B-52’s

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Surgida em meados da década de 70, a new wave é, antes de tudo, um gênero musical descendente das ramificações do rock. Dentro disso, assim como não há como falar do punk sem citar o Clash ou os Ramones, descolar a importância do B-52’s do universo da new wave seria um erro homérico.

Em contraponto ao punk, numa postura, digamos, mais fluorescente, a new wave trouxe mais cores para o palco e para as músicas. Até um gel para cabelo com glitter foi comercializado na época “para que o público entrasse na onda” da new wave. Em contraste ao punk, e ao pós punk, aquele era um “movimento” que não demonstrava qualquer aversão ao sucesso ou à oportunidade de transformar em festa o que fosse possível.

Foto: Divulgação

O cinema, TV, publicações, a cultura pop. Todo mundo abraçou aquela nova estética. Dá pra dizer que a new wave ajudou a definir o gosto popular nos anos 80.

Fato curioso é que lá no comecinho dessa tal nova onda, as bandas que se encaixavam nesse perfil eram apresentadas como novos nomes do punk rock.

A origem do termo new wave é creditada a Caroline Coon que, em um artigo para a Melody Maker, usou a expressão para caracterizar o som de bandas que estavam conectadas ao punk, mas que não eram, digamos, tão punk assim.

Aqui no Brasil, já nos anos 80, os dois primeiros lançamentos do B-52’s se misturavam a discos dos Ramones, por exemplo. “Olha, consegui o disco de uma banda nova punk, é o B-52’s”.

Pra gente, o B-52’s chegou um pouco mais tarde, mais precisamente na primeira edição do Rock in Rio, em 1985. Na coletânea lançada pela Som Livre tinha Queen, Scorpions, Nina Hagen e o B-52’s, com “Private Idaho” e seu riff marcante de guitarra – o melhor da banda.

Também na mesma época, o clipe de “Legal Tender” tocava muito nos programas de TV. A gente gostava, mas aquela era uma banda ainda fora da nossa realidade ambientada mais no punk/metal. A estética era surreal, brilhante, e dançante demais.

Foto: Sounds Like Us

Foi preciso deixar desanuviar alguns radicalismos para buscar o B-52’s que existia antes de “Legal Tender” e fazer as pazes com essa banda incrível. Um dos responsáveis por isso é o disco de estreia da banda, que em 2019 completa seus 40 anos de vida.

Nele, e também no seu sucessor, o B-52’s gravou músicas que equilibravam alguns contrastes. São despretensiosas e, ao mesmo tempo, inovadoras. Bregas, ao mesmo tempo que são sexy. Esquisitas e cativantes. Era um mundo diferente, que o trio de vocalistas Fred Schneider, Kate Pierson e Cindy Wilson, junto com o baterista Keith Strickland e o guitarrista Ricky Wilson, conseguiram criar.

Dentro de um sistema extraterrestre, “Planet Care” é quem abre o disco. Inovadora, se pensarmos que, 40 anos atrás, era algo ousado trazer para a música o encontro de uma vibe meio 007 com a de alguma trilha de filme B de ficção científica.

Ouvindo “52 Girls” a gente entende a razão de alguns punks colocarem o B-52’s no movimento. É uma música direta, mas com aquela batida espasmótica e  dançante, típica da banda. Outra grande música é “Dance This Mess Around”. Nela, Cindy Wilson chega até a ensaiar uns gritos mais nervosos, o que dá certo charme à faixa.

Sobre o single “Rock Lobster”, a vocalista Kate Pierson contou em uma entrevista que, ao compor o riff, o guitarrista Ricky Wilson disse a ela que tinha feito a linha de guitarra mais idiota que ela já teria ouvido até então. O resultado é que “Rock Lobster” é até hoje um dos grandes hinos da banda, e a idiotice de Wilson parece ter se convertido em algo definitivo, assim como ele faria mais tarde na já citada “Private Idaho”.

A importância do B-52’s é latente. Como escreveu Susan Elizabeth Shepard para o Pitchfork, Steve Albini e Madonna têm a banda como uma influência. O Sleater Kinney já tocou “Rock Lobster” em alguns shows (veja aqui) , e Dave Grohl e Kurt Cobain, depois de assistirem a um show da banda, se referiram ao B52’s como uma de suas influências, dizendo que esse era um grande álbum de estreia. A gente concorda, claro.

O disco ainda tem a deliciosa “There’s A Moon in the Sky”, “Hero Worship”, até fechar com a cover de “Dowtown”, originalmente escrita nos anos 60, por Petula Clark.

Dentro de tudo o que representa, a sensação é que a estreia do B-52’s está pra sempre registrada em um disco coeso e encantador, onde há uma dose generosa de riqueza ao miscigenar a estética daqueles dias com referências de filmes de ficção científica, penteados dos anos 70, e o encontro entre os teclados, a surf music e suas danças.

A estreia do B-52’s é o decreto de que todo dia pode ser de festa. E que no rock, a idiotice pode andar lado a lado com a genialidade que mora na despretensão de um riff.

Foto: Divulgação