e não é essa a ideia.

Corre lá e coloca pra tocar esse e todos os outros discos da banda porque no final, é a sua experiência que conta. A gente termina por aqui, mas só enquanto o próximo disco não chega, porque pelo o que vimos na última passagem da banda por essas terras, o Napalm Death ainda tem muita história pra contar.

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Foto: Divulgação