Descobertas 2022

In Bandas

Foto: Olof Ringmar

A pandemia alterou as nossas percepções de tempo e espaço. Por conta disso, no ano passado, a nossa série Descobertas não foi ao ar. Portanto, a lista que normalmente traz as bandas que conhecemos no acumulado de um ano traz, desta vez, os sons que vibraram alto por aqui no período de dois anos: 2021 e 2022.

Do indie ao grindcore, tem para todos os gostos e ouvidos. Ah, e claro, tem também a nossa playlist atualizadas com as bandas desta e das edições anteriores pra você ouvir.

Leia também as edições anteriores:

Backxwash

Foto: Divulgação

Para quem gosta de Death Grips, Health e Dälek
Ashanti Mutinta, que assina como Backxwash, despeja uma honestidade cortante em suas composições. Backxwash nasceu na Zâmbia, mudou para o Canadá ainda adolescente, lançou seu primeiro álbum em 2019 e no ano seguinte chamou a atenção por explorar uma sonoridade pesada, tensa, numa mistura de hip-hop e samples de bandas de metal e post-rock. Em 2021, Backxwash lançou I LIE HERE BURIED WITH MY RINGS AND MY DRESSES. Um atropelo! É atormentadoramente incrível e uma das melhores surpresas dos últimos tempos. E não é só isso! Em 2022 veio HIS HAPINESS SHALL COME FIRST EVEN THOUGH WE ARE…, um álbum que com certeza está entre os melhores do ano. (Vinicius)

Truth Cult

Foto: Divulgação

Para quem gosta de Rites Of Spring, At the Drive-In e Fugazi
O Truth Cult vem de Baltimore e traz em seu cardápio muito da sonoridade punk de Washington DC – leia-se, da Dischord. Off Fire, o disco de estreia, foi gravado e mixado por ninguém menos que J Robbins (Jawbox), o que alimenta ainda mais o gostinho de anos 90. Além disso, é curioso que em alguns momentos o nome de Ian Svenonius e o seu incrível Nation of Ulysses vem à nossa mente (ouça “Hell Baby”, por exemplo) como uma possível referência. Mas calma. Estes são somente alguns pontos de contato. O quarteto passa longe de ser um mexidão de referências ou qualquer coisa que diminua seu impacto. Off Fire tem assinatura e traz um certo sabor de renovação sem que isso pareça plastificado. (Vinicius)

Cassandra Jenkins


Para quem gosta de Feist, The National e The Microphones
Cassandra foi uma dessas surpresas que conquistam na primeira ouvida e arranjam um espaço definitivo dali em diante. Estava com a amiga Anna Bogaciovas em uma mágica sessão de fotos ouvindo o último disco da Torres quando o algoritmo enfileirou “Hard Drive”, uma belíssima música de spoken words climatizados por um saxofone inebriante e por uma linha de guitarra bem gentil, que se torna aguda e potente a partir do crescendo trazido pela bateria. An Overview on Phenomenal Nature, o disco ao qual pertence a faixa, é sofisticado sem sucumbir à economia de emoções. Os arranjos trabalhadíssimos lembram outro belo exemplar do mais é mais: o disco Metals, da Feist. (Amanda)

Fulgor

Foto: Divulgação

Para quem gosta de Redd Kross, The Saints, Superchunk
O Fulgor é uma banda formada em Buenos Aires, Argentina, que conhecemos por meio da Inerme Discos (siga aqui). Uma grata surpresa que circula pelo power pop e o rock alternativo noventista de instrumentações simples e contagiantes. Exit Limbo, o primeiro disco, foi lançado em 2022. Nele você vai encontrar muito dos elementos que constroem a sonoridade do Fulgor: energia, melodia e ótimos refrãos. Por aqui, “Te Vi” e “Fulgor”, esta com direito a menção a Neil Young, são os destaques. Exit Limbo é um típico disco de rock feito para ouvir como se deve: em alto e bom som! (Vinicius)

Militarie Gun

Foto: Divulgação

Para quem gosta de Drug Church, OFF! e Dag Nasty
O Militarie Gun é um dos mais interessantes nomes dessa expressão do hardcore mais trabalhado no dinamismo dos tempos, com mais amplitude no tipo de batida e nas linhas de guitarra, como o que vemos no Fucked Up e Turnstile. O vocal furioso de Ian Shelton, aliás, flerta com o spoken words mas não arreda o pé da emoção, o que o coloca na vigorosa companhia de Damiam Abraham, da já mencionada banda canadense Fucked Up. All Roads Lead to the Gun é também um dos discos do ano. A faixa-título, aliás, é uma deliciosa ponte com o rock alternativo das college radios dos anos 90. (Amanda)

Luxferre

Foto: Divulgação

Para quem gosta de Isis, Amenra e Rosetta
Banda chilena que vai agradar em cheio aos fãs de post metal, o Luxferre não fica somente nessa seara. Há também uma busca eficiente por enriquecer o peso e o clima das músicas por meio de instrumentos como violino e trompete, por exemplo. O post black metal também dá as caras, ainda que de forma tímida, em alguns momentos de Voices, o registro mais recente da banda, lançado em 2022. (Vinicius)

Parasita

Foto: Delene Gastal

Para quem gosta de Skitsystem, Disfear, Tragedy
Hospedeiro, registro de estreia do Parasita, faz do grindcore a sonorização de uma crônica de destruição, desumanização e desespero. Junto a algumas referências do crust, o grind é a razão e não um pano de fundo. Portanto, além da música extrema, o EP é também um retrato do tempo em que foi gerado, costurado por letras incisivas e objetivas. “Desinformar é controle”, alerta “Atrofia”. Hospedeiro é um expurgo necessário. E nele tudo acontece como o grind pede que ele aconteça: de modo extremo, sujo, direto, aos blasts, d-beats, gritos e riffs ruidosos. Ou, como a própria banda menciona, em até 15 minutos. (Vinicius)

Maya Hawke

Foto: Celine Sutter

Para quem gosta de Lucy Dacus, Bon Iver e Iron & Wine
Maya conquistou o mundo com sua interpretação hilária de Robin, em Stranger Things, e é fato que ela já vem com uma abertura de portas significativa por ser filha de Uma Thurman e Ethan Hawke. Mas a garota é muito talentosa, como podemos ver no disco Moss. Sua voz sussurrante pode não ser a maior novidade no indie folk, mas ela canta desconcertos e surpresas da vida com uma melancolia viciante, como ouvimos na belíssima “Thérèse”. (Amanda)

Funeral Chant

Foto: Tash de Valois

Para quem gosta de: Sarcófago, Necrodeath e Sadistic Intent
Uma das descobertas mais brutais por aqui foi Dawn of Annihilation, do Funeral Chant. Um álbum sujo, pesado e que traz em sua costura o death e o black metal oitentista em seu estado mais ríspido. A primeira impressão é de que Dawn of Annihilation poderia facilmente estar ao lado de um álbum do Vulcano ou do Sarcófago, tamanha a brutalidade do que se ouve. Mas também pingam aqui e ali referências a nomes da velha escola como Grotesque e Tormentor (México). (Vinicius)

Squid

Foto: Ashley Bourne

Para quem gosta de The Fall, Idles e Gang of Four
Que pena não ter escutado o Squid ainda em 2021. Bright Green Field, lançado no ano passado, certamente estaria na lista de grandes discos daquele ano. Em uma primeira audição pode parecer mais um álbum de mais uma banda indie. Insista! Com destaques para as músicas “G.S.K”, “Narrator” e “Peel St”, Bright Green Field traz toques punk, pós punk, noise e uns esbarros em The Fall e Talking Heads, principalmente no timbre vocal de Ollie Judge. Bright Green Field é um dos melhores discos de 2022 lançados em 2021. (Vinicius)

Kikker-ZESVID

Foto: Divulgação

David Menezes, o Davox, é um músico e produtor que já tocou em bandas como Desgraciado, Enlirío, Testemolde e gravou discos de nomes de peso como o Ratos de Porão, por exemplo. Kikker-ZESVID é o codinome adotado por ele para acessar um universo repleto de groove costurados por melodias e beats bem estruturados. Salta aos ouvidos a influência do hip-hop noventista e da porção instrumental classuda do Beastie Boys. David explora tudo isso acrescentando um balanço que só o brasileiro tem no sangue e que, ao final, faz toda a diferença. (Vinicius)

Some Became Hollow Tubes

Foto: Anna Wirz

Para quem gosta de Sunn, The Angelic Process e Year Of No Light
Longos e pacientes acordes, camadas de efeitos sombrios e andamentos de bateria que se revezam entre explosões e quietudes. O caminho é até conhecido, é verdade, mas é preciso intimidade para musicar tudo o que uma paisagem sonora pode oferecer. É o caso do Some Became Hollow Tubes, duo é formado por Aidan Girt, baterista que também toca no Godspeed You! Black Emperor, e Eric Quach, Thisquietarmy, que cuida da guitarra, efeitos e synths. Com esse background, pode ouvir sem medo. (Vinicius)

Bad Breeding

Foto: Olof Ringmari

Para quem gosta de Exit Order, Uniform e Impalers
Punk bruto, cru e ruidoso. Se essas são credenciais que fazem seu coração bater mais forte, há grandes chances de o Bad Breeding se tornar a sua nova banda predileta. Human Capital é último lançamento dos ingleses que, além da sonoridade, oferecem um conteúdo conectado ao anarco punk. Em um manifesto, publicado em 2022 pelo vocalista Jake Farrell, ele escreveu “Nossas vidas não devem ser gerenciadas como se cada um de nós fosse uma start-up…“. Vale prestar atenção na banda. Talvez o Bad Breeding ainda faça muito barulho por aí. (Vinicius)

Regular Expression

Para quem gosta de Pavement, Dinosaur Jr. e Sugar
A prolífica cena recente da Bélgica que nos trouxe o Amenra, Oathbreaker, Hessian, Rise and Fall, entre outros, vez ou outra escapa do metal mais extremo e arrastado para um outro tentáculo que parece recorrente por lá: o rock alternativo da década de 90. Caso do Partisan e do Regular Expression, onde ambos contam com a presença do baterista Ivo Debrabandere (ex-Oathbreaker). A banda é novíssima, por conta disso há pouca informação sobre ela, mas sabemos que o Regular Expression conta com Lennart Bossu (guitarra) que toca no Amenra e Oathbreaker. Ah, e pra ficar tudo em casa, o registro foi gravado e mixado pelo Gilles Demolder (Wiegedood/ Siem Reap/ Oathbreaker). (Vinicius)

Sacrifix

Foto: Rhadas Camponato

Para quem gosta de Exodus, Kreator e Razor
…no samples, no low tunes, no pickups, no clean vocals, no keyboards”. A declaração está no Bandcamp do Sacrifix, que abraça os princípios do bom e velho thrash metal: riffs velozes, vocais rasgados e uma cozinha precisa. The Limit of Thrash traz, além da ótima “Thrash Again”, o cover de “No Limite da Força”, clássico do Anthares que, talvez junto a nomes n˜ão tão celebrados como mereciam, como Brainwash, Apoleon e Critical Mass, lançaram ótimos registros e fizeram shows inesquecíveis no final dos anos 80 e começo de 90. Não é revival de nada. O Sacrifix carrega algo que nunca deixou de existir e segue cativante hoje e sempre. O puro thrash metal. Ou, como escreveu uma das melhores: “thrash ’till death.” (Vinicius)

Religious Observance

Foto: Divulgação

Para quem gosta de: Bongripper, Eyehategod e Acid Bath
Em tempos recentes o sludge sofreu de uma sina semelhante à que abateu o hardcore, o doom e o stoner. Com a explosão do gênero, milhares de bandas similares surgiram. Algumas interessantes, outras nem tanto. O sludge foi ficando saturado, mas de tempos em tempos, algumas bandas parecem vir avisar que a sonoridade continua dando frutos lamacentos. Caso do Religious Observance, que vem de Melbourne, Austrália. Conhecemos a banda pelo seu mais recente e autointitulado EP, de 2021. E se é peso e lentidão que você gosta, é peso e lentidão que você ter. (Vinicius)

OLVRA

Foto: Divulgação

Para quem gosta de Sunn, Mamifer e Caterina Barbieri
Dub/doom antifascista é a descrição que Pedro Oliveira, músico brasileiro residente em Berlim, escolhe para dar contorno ao OLVRA, que em 2021 lançou dois EPs: DISSIDÊNCIA/DESENCANTO e DESORDEM/DESCENSÃO. Em ambos Pedro transita entre experimentos do drone e o minimalismo ruidoso de modulações eletrônicas captadas quase sempre em take único. Ou seja, o que você ouve é a famosa “gravação de primeira”. A bela produção visual e sonora dos dois EPs vai agradar bastante quem já está familiarizado com essa estética. E para quem ainda não teve muito contato, fica o convite para uma viagem sensorial e ruidosa. (Vinicius)

Soul Blind

Foto: Kelli Mcguire

Para quem gosta de Superheaven, Nothing e Nirvana
Tá com saudades das bandas de Seattle? Talvez o Soul Blind estanque um pouco essa falta, mas com um temperinho especial e toques de shoegaze. A banda não inventa a roda e tudo o que você já ouviu por meio de suas predecessoras aparece por aqui. Mas Third Chain trouxe aquele sentimento bom de conhecer uma banda que consegue reviver o sotaque da década de 90 sem que isso pareça exagerado ou uma forçação de barra. Já nos últimos suspiros de 2022 o Soul Blind lançou seu mais recente registro, o EP Feel It All Around, que já vem sendo apontado com um dos destaques do ano. Portanto, olhos e ouvidos atentos. (Vinicius)

Buzzard

Foto: Divulgação

Para quem gosta de Om, Electric Wizard e Windhand
De Brusque, Santa Catarina, vem o Buzzard e o seu, segundo a banda, “álbum inspirado pelo stoner ritualístico”. A descrição é um convite que vai além da audição. Pede também um mergulho atento entre as variantes da música calcada no looping de riffs setentistas e texturas introspectivas. É dessa forma que, da primeira à última faixa, que Eye of the Sun soa. Pesado e com aquele ar esfumaçado do rock obscuro que a gente tanto gosta. Experimente. (Vinicius)

Not So Fast

Foto: Divulgação

Para quem gosta de: Lagwagon, Descendents e No Use For A Name
O lado melódico e enérgico do hardcore segue gerando bons frutos. O Not So Fast vem de São Paulo e segue o trajeto trilhado pela velocidade ouvida nos primeiros registros do NOFX e do Dead Fish com a melodia de nomes como Face to Face e No Use for A Name. Enquanto algumas bandas chegaram a renegar o estilo, o Not So Fast, formado por membros que também tocam no Não Há Mais Volta, surge meio como uma homenagem orgulhosa de como o hardcore melódico pode soar bem quando feito com o conhecimento de causa e amor, independentemente do que vão ou não pensar sobre isso. (Vinicius)

Church of Disgust

Foto: Divulgação

Para quem gosta de Autopsy, Entombed e Baphomet
O Church of Disgust nasceu em 2010, mas foi com o EP Consumed By Slow Putrefaction, de 2020, que a gente viu a banda ser mencionada em alguns bueiros do death metal. Não por acaso, tanto o EP quanto o mais recente disco deles, Weakest Is the Flesh, de 2022, são seus melhores registros. A devoção ao death metal old school é latente e sem qualquer cerimônia. Músicas pesadas, ótimos riffs e linhas de bateria de quem sabe o death metal que está fazendo. (Vinicius)